Mai
06
2016

Em “abraço simbólico”, trabalhadores protestam contra condições precárias nas bibliotecas da UFF

A Biblioteca Central do Gragoatá completou, em janeiro de 2016, 22 anos de funcionamento sem receber obras de manutenção, com problemas nas instalações elétricas e no sistema de ar-refrigerado e com mobiliários e equipamentos de informática obsoletos. O descaso, que tem provocado uma série de impactos negativos para funcionários e usuários das bibliotecas da UFF, não é exclusividade da unidade central do Gragoatá. Por toda a universidade, estudantes, professores e técnicos administrativos convivem com a precariedade nas bibliotecas.
DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Lara Abib

Na tarde de quinta (05), a Comissão de Bibliotecários e Arquivistas da Universidade Federal Fluminense (UFF) realizou – com o apoio do Sintuff - um ato simbólico de “abraço” à Biblioteca Central do Gragoatá - BCG, para protestar contra as condições precárias de infraestrutura das Unidades de Informação em toda a universidade.

De acordo com trabalhadores que compõem a Comissão de Bibliotecários e Arquivistas da UFF, o estopim para o ato realizado nesta quinta foi o término do contrato com a empresa Nova Rio e a perda de  53 funcionários terceirizados, que exerciam função de atendimento e balcão nas unidades de informação da UFF. “A chefia queria colocar a gente para assumir o posto dessas pessoas, mas só a BBC do Gragoatá atende - entre curso de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado - 90 cursos; é uma quantidade de trabalho enorme. O MEC avalia os cursos o tempo todo e os departamentos cobram que as bibliografias estejam em dia, que material ‘x e y’ estejam na base correta; a gente não pode simplesmente descer para atender, temos demandas própria de trabalho, além de ter formação para trabalhar com informação e não em atendimento e balcão”, explica Gilda Alvarenga, bibliotecária da Biblioteca Central do Gragoatá há oito anos.

Ela conta que desde que chegou à Biblioteca, o sistema de ar-condicionado não funciona. “Ele funciona dois ou três meses e depois ficamos sem ar-condicionado de novo. A biblioteca é uma estufa, a gente trabalha em condições desumanas; no verão a temperatura interna supera os 40 graus, o ambiente é insalubre, não há qualquer política de higienização dos acervos. Não são um ou dois anos, é uma década de sofrimento. A gente até entende que as superintendências e as chefias vivem reiterando memorandos que são engavetados pela reitoria, eles estão sempre dizendo que estão resolvendo, estão providenciando, mas os anos passam e nada acontece. Nas redes sociais a gente vê as coisas acontece na UFF como se a universidade fosse o primeiro mundo, mas quando a gente está aqui dentro a gente vê que dos 4 bebedouros da Biblioteca Central, apenas 1 funciona. Quando a gente vai ao banheiro, vê pia vazando, carrapeta quebrada, sifão escangalhado, vidraças quebradas há mais de dez anos.  Quando chove, os buracos dos ar-condicionados jorram água porque a empresa que instalou o ar-condicionado central não fez o acabamento correto.  A gente não aguente mais viver isso cotidianamente e ouvir da gestão da universidade que não é bem assim, que vai resolver e não resolve. Por isso nós resolvemos que não vamos mais esperar, vai ter luta e vai ter barulho até a reitoria resolver a situação das bibliotecas na UFF”, completa.

No ato, a presidente da Aduff-SSind e professora do curso de História da UFF, Renata Vereza, ressaltou a importância das bibliotecas na formação universitária e ressaltou o apoio da seção sindical dos docentes da UFF ao movimento dos bibliotecários e arquivistas. “Fui estudante da UFF, lembro da inauguração da Biblioteca Central do Gragoatá e me parte o coração ver o prédio nesse estado de conservação.  A biblioteca foi fundamental na minha formação e continua sendo fundamental na formação dos meus alunos. Não é só um espaço de depósito de livros, é um espaço  de formação acadêmica; as bibliotecas e os profissionais que trabalham nelas são tão fundamentais quanto os docentes e os outros técnicos administrativos na formação dos alunos. Quando a gente fala em formação de qualidade, estamos pensando em todo o processo que dá suporte ao ensino, pesquisa e extensão, e não só na sala de aula”, disse.

Gustavo Gomes, candidato a presidência da Aduff-SSind pela chapa “Democracia e Luta, em defesa dos direitos sociais, do serviço público e da democracia interna”, biênio 2016-2018, garantiu que a próxima direção da seção sindical continuará apoiando a luta dos trabalhadores da UFF e registrou que o problema de má conservação e falta de estrutura das bibliotecas não é só um problema de contingenciamento do governo federal, mas também um problema de gestão da universidade. “Estivemos juntos com Sintuff em uma reunião com o reitor, uma das primeiras quando ele assumiu a reitoria da UFF e Sidney se comprometeu a não manter o processo de expansão precarizado da universidade sem antes solucionar os problemas dos prédios não concluídos, da falta de estrutura, da precariedade das instalações elétricas  dos prédios. E o que nós vimos? A abertura de um novo campus em Petrópolis sem nenhuma estrutura, sem  qualquer debate com a comunidade universitária, sem nenhum balanço quanto a isso. Não adianta ampliar o acesso dos alunos à universidade se a própria instituição não conseguir garantir condições mínimas para a formação acadêmica, como bibliotecas decentes, computadores, professores e técnicos que deem suporte ao trabalho do estudante”, encerrou.

Foto: Luiz Fernando Nabuco/Aduff-SSind