Mai
29
2016

Entrevista: "Sindicato mais próximo dos docentes"

Professora Renata Vereza, que acaba de deixar a presidencia da Aduff, cita aproximação com a base da categoria, integração com os campi fora da sede e avanços na comunicação como pontos destacados da gestão
A professora Renata Vereza, da História da UFF, deixa a presidência da Aduff-SSind com a avaliação de que a gestão “Aduff em Movimento: de Luta e pela Base”, que coordenou o sindicato de 2014 a 2016, obteve bons resultados em aspectos como a continuidade da aproximação com o conjunto dos docentes, na integração sindical com os campi fora de Niterói e em avanços na área de comunicação. Tudo isso em meio a um período de intensas lutas que, acredita, prosseguirá na próxima gestão. Mas observa que muitas coisas ficaram por fazer – as pernas são curtas para muitas tarefas, observa. A seguir, a íntegra da entrevista ao Jornal da Aduff.
JORNAL DA ADUFF - O que você destacaria como melhor ou melhores aspectos e resultados nesses dois anos? E o que ficou faltando?
RENATA VEREZA – Primeiro, foi a aproximação com a base, a gente deu continuidade a esse processo. Acho que conseguimos melhorar a comunicação de uma forma geral, isso é um aspecto bem positivo. Melhoramos os nossos veículos de comunicação de forma geral. Não só em qualidade, como em quantidade e de veículos de comunicação que a gente está conseguindo utilizar. E de termos conseguido integrar melhor os professores dos campi fora da sede. É uma conquista muito grande ter essa integração, a gente tem uma gestão nova com mais representação de fora da sede, que tem a ver com esse trabalho, que é muito importante. O que fica faltando? Acho que mais coisa do que a gente fez. Sempre fica faltando, as pernas são curtas para tantas tarefas e foram dois anos de muitas lutas. A aceleração das lutas nesses últimos dois anos foi impressionante e acho que é uma tendência. A próxima gestão vai também optar por isso. Tivemos uma greve muito longa, a [luta contra] a Ebserh… Enfim, o senso de democracia na universidade, no país, um conjunto de coisas. Não conseguimos, nessa aproximação com os docentes fora da sede, gerar estruturas mais permanentes do sindicato [nessas regiões] e isso era um projeto nosso, que a gente não conseguiu dar conta. Eu acho que de tudo, isso seja o que tenha me deixado mais frustrada.
JORNAL DA ADUFF - A greve do ano passado teve boa adesão e participação, mas também foi polarizada com algumas assembleias tensas e com parcela dos docentes tentando organizar o movimento para suspendê-la. Além da postura do reitor de não receber as representações sindicais. Como avalia esse processo, quase oito meses depois?
RENATA - Foi a grave mais longa já feita na UFF. A gente está vivendo uma polarização do país e a universidade não está fora e é natural que os docentes que são contrários se organizem inclusive para poder se ouvir. Mas eu acho que as assembleias se estabeleceram como um espaço de decisão. Mesmo quem estava contrário entendeu que é o espaço da assembleia, que não é outro espaço, que não é o conselho universitário, que é o espaço da assembleia docente, do sindicato, que a gente decide sobre o movimento grevista. Talvez eles não dimensionem isso como vitória. Mas não se começou e não acabou a grave em outros fóruns, foi na assembleia do sindicato. Assembleia com 576 professores: em nenhum fórum na universidade em tempo algum se reuniu tantos docentes num mesmo espaço, mesmo que antagonizando, mesmo com situações de tensão, exercitando o direito democrático de ter posições diferentes, mas de alguma forma todos ali estão legitimando aquele espaço. Isso é muito importante. Foi uma greve com uma quantidade imensa de atividades, com respostas muito pequenas em relações as conquistas, enquanto que em 2012 a gente teve um retorno maior. Dessa vez, por uma conjuntura maior, que é a do país, de endurecimento das propostas conservadoras, neoliberais, a gente teve uma resposta muito pequena. O governo não nos recebeu, a Reitoria não recebeu – é uma pena que a nossa Reitoria não receba os seus professores, ou receba só aqueles que tem a convicção do âmbito dela. A universidade é de todos, uma vez que se propõe a ser Reitoria, tem que receber todos. Da mesma forma que nós recebemos todos os professores no sindicato, todos os professores tem voz e voto numa assembleia. A greve foi frustrante nos resultados, mas tinha que ser feita [diante] do corte absurdo na educação, que inviabilizou vários setores na universidade. Enfim, se o movimento docente não se posiciona ele estaria assinalando que está tudo bem.
