Mar
28
2016

Nota da Diretoria da ADUFF-SSind sobre a conjuntura política atual

Ao longo dos últimos anos, o movimento docente teve vários enfrentamentos contra as políticas educacionais e trabalhistas, assim como à lógica política mais geral que presidiu as ações do governo federal. No ano passado essa lógica ficou explícita com os cortes de verbas para as instituições públicas de ensino, em contraste com a elevação dos valores pagos como subsídio ao ensino superior privado, através do FIES. Enfrentamos o governo Dilma em uma longa greve do ensino federal e a intransigência governamental resultou em uma proposta de reajuste salarial abaixo da inflação, que na prática representa confisco salarial, como parte de um ajuste fiscal cuja conta está sendo toda debitada sobre os trabalhadores.

Mesmo agora, acossado pela oposição de direita, o governo Dilma continua atacando os trabalhadores e os movimentos sociais. Em 16 de março sancionou a “Lei Antiterrorismo” e mesmo os vetos a algumas aberrações não livram os movimentos sociais de serem enquadrados na nova lei por operadores da lei que sempre tiveram pouco apreço pelas lutas populares. Os servidores públicos, em 21 de março, ficaram cientes de que o governo pretende oferecer como garantias de controle dos gastos públicos a eventual suspensão dos concursos, o corte dos reajustes já negociados, ou mesmo a redução dos salários nominais e as “demissões voluntárias”. Para a classe trabalhadora em geral, a ameaça dos reajustes do salário mínimo inferiores à inflação.

Por essas razões, coerentemente com os interesses docentes e da classe trabalhadora, nosso sindicato manteve e terá de manter uma luta cerrada contra as políticas desse governo, que são absolutamente indefensáveis.

No entanto, justamente por nosso compromisso histórico com a defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, não poderíamos deixar de nos manifestar sobre a grave crise política que atravessa o país. Assistimos a uma combinação entre medidas judiciais que contrariam normas legais consagradas com uma campanha política aberta das grandes empresas de mídia para desestabilizar o governo. Tal ação é orquestrada com a abertura de um processo de impeachment na Câmara dos Deputados, sob a batuta de Eduardo Cunha, em um grande acordo entre partidos e lideranças também envolvidos nos processos de corrupção em apuração. O resultado desse processo, caso a presidente da república seja realmente afastada - e para isso pouco parecem importar as “provas” concretas de eventuais crimes de responsabilidade - se desenha como um governo de coalizão entre o vice-presidente e seu partido com a oposição de direita, para aplicar um programa ainda mais regressivo para os trabalhadores, como fica evidente no documento “Uma ponte para o Futuro” apresentado por Temer como uma pré-plataforma de governo.

Para pressionar o governo e justificar esse verdadeiro “golpe dentro da ordem”, as forças da reação mobilizam os sentimentos mais reacionários e retrógrados de preconceito e agressividade de setores da sociedade que já saem às ruas para atacar sedes de partidos e sindicatos, manifestar abertamente machismo, racismo, homofobia e outras formas de preconceito opressivo, ou mesmo para espancar os que vestem roupas vermelhas, em sinal absurdamente forte de retrocesso social.

Reafirmamos que as políticas desse governo são indefensáveis e manteremos sempre o princípio de nossa autonomia sindical frente a este ou qualquer outro governo. No entanto, nosso passado de lutas pela redemocratização do país e nosso presente de luta intransigente pela defesa dos interesses da classe trabalhadora nos levam a, através desta nota, manifestar nosso repúdio veemente ao golpe do impeachment e às ameaças ainda maiores às garantias constitucionais já cotidianamente vilipendiadas em nosso país.

Assim, a ADUFF-SSind reafirma seu compromisso com as conquistas democráticas da classe trabalhadora, que defenderá intransigentemente.

Março de 2016.

Diretoria da ADUFF-SSind
Biênio 2014-2016