Mar
13
2024

Docentes da UFF falam sobre os desafios da decisão do 42º Congresso do Andes-SN de construir a greve

Imprensa da Aduff conversou com docentes que integraram a delegação da seção sindical que foi ao congresso: construir o movimento na base e envolver a categoria é desafio dessa necessária construção para defender as pautas da categoria e da Educação Pública.

A construção da greve nacional da categoria nas instituições federais de ensino (Ifes) e da educação federal foi uma das principais deliberações do 42º Congresso do Andes-SN, que reuniu mais de 600 docentes em Fortaleza no final de fevereiro e início de março.

A Imprensa da Aduff conversou com  professoras que integraram a delegação da seção sindical para ouvir deles e delas a avaliação que fazem do desafio posto pela decisão, tomada por maioria de votos, na Plenária que deliberou sobre o plano de lutas do setor. 

Diz o texto da resolução aprovada: "Dar continuidade ao trabalho de unidade de ação com os(as) demais servidores(as) públicos(as) federais, visando fortalecer as Campanhas Salariais de 2024 e 2025, intensificando a mobilização de base, na construção de greve do Andes-SN e do setor da educação no primeiro semestre de 2024, tendo como horizonte a construção de uma greve unificada no funcionalismo público federal em 2024”. Esta é uma das resoluções do Plano de Lutas do Setor das Instituições Federais de Ensino, aprovada durante o 42º Congresso do Andes-SN.

Para Maria Cecília Castro, presidente da Aduff e professora do Colégio Universitário Geraldo Reis - Coluni/UFF, pensar na construção de uma greve para reivindicar reajuste salarial e melhores condições de trabalho é um desafio que precisa ser enfrentado. "Foi uma deliberação de congresso e é importante mobilizar a categoria, a base dos docentes da Aduff, para discutir o tema e seus desdobramentos", disse.

Neste sentido, a diretoria da Aduff-SSind já realizou a reunião com docentes que integram o Conselho de Representantes e, imediatamente, convocou assembleia geral da categoria para o dia 21 de março, quinta-feira - que deve apreciar o indicativo de greve e remeter o posicionamento aprovado para a reunião setorial do Andes-SN das instituições federais de ensino superior, que ocorrerá na mesma semana.

"É importante que todos os professores e as professoras estejam nessa construção, participando das rodadas de assembleias, levando essas devolutivas para a reunião do Setor das Federais", explica a presidente da Aduff-SSind.

Cecília lembra que outras categorias da educação federal também estão construindo a greve e já possuem deliberações sobre isso. A Plenária Nacional da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), realizada ao final de 2023, aprovou o indicativo de greve para o primeiro trimestre deste ano. O movimento grevista começou no dia 11 de março, com a paralisação por tempo indeterminado já iniciada no Rio (UFF, UniRio, Rural e UFRJ) e em outros estados. 

'Mobilizar e construir pela base'

Professora da Escola de Serviço Social da UFF, Eblin Farage considera a decisão do Congresso importante e acertada, mas que junto traz o desafio de mobilizar e construir a greve pelas bases. "Foi muito importante diante da ausência absoluta de negociação por parte do governo, pelo fato do governo reafirmar o reajuste zero, mas a greve não é decretada, ela tem que ser construída e ela tem que ser construída pelas bases. É o desafio que a gente vive nesse momento", resume Eblin, ex-presidente da Aduff e do Andes-Sindicato Nacional.

Para Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa – docente da UFF em Rio das Ostras, ex-dirigente da Aduff e do Andes-SN – a deliberação congressual é muito importante ao apontar para a perspectiva de mobilização e construção da greve do Andes-SN de forma unificada com outros setores de servidores públicos, especialmente no campo da Educação - a exemplo da Fasubra e do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe). 

"O congresso aponta em uma direção, diante de tudo o que a gente está vivendo... [tivemos] a terceira mesa de negociação e o governo continua insistindo em reajuste zero para esse ano, intensifica cada vez mais as nossas condições de trabalho precárias, com cortes no orçamento da Educação", desabafa Elizabeth.