JORNAL DA ADUFF - Você costuma dizer que a administração da UFF não conseguiu implantar ainda a multicampia. Explique melhor isso. E até que ponto esses dois anos foram importantes para que a organização sindical ganhasse mais corpo nos campi fora da sede?
RENATA - A administração da UFF não promove fóruns que permitam que os professores e o seu conjunto entendam e pertençam à Universidade Federal Fluminense. As reuniões sempre em Niterói, há uma hierarquização em relação a isso. O professor ter que mandar documentação para Niterói. Se a gente está pensando em multicampia, não pode haver essa hierarquia de sede e filial, os espaços dentro da universidade têm que ser equivalentes e tem que se buscar uma integração. Eu acho que nesse sentido o nosso trabalho foi muito bom, porque agora os docentes se conhecem, a gente permitir, criar espaços, criar fóruns que docentes de diferentes unidades possam estar juntos e possam debater e dialogar. Acho que demos um pontapé [inicial] nesse processo. Também tivemos um processo interessante com o Coluni, inserir o colégio no mapa da universidade e inserir esses docentes também na universidade para que eles possam estar atuando e também fazer parte da pauta do sindicato sempre.
JORNAL DA ADUFF -A Aduff-SSind lançou uma cartilha sobre o assédio moral na universidade. Até que ponto o sindicato atuou e pode atuar no combate ao assédio moral no trabalho?
RENATA - A gente entende que a forma mais eficaz de combater o assédio moral é com informação. A cartilha vem com esse sentido, ela não é um material acabado, novas questões vão chegar ao sindicato, mas a gente combate o assédio moral primeiramente com a informação. A gente sempre forneceu e sempre vai fornecer o auxílio jurídico. Mas até para que o docente saiba se precisa do auxílio jurídico ou não ele precisa ter informação do que é o assédio moral. Até porque muitas vezes ele se constrange, mas ele não tem dimensão de que aquilo é assédio moral.
JORNAL DA ADUFF -Outra publicação que acaba de ser lançada é o caderno sobre a ditadura civil-militar, a UFF e a trajetória que levou à fundação da seção sindical. Qual a razão de investir tempo e recursos nesse trabalho? Conhecer e tentar entender esse passado ajuda a entender e atuar na conjuntura atual?
RENATA - É fundamental. Esse trabalho é longo, já tem anos, não é um trabalho que tem se desenvolvido não só na Aduff, mas no âmbito do Andes. E a gente entendeu que a conclusão desse trabalho tem que ser divulgada porque vivemos num momento nesse país em que os direitos democráticos estão sendo limitados. É nítido que a gente tem uma presidência [da República] ilegítima e que o avanço conservador é gigante, que os direitos dos trabalhadores estão sendo cortados e a gente achava que lançar o caderno era uma forma de alertar para os perigos dos regimes não democráticos e o que isso implica dentro e fora da universidade, mostrar os aspectos absolutamente nefastos de regimes não democráticos. A gente achou que era importante dar essa visibilidade como uma forma de denúncia dos problemas dos regimes não democráticos.
JORNAL DA ADUFF - Um dos maiores embates do sindicato nestes dois anos foi a campanha contra a cessão do Hospital Universitário Antonio Pedro à Ebserh, o que acabou sendo implantado pela Reitoria após sessão polêmica e questionada do Conselho Universitário. Até que ponto isso seguirá em pauta?
