Jan
26
2016

HU da Universidade do Ceará suspende cirurgias e serviços sob a gestão da Ebserh

Ofício da gestão da Ebserh informando a redução em 50% dos serviços e suspensão dos transplantes no HU da Universidade Federal do Ceará

'No hospital falta até gaze e remédio pra dor de cabeça', diz servidora da UFC; crise é reconhecida pela direção do hospital

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Por Niara Aureliano

A servidora Keila Camelo, que trabalha há 37 anos no Hospital Universitário Walter Cantídio, em Fortaleza, costuma dividir a realidade do hospital universitário e da Maternidade Escola Assis Chateaubriand em antes e depois da Ebserh.

Segundo a servidora, mesmo que os hospitais sempre tenham sofrido com a política de desmonte do serviço público desde o governo Collor e com o repasse insuficiente de recursos, pela primeira vez o HU, que é referência em transplante de órgãos no Nordeste, está com funcionamento comprometido. De acordo com Keila, chega a faltar gaze, remédio para dor de cabeça e antibióticos nas unidades devido à falta de repasse de verbas. "O HU chegou a ficar com um déficit de R$ 6 milhões, ameaçando desativar 95 dos 190 leitos por falta de repasse. Devido ao repasse, em novembro, de R$ 4 milhões do Ministério da Saúde, não desativaram os leitos. Mas ainda há um déficit de R$ 2 milhões", aponta.

A afirmação corrobora com a denúncia de que a transferência dos hospitais universitários para a Ebserh desobriga a União a manter o pagamento dos profissionais de saúde e o financiamento das atividades dos hospitais cedidos; no caso do hospital Walter Cantídio e da Maternidade Escola, os leitos, cirurgias, consultas e exames tiveram a oferta reduzida em 50%, além de suspensão de outros procedimentos, como aponta ofício da gestão da empresa de novembro do ano passado: "A situação também nos obriga a suspender os transplantes de órgãos sólidos (rim, pâncreas e fígado). No caso do transplante de medula óssea, serão realizados mais dois procedimentos, tendo em vista que os pacientes já estão com células a serem infundidas em vias de coleta. Depois disso, será suspenso. Não temos mais condições de receber pacientes com leucemia e linfoma. A Maternidade Escola Assis Chateaubriand, por sua vez, suspendeu as cirurgias eletivas de alta complexidade". O documento que reconhece o problema é assinado pelo superintendente do complexo hospitalar da UFC hospital, José Luciano Bezerra Moreira.

Aprovada em reunião do Conselho Universitário sem quórum, o contrato com a Ebserh foi assinado em novembro de 2013 sem consulta à comunidade universitária, apesar das tentativas dos sindicatos e estudantes de estabelecer um debate democrático com a comunidade. Hoje, mais de dois anos depois, 50% das vagas da residência médica também foram suspensas. "Com a Ebserh garantiram que o hospital ia funcionar com verba do Rehuf e o que estamos vendo é o contrário: piorou. As reformas não estão sendo feitas, o material da reforma e os insumos são de quinta categoria; se antes você fazia marcação [de consultas] a semana toda, agora faz uma vez por mês. Tem paciente que vem do interior e dorme no hospital, a gente nunca tinha visto isso", finaliza.