Ago
27
2014

Pressionado em reunião do CUV, reitor autoriza visita da Defesa Civil no Instituto de Biologia

O comparecimento massivo de estudantes, técnicos e professores na reunião do Conselho Universitário, na manhã desta quarta-feira, dia 27, para protestar contra a situação do prédio do Instituto de Biologia e por melhores condições de trabalho e estudo na UFF, surtiu efeito. Pressionado, o reitor Roberto Salles atendeu a uma das reivindicações  dos estudantes de Biologia: receber a visita da Defesa Civil na Universidade para verificar as condições do prédio do IB. Ele também se comprometeu a sair da Reitoria e fazer seus despachos no Instituto. Presente na reunião, o engenheiro chefe da Superintendência de Arquitetura e Engenharia da UFF, Luiz Augusto Cury Vasconcellos, disse que respeita e entende a posição dos alunos, mas voltou a afirmar que “a situação está sob controle”.

Estudantes da graduação e da pós do curso de Biologia fizeram intervenções na reunião mostrando receio em retornar ao prédio do Instituto, mesmo que o terceiro  parecer da Superintendência de Arquitetura e Engenharia da UFF afirme que “não há risco iminente de colapso estrutural da edificação”. Alunos relatam que um funcionário da Superintendência chegou a afirmar que “se a janela (do IB) trincar, junta todo mundo e corre”. O parecer da defesa civil serviria como uma segunda opinião especializada, uma forma de assegurar que não há perigo em frequentar as dependências do prédio liberadas para uso, reabertas depois da retirada de sobrepeso dos laboratórios, que estariam comprometendo as lajes da edificação. Até a Defesa Civil atestar a segurança do prédio, os estudantes afirmam que não entrarão no local.

O corpo discente também reivindicou urgência na finalização do prédio novo do IB, que deveria ter sido entregue desde 2011. Construído com recursos do Reuni, projeto do Governo Federal para expansão do ensino superior, o edifício novo, ao contrário do atual, teria a estrutura necessário para abrigar os laboratórios do curso e os equipamentos necessários para a realização de pesquisa na área, que chegam a pesar 500KG. Vale ressaltar que o prédio que atualmente abriga o IB, interditado pela direção do Instituto na semana passada, foi projetado apenas para funcionar como sala de aula e não tem a estrutura necessária para acompanhar a modernização do curso. No CUV, Roberto Salles voltou a afirmar que o novo prazo para o término das obras é dezembro deste ano. Até lá, estudantes de graduação e da pós exigem condições mínimas para realização de pesquisa e reiteram que não trabalharão em containers.

Presente na reunião do Conselho Universitário, a presidente da ADUFF, Renata Vereza, avaliou que esse é mais um capítulo de um processo mais amplo de escolhas erradas e de uma expansão desordenada da Universidade. “A gente tem que encarar de frente que tudo que falávamos do Reuni e da expansão da Universidade está pulando na nossa cara. Quando a gente chega nas assembleias de professores e fala que a expansão foi feita de maneira mal planejada, há colegas que dizem ‘não, está tudo bem, está tudo uma maravilha’. Agora o prédio está quase caindo, o bloco P no Gragoatá foi inaugurado esses dias e parte do teto já foi abaixo, em Rio da Ostras o prédio não tem tubulação de esgoto e não pode funcionar, em Campos os professores dão aulas em containers. A Biologia é um caso limite, mas a gente tem que refletir seriamente sobre o Reuni e sobre a forma de expansão que foi feita na Universidade. Nós temos uma série de problemas que estão acontecendo e que prejudicam toda a comunidade acadêmica”, ressaltou.

Renata também criticou o discurso que atribui aos professores de Biologia a culpa pelo sobrepeso no prédio do Instituto. “A Universidade me diz que eu tenho que fazer pesquisa, eu escrevo o projeto, arranjo o equipamento, boto em algum lugar e agora falam que o prédio está caindo por culpa dos professores?”, questionou.

Além da questão do prédio do Instituto de Biologia, mais duas pautas se destacaram na reunião do Conselho Universitário. A expulsão de cinco estudantes da moradia estudantil de Niterói e a criminalização do estudante do curso de Sociologia, Rômulo Abreu, que responde por um processo na Justiça Federal e por um processo interno na UFF por ter participado de uma ocupação, que reivindicava o direito a um espaço físico para o diretório acadêmico do curso.

Moradia estudantil

Na reunião do Conselho Universitário, os estudantes reivindicaram a reformulação do Estatuto da moradia estudantil e a anulação do artigo 31 do documento, que determina que estudantes que reprovaram em 50% das disciplinas serão expulsos da moradia estudantil da UFF. Eles também exigiram a revogação das cinco expulsões em curso, argumentando que a política atual trata a moradia estudantil como mérito e não como direito, desconsiderando as dificuldades que os estudantes de baixa renda enfrentam para estudar na UFF. De acordo com a estudante de Pedagogia, Camila Coutinho, dos 5 estudantes que correm o risco de serem expulsos, três são negros e um é indígena. Todos trabalham e estudam. Em resposta, Roberto Salles se comprometeu a criar uma comissão para reformular o Estatuto  - com dois integrantes estudantis indicados pelo DCE -  e pediu aos estudantes ameaçados de expulsão que ainda não entraram com recurso, que o façam.

Criminalização da luta dos estudantes

Em maio deste ano, os estudantes de Sociologia da UFF que mantinham uma ocupação para reivindicar o direito a um espaço físico para o diretório acadêmico do curso se depararam com um processo de Reintegração de Posse que levava ao fim a ocupação e tornava réu um estudante. Rômulo Abreu, militante negro e LGBT, membro da atual gestão do DA, foi o único a ter seu nome judicializado. O estudante citado que respondia a um processo na Justiça Federal foi notificado no início de agosto e descobriu que também era réu em um processo interno na UFF. Para os estudantes, a perseguição sofrida pelo militante, que se condenado, pode ser desligado da Universidade e as seguidas negações de um espaço físico para a entidade, que culminou na referida ocupação, são claros exemplos de tentativas de freamento do movimento estudantil. Na reunião do Conselho Universitário, Rômulo se defendeu e pediu o arquivamento do processo interno. O reitor prometeu montar uma Comissão para estudar o caso do estudante.