Abr
05
2023

Entrevista com Sara Granemann: 'É preciso impedir que o direito a se aposentar seja quase um privilégio'

Em entrevista à reportagem da Aduff, a professora Sara Granemann, que se dedica a pesquisar o tema, fala sobre os desafios da luta pelo direito à aposentadoria

 

Da Redação da Aduff

É preciso impedir que o modo de produção capitalista, ao tentar reduzir o valor da força de trabalho, reduza o direito à aposentadoria quase a um privilégio, inacessível à imensa maioria dos trabalhadores e trabalhadoras. É o que defende a professora Sara Granemann, da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nesta entrevista à reportagem da Aduff.

Sara Granemann tem um trabalho dedicado a pesquisas e estudos sobre fundos de pensão e previdência social. Ela foi uma das palestrantes em debate ocorrido, em Brasília, durante a Jornada de Mobilização sobre Assuntos de Aposentadoria, promovida pelo Andes-SN nos dias 28 e 29 de março de 2023. A Aduff participou, sendo representada pelo professor João Claudino.

Os debates transcorridos no evento serão também abordados na próxima reunião do Grupo de Trabalho de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria da Aduff-SSind (GTSSA), no dia 18 de abril (terça), a partir das 15 horas, na sede da seção sindical, com possibilidade de participação por vídeo.

A seguir, trechos da entrevista concedida por Sara Granemann ao jornalista Hélcio Duarte Filho, da equipe de comunicação da Aduff.

Reduzir Previdência é reduzir o valor do trabalho

"É da natureza do modo de produção capitalista e da concorrência intracapitalista, e da sua relação com a classe trabalhadora, tentar reduzir cotidiana e continuamente o valor da força de trabalho. Reduzir aquilo que já foi chamado de trabalho indireto, por exemplo a previdência ou direitos sociais, como queiramos, é reduzir o valor da força de trabalho em um determinado país". 

Neoliberalismo: barbárie capitalista 

"Depois desse período que alguns chamaram de neoliberalismo - e que para mim já é o período da barbárie capitalista, da explicitação cada vez mais forte da barbárie capitalista - querem os grandes capitais, querem os padrões que não existam direitos. Se for possível voltar a relações assemelhadas de trabalho escravo, melhor ainda para o capital. Veja, essas situações ocorrem também com as pessoas imigradas da África e do Médio Oriente, também dos Bálcãs, na Europa, ocorre nos Estados Unidos também, com precaríssimas condições de trabalho e sem qualquer direito." 

Trabalho cada vez mais desprotegido 

"Então, o sonho dos capitais seria uma sociedade sem trabalhadores. Ocorre que isso não é possível porque são os trabalhadores que geram a riqueza para os capitais, na extração da mais-valia, que gera o lucro. Agora, a existência de trabalho cada vez mais desprotegido tem sido uma vitória momentânea dos capitais. Os grandes capitais conseguiram, nesse tempo que vai da segunda metade dos anos 70 até os dias de hoje, uma investida sobre o trabalho no centro e na periferia."

Classe trabalhadora é mais maltratada no Brasil

"Perdem mais quem tem um patamar civilizatório de direitos mais rebaixados do que aqueles que têm um patamar mais alto, demora mais a cortar tudo por lá - além de haver uma tradição de luta [mais forte] por direitos sociais [nestes países]. E a nossa formação social é tão absurdamente violenta. Não que os outros capitais em outros países não sejam [também violentos], mas aqui, por esses séculos todos de escravização, a classe trabalhadora é mais maltratada do que em outros lugares." 

Aposentar não pode ser um privilégio

"A luta tem de ser muito potencializada para que consigamos que o direito de se aposentar não seja quase um privilégio, mas que seja de fato uma perspectiva de vida para cada trabalhador e cada trabalhadora do nosso país, independente do contrato de trabalho ou da ausência dele, que milhões de trabalhadores sofrem."


Mais desta entrevista com Sara Granemann:

'França luta para manter direitos previdenciários que precisam ser retomados no Brasil' - clicar aqui

'Lutemos para reverter todas as medidas que privatizam e mercantilizam o direito à Previdência'