Jul
13
2016

Homenagem a Diego marca início do ato da frente contra ‘mordaça’ nas escolas

Ódio que matou estudante negro e gay na UFRJ é o mesmo que alimenta projetos como ‘Escola Sem Partido’, afirmam manifestantes no lançamento da frente nacional

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho
Foto: Início do ato no Ifcs - Zulmair Rocha

O ato de lançamento da Frente Nacional Contra a Escola Sem Partido começou, às 10h19min desta quarta-feira (13), com um minuto de silêncio em homenagem ao estudante morto no campus Fundão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Queremos começar com um fato lamentável ocorrido nesta universidade há poucos dias, [quando] o estudante Diego Vieira Machado, negro, gay, nortista e pobre foi assassinado nas dependências do Fundão", disse o servidor Fabiano, da direção nacional do Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica).

Pouco antes de solicitar um minuto de silêncio, o servidor disse que o que ocorrera na UFRJ – e que defendeu que seja investigado e os responsáveis punidos – é movido por um processo social marcado pelo mesmo ódio e preconceito presentes no projeto ‘Escola Sem Partido’. O estudante de Letras foi encontrado morto próximo ao alojamento estudantil do Fundão. Ele tinha 30 anos de idade.

O lançamento da Frente Nacional Contra o Escola Sem Partido reúne dezenas de entidades e lota o salão nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ (Ifcs), no Largo de São Francisco de Paula. Quase 300 pessoas participam do ato e lotam o salão nobre, que ficou pequeno para abrigar o evento. A Aduff-SSind e o Sindicato Nacional dos Docentes (Andes-SN) estão presentes.

O que é o Escola Sem Partido

O 'Escola Sem Partido', agora convertido em associação, é um movimento de perfil conservador que tenta coibir a atuação de professores em sala de aula. O teor do que defende serviu de base para projetos apresentados no Congresso Nacional, em pelo menos 12 assembleias legislativas e em número ainda não contabilizado de câmaras municipais, entre elas a do Rio de Janeiro.

Quase todos os projetos reproduzem o texto do programa ‘Escola Sem Partido’, idealizado pelo advogado Miguel Nagib. Os projetos dizem defender a "neutralidade do ensino", por meio da proibição da "doutrinação ideológica" nas escolas. Mas as entidades e educadores que o contestam alertam que por trás dessa neutralidade está a tentativa de cercear a atividade pedagógica e impor a mordaça ao ato de lecionar.

As entidades que lançam a frente divulgaram um manifesto no qual explicam algumas das razões do movimento. "Defender a escola sem partido é defender a escola com apenas um partido. Partido daqueles que são contra uma educação laica e contra o debate sobre gênero, fortalecendo assim a cultura do estupro e a LGBTTIfobia presente em nosso país. Defendemos a escola crítica sim, a educação libertadora, a pluralidade de ideias e a liberdade de expressão e pensamento. Historicamente, as classes dominantes do Brasil em seus sucessivos governos e em todas as esferas têm sucateado e precarizado a educação. Sequer a escola pública de qualidade em suas acepções fundamentalmente liberais é garantida à população, principalmente aos seus segmentos mais pauperizados", diz trecho do documento, assinado pela Adff-SSind.