Após três anos acontecendo de forma virtual em decorrência da pandemia, a cerimônia de entrega da 35ª Medalha Chico Mendes de Resistência, organizada pelo Grupo Tortuna Nunca Mais do Rio de Janeiro, homenageou quem luta e lutou pelos direitos humanos e por um mundo com justiça social ontem e hoje.

A Associação dos Docentes da UFF- Seção Sindical do Andes-SN participou da cerimônia de entrega das medalhas, ocorrida na Capela Ecumênica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no Maracanã, na noite da segunda-feira, dia 3 de abril de 2023. A Aduff-SSind é uma das entidades que apoiam o evento e compôs a mesa da atividade.

"É uma atividade muito importante politicamente, como a descomemoração do Golpe de 64. É significativa a pluralidade dos homenageados, pessoas que foram lutadores políticos que tiveram importância de denunciar a violência do Estado brasileiro. É significativa da resistência, da luta política travada ontem e hoje", disse, à reportagem, Rafael Dias, professor da UFF em Volta Redonda e diretor da Aduff. Coube a Rafael entregar a medalha à liderança indígena Marilza da Silva, do Espírito Santo, presa pela Ditadura empresarial-militar que vigorou no Brasil de 1964 a 1985.

Também foram homenageados, em vida ou em memória, Walter de Souza Ribeiro (desaparecido durante a ditadura, in memórian); Sabino Alves (camponês desaparecido no Araguaia, in memórian); Belela Herrera (ativista dos direitos humanos uruguaia, que foi representada por uma neta); Coletiva Resistência Lésbica da Maré (acolhimento antimanicomial para lésbicas - cis e trans - de favelas); Milton Barbosa (fundador do Movimento Negro Unificado) e Maria das Graças Nacort (diretora da Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violência no Espírito Santo - AMFVV/ES).

A cerimônia é sempre realizada no dia 1º abril ou em data próxima, com o objetivo de relembrar os crimes da Ditadura. São homenageadas pessoas, movimentos sociais e entidades que se destacam nas lutas por direitos humanos, contra a repressão e todas as formas de violência institucionalizada.

A Aduff é uma da organizações parceiras do Grupo Tortura Nunca Mais na realização das homenagens. O diretor da seção sindical ressalta que isso reflete uma posição política da entidade, lembra que os docentes também foram perseguidos durante a Ditadura e destaca que as universidades são espaços relevantes para as lutas democráticas.

"É importante manter a memória deste período em que o Estado perseguiu os docentes e as universidades. É um perigo real, vivemos quatro anos de governo autoritário, que [outra vez] perseguiu as universidades. O perigo é real e é importante sempre lembrar o passado para que isso não se repita. É por isso que a Aduff há muito tempo apoia a Medalha Chico Mendes de Resistência, para manter viva esta história", disse, ressaltando que os golpistas de agora e de ontem precisam ser responsabilizados e não merecem ser anistiados pelos crimes cometidos.

Música e poesia

O evento começou e terminou ao som de músicos. Último a receber a homenagem, o músico e compositor Geraldo Azevedo encerrou a atividade cantando, na voz e no violão, quatro músicas, para deleite da plateia. Entre elas, "Canção de Despedida", que compôs em 1968 com Geraldo Vandré e por muitos anos esteve sob censura. "Amor, não chora, eu volto um dia/O rei velho e cansado já morria/ Perdido em seu reinado sem Maria/ Quando eu me despedia, no meu canto lhe dizia/Já vou embora, mas sei que vou voltar/Amor, não chora, se eu volto é pra ficar", diz trecho da composição.

Da Redação da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho (texto) e Luiz Fernando Nabuco (fotos)