Fev
05
2016

Servidores exigem auditoria da dívida do RJ e rejeitam 'ajuste fiscal' de Pezão

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Por Niara Aureliano
Fotos: Luiz Fernando Nabuco/Aduff-SSind
Em ato na última quarta-feira (3), cerca de 4 mil servidores públicos estaduais contestaram as medidas econômicas apresentadas pelo governo Pezão (PMDB), na terça (2), para sanar a dívida pública do Rio de Janeiro. Acusando o governo de manter a política de benefício aos grandes empresários em detrimento dos servidores estaduais, eles exigiram a realização de uma auditoria da dívida pública do estado. Ato, que teve concentração em frente à Alerj, foi convocado pelo Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais (Muspe).
Aos gritos de 'Fora Pezão', os servidores rejeitaram as medidas apresentadas pelo governo para sanar o rombo nas contas do estado, que incluem a elevação da contribuição dos servidores estaduais de 11% para 14% na Previdência, e cotização do Rio Previdência para cobertura do déficit, e denunciaram o desmonte do serviço público estadual, a mudança no calendário do pagamento dos servidores - que gerou atrasos e prejuízos aos trabalhadores, o corte do orçamento da saúde e da educação, além do não-pagamento dos trabalhadores terceirizados. O governo também quer revisar as aposentadorias dos servidores.
Com os cortes no orçamento do estado promovidos pelo governador desde 2015, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e seu Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) sofrem com o desmonte e os ataques aos servidores e estudantes, por falta de repasse de verbas. Para o docente da Faculdade de Serviço Social, Felipe Demier, a Uerj é "uma universidade em frangalhos, por culpa exclusiva do governo estadual e da antiga reitoria, que lhe deu total suporte". Segundo o docente, professores temporários estariam sem receber há meses, além da situação já conhecida dos trabalhadores terceirizados, contratados por empresas prestadoras de serviço, que também ficaram por meses sem receber os salários,recebendo seus benefícios (como vale-alimentação) pela metade.
Para Felipe, o governo continua optando por destinar parte das verbas do estado para o capital, como garantir isenções fiscais a grandes empresas e pagamentos - referindo-se ao pagamento da conta de luz da Supervia. "Como disse o Celso Furtado, 'toda política econômica é mais política que econômica', é uma opção que se faz pra onde vão parcelas significativas do fundo público do orçamento estadual... A Uerj é uma universidade com caráter muito popular, plebeu, a primeira universidade brasileira com a política de cotas, e hoje o que se verifica é: no que diz respeito às instalações físicas, a universidade está muito deteriorada; no que diz respeito ao pessoal, à força de trabalho, ela vem sendo vítima de inúmeros ataques e até de humilhações, como a situação dos professores concursados que ficaram recebendo seu 13º salário parcelado e agora com uma política de atrasos nos salários, decidida a bel prazer do governador", comentou.
Perciliana Rodrigues, servidora do Hupe, participa da mobilização para salvar o hospital universitário, que corre risco de ser fechado. Frente a uma série de atividades em defesa do Hupe, a servidora alega que há "um aprofundamento brutal de ataques, em uma ação combinada com o governo municipal, de corte de financiamento do hospital", devido a falta de repasse do financiamento de verba do sus. Para ela, está ocorrendo um estrangulamento do funcionamento hospitalar e é necessário que haja repasse da verba do orçamento - cortadas desde outubro de 2015 - com integralização do orçamento do hospital via universidade e o repasse das verbas estaduais e municipais para salvar o Hupe. "A secretaria de saúde está anunciando um conselho de gestão, uma gestão administrativa pro hospital, que no nosso entendimento não é bom, a gente não vai aceitar, porque o objetivo maior do governo é abrir caminho pra OSs [Organizações Sociais] ou pra Ebserh na universidade", alertou.
Comentando o caos na saúde estadual, a servidora da saúde, Maristela Faria, condenou o descaso do governo do PMDB para com a saúde estadual e a entrega de hospitais estaduais ao município. Apontando que todo segmento da saúde está um caos, ela afirmou: "o município não gerencia a saúde melhor do que o estado... Tem muito mais OSs gerenciando esses hospitais do município. Nesse processo de corrupção, de roubo das OSs, de 10 OSs envolvidas nesse processo de corrupção, oito estão gerenciando hospitais do município". Para ela, há a implementação de um processo privatista com a municipalização dos hospitais. "Já tinha um privatizado, que foi o Pedro II, que sofreu um incêndio mentiroso, e depois do incêndio eles entregaram pro município, e agora vão entregar o Rocha Faria, que é em Campo Grande, e o Albert Schweitzer, que é em Realengo. Por que estão entregando os hospitais pro município se o município não administra melhor?", questionou.
O ato seguiu até a Cinelândia. O Muspe deve se reunir para definir o próximo passo da mobilização dos servidores.