Jun
02
2016

Ato "Por todas elas" protesta contra machismo e cultura do estupro, no Rio

Na noite de ontem (01), milhares de mulheres foram as ruas, em todo o Brasil, pelo fim do machismo e da violência contra a mulher

"Todas contra a cultura do estupro! A culpa nunca é da vítima; não é não!" foi o mote do ato que levou entre oito mil e 10 mil pessoas às ruas do centro do Rio de Janeiro, na noite desta terça-feira (01). A manifestação convocada e construída por mulheres foi uma resposta ao caso da adolescente de 16 anos estuprada por 33 anos homens, na cidade do Rio. Os agressores gravaram e divulgaram um vídeo com imagens do estupro e publicaram nas redes sociais; o caso repercutiu internacionalmente.

Dados oficiais, provavelmente subnotificados, indicam que uma mulher é estuprada no Brasil a cada 11 minutos. Nas ruas, elas deixaram o recado: "a culpa nunca é da vítima". Denunciaram o machismo como principal culpado pela violência contra as mulheres e criticaram a tentativa de aprovação no Congresso Nacional de projetos de leis que trazem retrocesso à luta das mulheres, como o PL 4330, de autoria do ex-presidente da Câmara dos Deputados e réu da Lava Jato, Eduardo Cunha (PMDB), que tenta complicar o acesso ao aborto em casos de estupro, um dos dois casos em que o aborto é legal no país ( o outro é em caso de risco à gestante).

No ato, as manifestantes se posicionaram contra a criminalização da interrupção da gravidez no país e pela legalização irrestrita do aborto. "O corpo é nosso, é nossa escolha, é pela vida das mulheres", cantavam. Apesar da criminalização, cerca de 1 milhão de abortos são realizados no Brasil por ano, isto é, a proibição não impede a prática. Ao mesmo tempo, o abortamento clandestino é a quinta causa da morte materna no Brasil, de acordo com relatório do próprio governo brasileiro. Estatísticas apontam que a cada dois dias, uma brasileira (pobre) morre por aborto inseguro no país.

"Quem nunca exagera numa discussão?"

Além de Cunha, o pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro e braço direito do atual prefeito Eduardo Paes (PMDB), Pedro Paulo Carvalho (PMDB) também foi criticado pelas ruas. A palavra de ordem "ô Pedro Paulo, como é que é? Quer ser prefeito e espanca a mulher!" foi entoada diversas vezes na manifestação que saiu da Candelária e terminou na Central do Brasil."Quem não exagera numa discussão?", declarou Pedro Paulo, em outubro de 2015, ao assumir as agressões à ex-mulher, Alexandra Marcondes. À polícia Marcondes afirmou ter sido vítima de socos e chutes por parte do então marido. Um laudo do IML apontou que um dente seu fora quebrado.

"Fora, Temer!"

O também pmdbdista e agora presidente interino do Brasil, Michel Temer, foi outro que não escapou de críticas. Após anunciar Ministério sem a presença de nenhuma mulher - o primeiro desde Geisel (1974-1979, durante a ditadura empresarial militar brasileira) -, Temer nomeou a ex-deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP) - da bancada evangélica do Congresso - para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Pelaes não concorda com a descriminalização do aborto e já se manifestou contra o procedimento inclusive em casos de estupro, permitido por lei no Brasil desde 1984. Durante o ato, pedidos de "fora, Temer" foram cantado diversas vezes.

Outro "fora" pedido a plenos pulmões pelas mulheres foi o do deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro,Jair Bolsonaro (PSC). A trajetória de declarações misóginas de Bolsonaro é grande. Já disse a então Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário (PT); - "não estupro você porque não merece”. Uma das últimas foi a homenagem que prestou ao torturador Brilhante Ulstra, conhecido nas porões da ditadura por “Dr. Tibiriçá”, durante votação pelo prosseguimento do processo de impeachment contra Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados.

Foto: Luiz Fernando Nabuco