Nov
17
2014

Servidores de todo país se reúnem e apontam campanha conjunta em 2015

Servidores durante o seminário realizado pelo Fórum Nacional das
Entidades de Servidores Públicos Federais, em Brasília
foto: Andes-SN

Ao longo de três dias, servidores teceram as bases para superar as diferenças e construir uma campanha salarial com força para enfrentar os ataques já sinalizados pelo governo

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Os servidores públicos federais lançaram as bases para construir uma campanha salarial que una o conjunto da categoria em 2015. Foram três dias de muito debate, nos quais as divergências foram expostas e os consensos, perseguidos. O seminário promovido pelo Fórum Nacional das Entidades dos Servidores Públicos Federais reuniu, de sexta (14) a domingo (16), quase 300 trabalhadores dos mais diversos setores do funcionalismo e estados do país, representando dezenas de entidades, em um hotel relativamente isolado, o Bay Park, em Brasília.

Os participantes se debruçaram sobre o quadro político e econômico atual, as perspectivas para o ano que vem e, principalmente, a busca de caminhos que levem à unidade e a uma mobilização capazes de enfrentar um governo que já sinaliza tempos ainda mais difíceis para o setor nos próximos meses. A necessidade de unir forças e o cenário preocupante para a categoria em 2015, aliás, foram dois aspectos que se revelaram consensuais ao longo de todo o seminário organizado pelo fórum que agrega 28 entidades sindicais nacionais e três centrais – a CSP-Conlutas, a CUT e a CTB. Grupos de Trabalho e Plenária Dos grupos de discussão formados nos dois primeiros dias, formatou-se o relatório lido na plenária final e que deverá ser levado pelos sindicatos às bases das diversas categorias.

O retorno dessa consulta se dará numa plenária nacional a ser convocada pela coordenação do fórum para o final de janeiro ou início de fevereiro, quando poderá ser lançada a campanha salarial. A participação dos servidores na elaboração desse documento foi um dos pontos altos do encontro. Como destacou o servidor da saúde no Rio Cleber Barbosa, que participava pela primeira vez de uma atividade nacional do funcionalismo. “Achei ótimo, [a nossa luta] fica bem mais forte sendo feita em bloco”, disse à reportagem, ressaltando o destaque dado nos debates às ameaças das privatizações.

Abre o documento construído a partir dos grupos uma lista com sete itens centrais para pauta de reivindicações, sobre os quais se obteve consenso: a) Política Salarial com correção das distorções – reposição das perdas inflacionárias (índice linear); b) Data-base em 1º de maio; c) Direito de negociação coletiva (convenção 151 OIT); d) Paridade salarial entre ativos e aposentados; e) Retirada dos projetos do Congresso Nacional que atacam os direitos dos servidores; f) Aprovação imediata dos projetos de interesse dos servidores; g) Isonomia dos benefícios (auxílio-alimentação e plano de saúde).

O relatório, no entanto, vai além. Pontua outras reivindicações, sinaliza datas para atividades da campanha salarial e propõe períodos para início de uma possível paralisação unificada por tempo indeterminado. A perspectiva de que a preparação da greve tende a ser inevitável, a não ser que o governo Dilma Rousseff (PT) surpreenda e responda favoravelmente à pauta, permeou boa parte dos debates. A paralisação de dois anos atrás, a maior dos últimos 12 anos e organizada por esse mesmo fórum, foi referência frequente. “Que [essa unidade] tenha o mesmo norte de 2012, que aponte para o levante dos servidores públicos federais”, disse, já na abertura do evento, a servidora Lídia de Jesus, dirigente da Fenasps, a federação nacional dos trabalhadores da saúde, previdência e trabalho, entidade que levou a maior delegação ao seminário.

Avaliações

As avaliações ao final do encontro foram, em graus variados, positivas. A própria realização do seminário em si foi reivindicada – há muitos anos esses diversos setores do funcionalismo não se reúnem para debater as suas realidades de forma mais profunda e com tamanha participação de sindicatos de base. “Quero ressaltar a vitória que está sendo este seminário. Tenho certeza de que vamos sair daqui com uma perspectiva de construir a campanha salarial”, disse Paulo Rizzo, presidente do Andes-SN, o sindicato nacional dos docentes das instituições públicas de ensino superior. “O processo de construção da unidade exige o esforço de todos. E o que vai garantir a unidade é produzirmos uma pauta comum que atenda a todos, a questão do consenso não é secundária”, afirmou.

O consenso a que o dirigente do Andes-SN se refere é um dos aspectos mais delicados dessa aliança que se busca costurar. Há diferenças significativas de posições entre as direções das entidades que integram o Fórum em relação à situação política do país. Das três centrais sindicais, duas defenderam a reeleição da presidente Dilma – a CUT e a CTB. E fazem leitura do quadro político geral bem distinta da CSP-Conlutas e de outros setores da esquerda que participaram do seminário. É por conta dessas diferenças, aliás, que o Fórum vem atuando nos últimos anos por consenso entre as entidades sindicais. Nos grupos e no debate final, a questão da retomada das plenárias de base foi pontuada. “Dentro [de um contexto em que] as plenárias deixaram de existir, este evento aqui é um marco para nós servidores públicos federais”, disse o servidor José Araújo, da sessão sindical em Campina Grande (PB) do Sinasefe, o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica.

Direito de greve

Dirigente nacional da CUT e da Condsef, confederação que reúne parte do funcionalismo dos ministérios e autarquias, Pedro Armengol disse ter ficado feliz com o “material produzido pelo seminário” e defendeu o respeito às diferenças para construir a unidade, confirmando algo que já havia mencionado na abertura do encontro. “Esse espaço importante reúne esse conjunto de entidades com tantas diferenças, mas temos algo que nos une: a pauta de reivindicações dos servidores públicos federais, o consenso da dificuldade que todos veem para 2015, que será de muita luta e enfrentamento”, disse.

O coordenador da CSP-Conlutas e servidor do IBGE Paulo Barela disse que “independente das posições políticas” de cada setor, foi possível fazer um fórum que avança na construção de uma luta conjunta. “O que nós estamos fazendo neste seminário é construir pontes para nossa unidade”, resumiu, assinalando ainda que as bases para isso devem ficar mais definidas a partir da plenária no início do ano.

A falta de definições sobre questões como datas de reuniões e encaminhamentos práticos para pôr a campanha em curso preocupa o servidor Paulo Terra, da direção da Aduff SSind, que participou do encontro. “[O problema] é que já estamos sofrendo ataques”, disse à reportagem, dentre eles o avanço no Congresso do projeto que restringe o direito de greve. Nem por isso, porém, deixou de avaliar o resultado do seminário como muito positivo ao tecer o caminho de uma unidade tão necessária. “É a oportunidade de encontrar outros servidores para discutir pautas comuns”, disse, assinalando um aspecto que há anos não acontecia na luta sindical do funcionalismo.

Notícias da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho
foto: Andes-SN