Jan
04
2024

Parecer preconceituoso revela desigualdade de gêneros entre pesquisadores do CNPq

Em nota, Andes-SN afirma que gestação e maternidade não devem ser consideradas entraves à carreira das mulheres 

A desigualdade de gêneros é uma realidade também no ambiente acadêmico, como revelou a situação envolvendo a professora e pesquisadora Maria Caramez Carlotto, da Universidade Federal do ABC, ao ter negada a concessão de bolsa de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a partir de uma avaliação preconceituosa, conforme que veio à tona ao final de 2023. O parecerista, que não é indentificado nesses processos de submissão do dito órgão de fomento, a reprovou por não ter pós-doutorado no exterior e por ter ficado grávida.

A negativa foi revelada pela docente no X (ex-twitter), que escreveu: "Resultado preliminar da bolsa produtividade @CNPq_Oficial reconhece minha carreira, mas aponta que não fiz pós-doc fora preliminar da bolsa produtividade [....] 'provavelmente suas gestações atrapalharam essas iniciativas, o que poderá ser compensado no futuro. 'Vontade de chorar".  

O assunto ganhou destaque nas redes sociais e na imprensa comercial. O CNPq divulgou nota de esclarecimento e admitiu o erro, ao afirmar que o parecerista foi preconceituoso e que o acontecimento será enviado à Diretoria Executiva do CNPq. "A agência tem em suas normas, inclusive extensões de períodos de bolsa e de avaliação em decorrência de maternidade", afirmou a agência de fomento à pesquisa, ao alegar que o parecer é incompatível com os princípios do CNPq. 

Ainda de acordo com o órgão, a entidade "busca a inclusão considerando dimensões de gênero, étnico-raciais e assimetrias regionais e não tolera atitudes que expressem preconceitos de qualquer natureza, sejam eles de gênero, raça, orientação sexual, religião ou credo político".  

O caso protagonizado pela docente Maria Caramez Carlotto evidenciou que entre 2004 e 2023, apenas 35,6% (5.642) das mulheres alcançam a Bolsa de Produtividade do CNPq, contra 64,4% (10.208) dos homens, segundo dados publicados pelo jornal Folha de S. Paulo em 3 de janeiro. Em um universo de 109.548 docentes, apenas 16.108 fazem jus à bolsa de produtividade do CNPq, considerada um incentivo para aqueles que alcançaram as metas estabelecidas pelo órgão, a exemplo da publicação de uma determinada quantidade de artigos para revistas conceituadas. 

No Instagram, a antropóloga Debora Diniz, da Universidade de Brasília, tem reunido relatos de diversas pesquisadoras do país que tiveram a vida acadêmica afetada por machismo. Recebe cópias de pareceres semelhantes ao enviado à docente Maria Caramez pelo email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. e expoe alguns fatos no perfil @debora_d_diniz

Andes-SN se solidariza às mulheres pesquisadoras e mães

A Diretoria do Andes-SN publicou nota em solidariedade à Maria Caramez Carlotto e a todas as mães docentes e pesquisadoras brasileiras. De acordo com o Sindicato Nacional,  "é inadmissível avaliar o desempenho profissional de uma mulher com base em critérios sexistas, como a conjectura de que gestações possam ser um obstáculo para suas aspirações acadêmicas. Tal argumento reforça estereótipos ultrapassados que prejudicam o avanço da igualdade de gênero no ambiente acadêmico". 

Para o Andes-SN, gestação e maternidade não devem ser consideradas entraves à carreira das mulheres. "O mérito acadêmico deveria ser avaliado com critérios objetivos e imparciais, levando em consideração a qualidade acadêmica e o contexto em que se desenvolve o trabalho, sem pautar-se apenas pela produtividade acadêmica consolidada por critérios meramente quantitativos, ou pelo perfil masculino dominante na Ciência mundial. Vale ressaltar que a cultura do cuidado recai sobre as mulheres, inclusive as pesquisadoras que, mesmo não sendo mães, assumem o cuidado de parentes e de pessoas próximas."

Da Redação da Aduff
Por Aline Pereira
Imagem: Print página Plataforma Lattes/CNPq

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