RENATA - Ele segue em pauta porque os problemas no hospital universitário não desapareceram como um toque de mágica das promessas da Ebserh. É uma demonstração de como a ausência de democracia é nociva na universidade. Todo o processo que foi feito de maneira arbitrária, passando por cima da vontade da comunidade sem que essa fosse consultada. Tudo isso mostra que todo esse processo está permeado, não sei se com esse avanço conservador, mas sem sombra de dúvida com a falta de transparência das instituições. E vai continuar em pauta porque tem leitos no hospital sendo fechados, toda semana no jornal sai um problema. A Ebserh não foi a solução e sabíamos disso. O processo de privatização dos espaços não é um projeto de governo, é um projeto de Estado. Esse projeto independe do governo. O governo PT está suspenso e o problema de privatização está sendo acentuado. O novo ministro da educação tem relação com os grandes grupos educacionais. É um projeto neoliberal para as universidades, para o ensino público e que a gente vem alertando.
JORNAL DA ADUFF - O processo da Ebserh não foi considerado apenas antidemocrático, mas também violento com a comunidade. Enquanto transcorria toda essa movimentação, a gente já tinha elementos que indicavam que o governo estava em crise e que poderia não continuar e mesmo assim a Reitoria bancou...
RENATA - O processo de privatização dos espaços não é um projeto de governo, é um projeto de Estado. Então eu acho que esse projeto independe do governo. O governo PT está suspenso e o problema de privatização está sendo acentuado. É um projeto neoliberal, é de uma proposta que está dada para as universidades, para o ensino público e que a gente vem alertando. O novo ministro da educação tem relação com os grandes grupos educacionais. A de se pensar que projeto de país estão levando à frente, com ou sem o governo do PT, de forma democrática ou, quando não é possível, de forma autoritária e não democrática. Eu acho que isso acaba repercutindo em várias escalas e o que a gente passou aqui na UFF é um [pouco isso]. As ações conservadoras têm encontrado nos últimos dois anos mais espaço para se manifestar. Dois anos não, desde 2013, quando ficou perceptível que o pacto social não dava conta de segurar as massas, as forças repressoras começaram a entrar em ação. A UFF é isso. A Reitoria assume com um discurso de que quer negociar, que quer conversar e que nada vai ser feito de forma autoritária. Quando ela percebe que para que seja assim ela vai ter que ceder e que os projetos dela não vão ser implementados, ela passa a se utilizar de uma série de subterfúgios e, inclusive, de força física. Por diversas vezes chamaram segurança, chamaram polícia, para todas as ações, nem um momento de negociação. Foi assim na greve, foi assim quando um grupo de alunos fez piquete. Chamou a polícia para reunião do Conselho Deliberativo [do Huap], jogou spray de pimenta. [A Reitoria] ter chamado aquele aparato policial no dia da votação da Ebserh, [da mesma forma que] no Reuni, é muito condizente com o Brasil, com esse caminho. Vocês não vão concordar com o que eu quero, então vocês vão fazer o que eu quero pela força.
Eu acho que a Reitoria da UFF seguiu o mesmo script do plano nacional. Porque democracia não é só o voto, democracia é um conjunto de outras ações. E acho fundamental denunciar [o que está acontecendo] no Brasil e aqui. É possível enfrentar? Sim, é possível enfrentar, mas isso implica na organização da classe trabalhadora maior do que a gente tem hoje. Os sindicatos vão ter que se renovar e vão ter que se reinventar nesse processo. Os 13 anos de governo PT anularam a força mobilizadora de boa parte dos sindicatos do país e de alguns movimentos sociais. Os poucos combativos que restaram, como o Andes, acabam sofrendo efeito colateral dessas mobilizações, os partidos idem. Para ser possível reverter, é importante que a gente consiga mobilizar os trabalhadores, alertá-los para o que eles estão perdendo e mobilizá-los, assim pode ser possível. É o desafio da nossa gestão aqui, do Andes, mobilizar a categoria, continuar o trabalho de aproximação com as bases, de diálogo com todos os setores da universidade.
JORNAL DA ADUFF - Qual a importância da renovação na direção do sindicato?
RENATA - Isso é fundamental porque areja o sindicato. A categoria se modifica assim como tudo se modifica. É importante que o sindicato esteja atento a quem é essa categoria, que esse grupo de pessoas que estão entrando se sintam confortáveis, se sintam representados pelo sindicato. Acho que essa renovação é fundamental.