Mai
20
2024

Greves vão à Quinta da Boa Vista e expõem a urgência de recompor o orçamento da Educação Federal

Docentes e o Comando Local de Greve da UFF participaram da atividade "Educação Federal em Greve na Praça", que buscou dialogar com a população e levar às ruas as pautas defendidas pelo movimento paredista.

 

As greves da Educação Federal no Rio foram à Quinta da Boa Vista, no domingo (19) As greves da Educação Federal no Rio foram à Quinta da Boa Vista, no domingo (19) / Fotos: Arquivo Pessoal - gentilmente cedida para publicação

Da Redação da Aduff

A greve da Educação Pública Federal foi à Quinta da Boa Vista, na manhã e início da tarde do domingo (19). A atividade no parque buscou dialogar com a população e defendeu na praça uma das pautas centrais do movimento paredista: a recomposição dos orçamentos das instituições federais de ensino. A UFF, em greve, participou.

"O governo não repassa verbas para que a universidade funcione condignamente. Nós estamos numa situação muito difícil", disse o professor Jorge Ricardo, da Faculdade de Educação da UFRJ, ao iniciar uma aula pública junto com outros docentes.

O professor disse que, nos últimos 8 anos, os orçamentos das instituições federais de ensino despencaram. "Outro dia estava num debate com a UniRio, eu sou da UFRJ, e estava havendo uma competição muito triste: qual das duas estava pior. Mas isso é geral, a universidade pública federal, a carreira EBTT, os colégios de aplicação, o Pedro II, nós todos estamos [com os orçamentos] defasados profundamente", afirmou. 

"Estão caindo tetos na cabeça das pessoas, pondo vidas em risco, será que a gente vai ter que esperar que alguém morra ou fique mutilado para haver reposição orçamentária? Temos que lutar para evitar isso. Eu trabalho há 35 anos na formação de professores e me sinto responsável também. Chega!", desabafou.

Além da aula pública, a "Educação Federal em Greve na Praça", denominação dada à atividade, teve oficina de jogos, exposição de projetos e pesquisas, música, dança e reiteradas declarações em defesa da educação pública e gratuita.

Museu

O evento transcorreu na área que dá acesso ao Museu Nacional, patrimônio científico e cultural do país, cujo incêndio ocorrido em outubro de 2018 expressa um dos aspectos trágicos dessa sequência de cortes orçamentários.

"Foi um belíssimo ato da Educação Pública na praça, na Quinta da Boa Vista, em frente às escadarias do Museu Nacional, um ato significativo, porque o museu pegou fogo ou foi queimado em 2018", disse, à reportagem, a professora Nazira Camely, da Faculdade de Economia da UFF e que integra o Comando Local de Greve da Aduff.

"A luta da Educação Pública é para que nunca mais nenhum museu seja queimado e que a universidade siga pública. Recursos para a gente recuperar os prédios abandonados, trocar a fiação para que não haja curto-circuito e queime. Para que a gente tenha elevador, internet, bolsas para os estudantes permanecerem na universidade. Que a gente tenha verba para o ensino, a pesquisa e a extensão", disse.

Ao se referir a uma das pautas centrais que o movimento grevista levou à atividade na Quinta da Boa Vista, Nazira defende mais iniciativas que procurem atrair a população para essa luta. "As universidades públicas, a Educação pública, são um patrimônio da sociedade e [esse diálogo] é fundamental e deve ser feito mais vezes", disse. "É importante de verdade", reforçou.

Professora licenciada da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a vereadora Luciana Boiteux participou do ato e também assinalou a gravidade do problema orçamentário. "Estive essa semana na Escola de Educação Física da UFRJ e fiquei muito impressionada. Não sei se vocês estão acompanhando o que está acontecendo, caiu literalmente um muro, e são vários outros locais da UFRJ e de outras universidades nessa situação", disse. "Então quando criticam a greve, dizendo que a gente está parando a universidade, eu respondo que a universidade vai ser parada pela falta de orçamento", alertou Luciana.

A técnica-administrativa Ivanilda Reis, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, observou que a defesa de recursos para o setor é uma pauta central. "Essa greve junto com os professores, com os estudantes, é uma luta em defesa da Educação pública e de qualidade. Essa é a nossa prioridade. Temos uma pauta que traz a reestruturação da carreira, recomposição salarial, mas o principal elemento que nos une é a luta por orçamento para a universidade", disse. 

Jogos e pensamento estratégico

O professor Jairo Selles, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, levou para a atividade uma oficina de jogos, que atraiu a atenção de crianças e de jovens estudantes. 

"Trouxe para a Quinta da Boa Vista, nesse evento neste dia bonito, jogos estratégicos de diferentes culturas, jogos africanos, orientais e também jogos de povos indígenas, da Amazônia e da Argentina", disse, observando ter levado também alguns jogos de montagem espacial que exigem pensamento estratégico. O objetivo, revela, é trabalhar com jogos que estimulem o pensamento estratégico, algo que, nos seus 50 anos de atuação no magistério, ainda vê como um aspecto falho na Educação no Brasil. 

O professor destacou ainda a importância da atividade e de tornar permanente essa busca de diálogo e interação das comunidades acadêmicas com a população. "Esse momento de interação, interdisciplinar inclusive, é muito bom. Falar com a população é um movimento muito importante e que temos que ampliar", defendeu.

Jairo elogiou o espaço público em que a atividade da greve transcorria e aproveitou para criticar a notícia que recebera de que a Prefeitura cogita privatizar o local. "É um parque maravilhoso que antes era residência de uma família só, o que me deixa chocado. E agora está servindo ao público, que é a sua função. [É demais] falar em privatizar também isso aqui, daqui a pouco vai querer privatizar até o céu", criticou.

Da Redação da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho

 

 

As greves da Educação Federal no Rio foram à Quinta da Boa Vista, no domingo (19) As greves da Educação Federal no Rio foram à Quinta da Boa Vista, no domingo (19) / Fotos: Arquivo Pessoal - gentilmente cedida para publicação

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