Jan
26
2016

Democracia definha na UFF para aprovar Ebserh, diz conselheiro do CUV

Professor Palharini teve negado direito previsto no regimento na reunião conjunta das Câmaras especializadas; "Passo por cima de qualquer coisa", disse representante da Reitoria ao responder a questionamentos

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho e Aline Pereira

Foto: foto: Tarcísio, diretor do Huap, diante do ato na Procuradoria Federal - foto: Luiz Fernando Nabuco/Aduff-SSind

O professor e conselheiro do Conselho Universitário (CUV) Francisco Palharini teve negado, na tarde desta terça-feira (26), o direito regimental de pedir vistas ao processo que entrega a gestão do Hospital Universitário Antonio Pedro à Ebserh. O professor Cresus Vinicius Depes de Gouvêa, que presidia a reunião conjunta das Câmaras Especializadas do Conselho do Universitário, não atendeu ao pedido de vistas.

Ele pôs em votação a urgência do tema e, em seguida, a sua aprovação para envio à sessão do conselho, novamente se negando a acatar ao pedido de vistas. “As câmaras especializadas estão se reunindo porque têm urgência o processo. Tem urgência e eu quero votar essa urgência. Aqueles que concordam permaneçam do jeito que está”, disse.

Ao responder a servidores que questionavam o desrespeito ao artigo do regimento que assegura o direito ao pedido de vistas, Cresus disse que eles não podiam falar, que estavam ali porque ele consentira e que passaria por cima do que quisesse, mas eles não teriam direito a voz. “Passo por cima de qualquer coisa mas vocês não podem falar, eu sou o presidente da Câmara”, disse.

Após se abster, Palharini fez uma declaração de voto questionando tanto o que ocorrera ali, quanto a votação por email promovido pelo diretor-geral do Huap, Tarcísio Rivelli, para aprovar no Conselho Deliberativo do hospital a proposta de cessão da unidade à Ebserh.  “Essas câmaras estão cometendo um erro muito grave, elas estão rasgando nossos dispositivos legais, excluiu pessoas de sua convocação, intencionalmente ou não. São pessoas que ficaram privadas de emitir o seu parecer. Aqui a gente assistiu à negação a um direito previsto [em artigo] do regimento interno do Conselho Universitário”, disse o diretor do Instituto de Psicologia.

Ele criticou a pressa da Reitoria em decidir sobre a Ebserh e disse que o método que se está aplicando deixará sequelas e definha a democracia interna na UFF. “Acho que essa forma açodada cria prejuízos para a vida institucional daqui para frente. Ela amplia a radicalidade dentro da universidade, ela justifica o outro lado de agir também com radicalidade, que era justamente o que eu queria evitar. Acho que isso tudo está levando a um definhamento da democracia na nossa universidade”, criticou.

Por fim, disse que isso acirrará os ânimos e que sua intenção era se colocar ao lado da institucionalidade para garantir todas as votações que fossem necessárias. “Prevaleceu aqui hoje de se negligenciar o estatuto, de se negligenciar a própria resolução do hospital que estabelece que a reunião se dá com a presença de seus membros. Lamento, Sr. Presidente, sempre tive pelo senhor o maior apreço, e tenho ainda, mas negar o direito em vistas numa reunião de Câmara é para mim inusitado. Eu lamento pelo que aconteceu, vejo com tristeza o futuro da universidade se persistir esse tipo de política”, finalizou.

As ações da Reitoria para forçar a aprovação da Ebserh a qualquer custo vêm refletindo negativamente na comunidade acadêmica. Todos – estudantes, técnicos-administrativos e docentes – estão sendo convocados para estar nesta quarta-feira (27), a partir das 8 horas da manhã, para ato público que se realizará antes da reunião do Conselho Universitário, marcada para a Geociências, na Praia Vermelha. A sessão está prevista para começar às 10 horas. Na avaliação de Renata Vereza, presidente da Aduff-SSind, a mobilização não é mais restrita à Ebserh e à situação do Huap, mas vai além dessas importantes questões: é também de repúdio às práticas antidemocráticas e envolve o futuro da democracia interna na UFF.