DA REDAÇÃO DA ADUFF
A Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas) precisa avançar mais no diálogo com setores que não estão organizados nela para que se apresente como alternativa real para o conjunto da classe trabalhadora. A afirmação é da professora Eblin Farage, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes (Andes-SN), feita durante a defesa da resolução apresentada pela entidade ao 3° Congresso da CSP-Conlutas. “Nós só seremos uma alternativa real para classe quando a gente for capaz de dialogar para além de nós mesmos”, disse.
Ao iniciar o seu discurso no amplo ginásio que abriga os principais debates do congresso, em Sumaré (SP), Eblin ressaltou a importância do congresso que acontece em Sumaré e reúne mais de dois mil militantes. “Temos que nos orgulhar por ter conseguido reunir tantos lutadores nesse congresso, para pensar em um plano de lutas que, de fato, represente a classe trabalhadora. Os ataques que vivemos no Brasil não são exclusivos nossos e fazem parte da crise internacional do capital. Uma crise estrutural do capitalismo que vem no mundo todo impondo contrarreformas nos estados nacionais, que retira o direito dos trabalhadores, que ataca as políticas públicas e sociais que atendem as populações mais pobres. A crise é internacional e faz-se necessária uma organização internacional da classe trabalhadora”, afirmou.
Democracia
A representante do Andes-SN também defendeu que se dê um passo além na democracia na organização sindical e no respeito à diversidade de opiniões. "A democracia não pode ser só discurso, tem que estar explícita nos nossos métodos organizativos, e nisso nós avaliamos que a nossa central tem que avançar, na consolidação de sua democracia interna e no acolhimento das diferentes posições que, ainda bem, estão no interior da central”, disse.
A docente alertou ainda para que não se permita que disputas internas afetem o funcionamento democrático da entidade. “Não podemos fazer de nossa central sindical um espaço de disputas entre os diferentes segmentos da classe trabalhadora organizados nessa central. Não existem aqueles que são mais ou menos trabalhadores: na lógica do capital, existe a classe trabalhadora e a burguesia. E nós aqui somos classe trabalhadora, do funcionalismo público ao movimento popular, do movimento popular aos operários, e nós temos que ter unidade, temos que nos identificar enquanto classe”, disse.
Reorganização
Ao defender a resolução do Andes-SN, Eblin destacou que, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, está em curso um processo de reorganização dos trabalhadores, sobre o qual, disse, a CSP-Conlutas tem um papel importante, mas que precisa ir além. “É necessário que a gente avance nesse processo, porque está sendo imposto para a classe trabalhadora não só um conjunto de retiradas de direitos, como também uma perspectiva cada vez mais moralizante da vida, imposta e sinalizada pelo recrudescimento do conservadorismo, não só no Brasil como em todo o mundo. E que no Brasil vai se expressar através de projetos como o Escola Sem Partido, que atinge a toda a população, quando atinge a escola-base, que atinge a nossos filhos, que atinge a toda a população quando cerceia a liberdade de expressão”, disse. “O conservadorismo se expressa na xenofobia, na homofobia, na LGBTfobia, na violência contra as mulheres, no racismo, e é necessário que a gente [atue] também nestas pautas e nessas lutas”, defendeu.
A professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense também mencionou o papel importante cumprido pela central na organização e no impulsionamento das grandes mobilizações do primeiro semestre do ano, “pressionando as centrais sindicais, mobilizando por baixo as categorias” para forçar a unidade e a convocação dos atos.
Mas disse que é preciso compreender que, após a tentativa frustrada da greve geral de 30 de junho, houve um “um refluxo na organização”. “Reconhecer isso não deve servir para nos imobilizar, mas, ao contrário, deve servir para que a gente se esforce em cada canto deste país, em cada categoria, em cada bairro para retomar o nível de mobilização do primeiro semestre e construir o projeto de reorganização da classe trabalhadora, que, na nossa opinião, passa pelo encontro nacional de lutadores e lutadoras, e construir uma nova greve geral ainda ano segundo semestre de 2017”, disse.
A dirigente do Andes-SN disse, ainda, que os trabalhadores não estão imóveis, paralisados diante da crise, porém a reação é “desigual” e “descompassada” e que é importante que a central se atente para isso. A construção da greve geral para enfrentar as reformas e a retirada de direitos, portanto, é necessária, urgente, mas não está dada. “Ela tem que ser construída através de um calendário de lutas”, disse.
DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho, enviado a Sumaré (SP)