Abr
05
2023

França luta para manter direitos que precisam ser retomados no Brasil, diz pesquisadora da Previdência

Professora Sara Granemann, da UFRJ, falou à reportagem da Aduff sobre os protestos que acontecem na França

 

A professora Sara Granemann, em mesa de debate na Jornada de Mobilização sobre Aposentadoria, realizada pelo Andes-SN no fina de março A professora Sara Granemann, em mesa de debate na Jornada de Mobilização sobre Aposentadoria, realizada pelo Andes-SN no fina de março / Andes-SN

Da Redação da Aduff

A professora e pesquisadora Sara Granemann afirma que as mobilizações massivas que vêm ocorrendo na França são um exemplo de defesa de direitos previdenciários que precisam ser reconquistados no Brasil. 

Direitos retirados da classe trabalhadora brasileira, segundo ela, por sucessivas 'contrarreformas', em especial a realizada pelo governo de Jair Bolsonaro em 2019. A docente tem um consistente trabalho de pesquisa sobre o tema.

A seguir, mais uma parte da entrevista concedida por Sara Granemann ao jornalista Hélcio Duarte Filho, da equipe de comunicação da Aduff.

Uma luta pedagógica na França

"A luta na França hoje é uma pedagogia de como se mantém uma previdência pública exemplar para o mundo inteiro. A França de novo. A França da Comuna de Paris, a França de 1968, a França de 1995. A França que nessas lutas todas tem discutido como se protege o trabalhador e a trabalhadora, quando esses trabalhadores e trabalhadoras não têm as condições de vida para além do momento em que é uma força de trabalho ativa e saudável." 

Luta na França se contrapõe à falsa previdência privada

"O ranking dos 100 maiores fundos de pensão chamam a atenção por conta de dois países na Europa, que têm previdência pública de modo diferenciado em cada um deles. Eles têm fundos de pensão que, digamos assim, para economias de primeira grandeza, estão mal colocados nesse ranking. O maior fundo francês é o quadragésimo quarto desse top 100 dos fundos de pensão; e o da Alemanha é o quinquagésimo nono. Ou seja, eles estão em posições não compatíveis com a grandeza de suas economias. Não compatíveis do ponto de vista dos capitais. É diferente no Reino Unido, é diferente na Holanda, é diferente até na Noruega e na Dinamarca. Mas esses dois países, que têm políticas previdenciárias muito consolidadas, estão lutando para não destruírem a política previdenciária. Porque cada vez que a política previdenciária pública se torna mais difícil e mais inacessível, que é o que está em curso na França, mais crescem as medidas de investimento privado, chamados de previdências, que é uma falsa previdência como já temos dito por muitas vezes." 

França tenta impedir contrarreforma que já ocorreu no Brasil

"A França está lutando para que a sua previdência permaneça pública e compatível com o esforço da classe trabalhadora francesa de ter uma previdência a tempo de continuar a viver e viver com saúde, a tempo de não retroagir às injustiças com as mulheres. Porque essa contrarreforma em curso é também mais agressiva com as mulheres, como foram as contrarreformas realizadas no Brasil, em especial a última de Bolsonaro. E a França está em luta para impedir que medidas iguais à contrarreforma ocorrida no Brasil e em vários países do mundo aconteçam também na França."

A professora Sara Granemann, em mesa de debate na Jornada de Mobilização sobre Aposentadoria, realizada pelo Andes-SN no fina de março A professora Sara Granemann, em mesa de debate na Jornada de Mobilização sobre Aposentadoria, realizada pelo Andes-SN no fina de março / Andes-SN