Jun
28
2016

Mulheres fazem ato nessa quinta (30) contra a cultura do estupro em Niterói

Estudantes criticam violência no entorno da UFF; reitoria não se pronuncia

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco – detalhe da passeata “Por todas elas”, que aconteceu no Centro do Rio, em junho desse ano

“É horrível andar na rua. Não estamos tranquilas e a sensação é de impotência”, diz Amanda Rezende, estudante do 7º período em Serviço Social da UFF. Ela conta que, no último dia 14 de junho, por volta das 20h, quando saia do campus do Gragoatá, um homem a seguiu com um pedaço de pau até a rua Passo da Pátria. “Andei rápido, até alcançar um rapaz. Foi preciso que eu ficasse ao lado de uma pessoa que eu não conhecia, de outro homem, para que eu fosse respeitada como mulher”, disse a estudante. “Antes, o perigo era ser assaltada; hoje, temos medo que nossos corpos sejam violados, que sejamos tocadas sem nosso consentimento”, complementou.

Ela é uma das muitas estudantes da UFF que têm manifestado medo de caminhar sozinhas no trajeto para a universidade, principalmente no momento em que há relatos de novas tentativas de estupro, de assédio e de assalto às alunas da instituição, recentemente noticiados pelos jornais “O Globo” e “O Fluminense”. As reportagens apontam as ruas Tiradentes, Lara Vilela, Visconde de Moraes e José Bonifácio como as mais perigosas no trajeto à instituição multicampi – Valonguinho, Gragoatá e Praia Vermelha são algumas das localidades da universidade em Niterói, que ainda oferece cursos no Ingá, no Centro e em Santa Rosa, além de manter a sede administrativa em Icaraí. Em todos os bairros, a falta de segurança no município é preocupação constante. No entanto, a perseguição diurna a uma estudante do curso de Direito, no início desse mês, somada a outras agressões a alunas da instituição no caminho para a UFF mobilizou a comunidade para o problema que se torna ainda mais preocupante no Ingá.

“Conheço muitas meninas que também moram no bairro e que, assim como eu, estão com medo de sair às ruas. Andam em grupos e procuram pegar ônibus até mesmo para se locomover em distâncias curtas”, diz Amanda.

Esse é o caso de Nathália Pompeu, do segundo período em Desenho Industrial, que adota mesma estratégia para se proteger. De acordo com a discente, que mora na região oceânica, foi preciso alterar seus hábitos para garantir maior segurança no trajeto para a universidade. Quando ia para a faculdade, ela descia do ônibus no Ingá e seguia a pé para o campus da Praia Vermelha. Hoje, evita andar sozinha e está sempre na companhia das amigas.

“Procuro pegar ônibus mesmo que seja para descer em um ponto depois, principalmente porque as ruas, na saída da Praia Vermelha, são escuras. Não vou mais a pé”, afirma Nathália. “Na faculdade, não passaram nada para a gente. O ônibus da instituição, o BusUff, demora muito para passar. Não é sempre que tenho como pegá-lo, porque, apesar de ter um horário fixo, ele demora muito. Não temos como prever e já esperei por ele mais de uma hora”, diz.

Nathalia afirma ainda que, na saída da universidade, dois colegas de curso a acompanharam, juntamente com uma amiga, a praça do Gragoatá para que pegassem um ônibus. Tiveram medo de se deslocar do campus da UFF na Praia Vermelha. “Estamos com medo e não vimos, até o momento, nenhum pronunciamento por parte da reitoria sobre o assunto”, revela.

A reportagem da Aduff-SSind entrou em contato, por e-mail, com a reitoria, a vice-reitoria e a pró-reitoria de assuntos estudantis da Universidade Federal Fluminense para saber o que a administração central tem feito em relação à segurança nos campi da instituição e, ainda, para obter uma declaração dos gestores acerca dos recentes casos de violência contra estudantes no trajeto para a universidade. A administração central, no entanto, ainda não se pronunciou sobre o assunto, abordado também em reportagens da TV Bandeirantes, exibidas na última semana, e que vem ganhando visibilidade a partir de relatos de estudantes nas redes sociais.

Reação: ato em defesa das mulheres acontece na quinta-feira, 30

Na quinta-feira (30), acontece o ato “(Ingá)jadas” na Cantareira, organizado por mulheres da cidade, inclusive estudantes da UFF, com o objetivo de denunciar a cultura do estupro e dar visibilidade à falta de segurança na cidade. A concentração é às 16h30, na Rua Presidente Pedreira, em frente à Faculdade de Direito. O grupo seguirá pelas ruas Nilo Peçanha, Tiradentes, José Bonifácio e terminará a passeata na Praça. Visite a página do evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/617694491715665/

Uma das idealizadoras da manifestação conta que a iniciativa surgiu após a repercussão dos novos casos envolvendo estudantes da UFF.  “Precisamos cada vez mais ocupar espaços da rua, das redes sociais e mostrar que não vamos nos silenciar diante de situações como essas”, conta Ana Miramar, que integra o coletivo “Mulherada” – criado para pensar em ações em defesa das mulheres e que já organizou o ato “Mural pelo fim da cultura do estupro”, em maio desse ano, reunindo mais de 300 jovens que afixaram cartazes no Campo de São Bento, com palavras de ordem contra a violência de gênero.

“Nos comunicamos com outros coletivos, como as "Cirandeiras", e também com alunas da UFF, Centros Acadêmicos, Diretórios Acadêmicos e formamos um grande grupo de luta”, revela Ana.

De acordo com ela, às 19h dessa terça (28), acontece na Arquitetura (campus da UFF na Praia Vermelha) a reunião preparatória da passeata da próxima quinta (30). Às 20h, na Faculdade de Direito (Rua Presidente Pedreira, Ingá), haverá uma roda de conversa sobre a cultura do estupro, preparada pelo “Cirandeiras - Coletivo de Mulheres do Direito da UFF – Niterói”. “A importância da mobilização é levarmos e motivarmos as mulheres a irem pras ruas e lutar”, diz Ana.