Jul
01
2016

Mulheres protestam contra a cultura do estupro e pelo direito à cidade

Estudantes da UFF criaram grupo no Whatsapp “Vamos Juntas” para evitar caminhar nas ruas sozinhas

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco/ Aduff-SSind

“Queremos ver mudança; essas agressões não podem ser apenas mais uma notícia no jornal. Vamos mostrar que temos voz”, disse Ana Júlia Azevedo à reportagem da Aduff-SSind na tarde dessa quinta (30). Ela é uma das mulheres que participaram do ato auto-organizado “(Ingá)jadas”, que reuniu principalmente estudantes da Universidade Federal Fluminense para protestar contra a cultura do estupro e reivindicar o que chamam de direito à cidade. Elas partiram do prédio da Faculdade de Direito da UFF, na rua Presidente Pedreira, empunhando faixas e proferindo palavras de ordem contra o machismo.

Percorreram as principais ruas do bairro, até chegarem à Praça da Cantareira. Exigiam segurança e o livre direito de ir e vir sem medo de serem agredidas.De acordo com Ana Júlia, estudante do primeiro período do curso de Turismo na UFF, a manifestação é uma resposta ao aumento da violência, principalmente contra mulheres, nas áreas próximas à universidade. Recentemente, houve novos relatos de tentativas de estupro, de assédio e de assalto às alunas da instituição, recentemente noticiados pelos jornais “O Globo” e “O Fluminense” e pela “TV Bandeirantes”.

As reportagens apontam várias ruas do Ingá como as mais perigosas no trajeto aos campi do Valonguinho, do Gragoatá e nos cursos localizados em prédios no entorno da universidade, a exemplo dos de Direito e de Comunicação Social.

Para se ter uma ideia, ainda durante a concentração para o ato um grupo de alunas e alunos do curso de Direito na UFF foi assaltado, quando, juntos, tentavam chegar à instituição. Já durante a atividade contra a insegurança, um homem roubou o celular de uma senhora que estava no ponto do ônibus, observando o ato. Foi preso em flagrante pela Guarda Municipal e encaminhado à delegacia.

Segundo as estudantes, os casos de violência estão cada vez mais comuns, independentemente do turno. Isabelle Inhaquite, graduanda em Direito, conta que uma colega foi agarrada pelas costas enquanto caminhava próxima a um supermercado na rua Tiradentes, por volta das 9h da manhã do último dia 24. Ela conseguiu se desvencilhar do agressor, jogando a própria bolsa nele.

Outra estudante foi encarada de forma insistente por um homem que a seguiu pela rua Visconde de Moraes. “Jamais imaginamos passar por isso. Criamos no Whatsapp um grupo chamado “Vamos Juntas” para não andarmos mais sozinhas. Porém, pelo visto, depois dos assaltos aos colegas hoje, vimos que nem mesmo assim conseguimos ter segurança”, problematiza a jovem.

Muitas meninas têm buscado as redes sociais para denunciar esse tipo de assédio no entorno da UFF, disse Yasmin Radef, do 9º período em Direito, que também integra o coletivo “Cirandeiras”. Ela defende o direito e ir e vir em segurança e diz ser inconcebível que as pessoas tenham medo de se deslocar. “Como mulheres e feministas, pleiteamos o direito à cidade; temos que viver. Ninguém tem que ter aia o tempo inteiro”, afirmou.

Transporte não ajuda

Para Heloisa Pacheco, do Centro Acadêmico do Direito na UFF, a organização das mulheres é muito importante para que todas percebam que a falta de segurança não é um problema privado. Ela afirma que, sobretudo após às 22h, quando muitas aulas terminam, o medo se torna maior, pois falta iluminação no trajeto entre as unidades da UFF e os pontos de ônibus.

Além disso, diz que não é possível contar com o transporte universitário (Busuff), pois o horário é incerto. “Já ficamos 40 minutos em pé sem saber se o ônibus chegaria ou não”, diz. “É importante reivindicarmos mudanças, porque a cidade é nossa. Devemos ocupá-la”, afirma, clamando por unidade na luta. “Esse problema não atinge só ao Direito, mas é uma questão de segurança pública que afeta a todos. A sociedade tem que nos ouvir”, complementa.

A reportagem da Aduff-SSind entrou em contato, por e-mail, com a Reitoria, a vice-Reitoria e a pró-Reitoria de assuntos estudantis da Universidade Federal Fluminense para saber o que a administração central tem feito em relação à segurança nos campi da instituição e, ainda, para obter uma declaração dos gestores acerca dos recentes casos de violência contra estudantes no percurso para a universidade. A administração central, no entanto, ainda não se pronunciou sobre o assunto, que vinha ganhando visibilidade a partir de relatos de estudantes nas redes sociais e que, agora, começa a ganhar as ruas da cidade com a atuação coletiva das mulheres.