Para ela, o desafio é mobilizar a base e realizar assembleias. "Porque apontamos [no Congresso] a greve, mas quem decide a greve é a base docente. Então como é que a gente vai fazer essa mobilização? E não falo somente da Aduff-SSind. E como é que a gente consegue construir essa greve, que nesse momento acho algo necessário, para que essa greve seja vitoriosa? Precisamos de grande mobilização, de grande adesão para a construção de uma greve forte, para que o governo realmente [venha] negociar conosco, sobre nossa carreira. Porque na realidade a nossa pauta não é só em busca de salários, tem muitas outras coisas: condições de trabalho, carreira docente, a luta contra a precarização, a luta pela recomposição do orçamento público para a Educação... É uma pauta bastante ampla, que inclui a revogação de todas essas contrarreformas. Precisamos estar juntos, pressionando o governo não só pelo reajuste, mas por todas essas pautas", complementou Elizabeth.

'Não conseguiremos nada sem ir às ruas'

A docente Adriana Penna, do Instituto de Educação Física da UFF e ex-dirigente da Aduff, disse estar com novo ânimo para participar desse processo de mobilização por conquistas para o setor. Assim como Maria Cecília e Elizabeth, ela também esteve no 42º Congresso do Andes-SN. "Vivemos um momento complicado de ataques às Universidades públicas, às nossas carreiras, que passa pelo desmonte e degradação do nosso plano de carreira até a precarização das nossas condições de trabalho, que têm sido degradadas, demolidas, destruídas a olhos vistos há muito tempo", considerou Adriana.

Para a professora, esse processo está relacionado ao desmonte de outras áreas do serviço público, buscando desqualificá-lo e descaracterizá-lo. "Isso vem acontecendo há muito tempo, mas havia no ar, sobretudo por setores da esquerda, [a expectativa] de que, com o novo governo que assumiu a partir de 2023, questões importantes de serviços públicos fossem ganhar uma outra dimensão. Não foi diferente esse pensamento no campo da Educação. O Andes-SN entendeu, de uma vez por todas, que é necessário que a gente não espere, não aguarde mais por nenhum tipo de negociação ou de nenhum tipo de aceno por parte do governo. Só vamos conseguir algo se nós formos para as ruas, se nós fizermos uma greve muito forte, uma greve que traga e se alinhe aos estudantes, aos técnicos-administrativos, a outros setores do serviço público", defendeu.

De acordo com Adriana Penna, é inadmissível que a categoria aceite as propostas do governo de 0% para 2024; 4,5% para 2025; e 4,5% para 2026. "Precisamos nos colocar na rua e construir uma greve muito forte", disse.

'Romper com o individualismo'

A professora Jaqueline Ventura, da faculdade de Educação da UFF, que participou pela primeira vez de um congresso nacional da categoria, também observa desafios indissociáveis da decisão de construir a greve. "Quem delibera a greve é a base. Então, o nosso maior desafio é justamente nos agregar, reverter essa dispersão em que nos encontramos, que foi agravada pela pandemia, pelo isolamento social, mas também pelo individualismo, pela desfiliação sindical, por aqueles que entraram mais recentes e nem se filiaram ainda [ao sindicato]", analisa.

Trabalhar para que a greve aconteça e seja capaz de pressionar o governo pelas justas e urgentes pautas da Educação, avalia, passa por atuar para reverter o movimento de individualização, de dispersão e fragmentação da categoria, buscando a força da unidade e das soluções coletivas. "O que significa ir para a Assembleia para discutir, seja para votar a favor ou contra a greve, mas ir para a Assembleia, discutir a nossa carreira. Compreender por que hoje temos tantas carreiras misturadas e por que cada um de nós tem um salário tão diferenciado. Por que uns se aposentam e para outros parece que o horizonte da aposentadoria não existe mais", diz. 

Para Jaqueline, tudo isso precisa ser debatido coletivamente. "A gente precisa sair do isolamento, de fato estar no nosso sindicato, ir às assembleias e se posicionar e conversar, discutir, debater. Esse é o grande desafio", diz. A construção da greve, independente dos resultados, acredita, pode proporcionar esse fôlego ao movimento docente. "Esse ânimo para a gente se juntar de novo, estar no sindicato e com o sindicato, juntos pela base, pela categoria", finaliza.

Da Redação da Aduff
Por Aline Pereira e Hélcio Lourenço Filho
Foto: Andes-SN