Jan
13
2016

Conselho do Huap se reúne sob pressão por debate real sobre Ebserh

A professora Claudia March, da UFF e diretora do Andes-SN, fala durante o Conselho do Huap: espaço obtido somente após cobrança - foto: Luiz Fernando nabuco

Reitoria leva presidente da Ebserh à reunião do conselho para ‘vender’ empresa que tem fins comerciais; Ebserh pode estar na pauta do próximo CUV

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Lara Abib

Após ficar quase um ano e meio sem convocar reuniões do Conselho Deliberativo do Hospital Universitário Antonio Pedro (Huap), o diretor do hospital, Tarcísio Rivello, chamou a primeira reunião de 2016 para a segunda terça terça-feira do ano (12). O encontro aconteceu diante de um auditório lotado nas dependências do Huap, e contou com a participação massiva de trabalhadores do hospital, estudantes, docentes e usuários do Antonio Pedro. Estiveram presentes também o reitor da UFF, Sidney Mello, seu vice e pró-reitores.

As reuniões do Conselho Deliberativo do hospital universitário foram retomadas apenas no final de 2015, já num contexto de crise acentuada e subfinanciamento crônico do Huap, por pressão da comunidade hospitalar do Antonio Pedro, que reivindicava debate coletivo sobre a situação do hospital e instâncias democráticas de decisão e deliberação. Em 8 de outubro do ano passado, Tarcísio suspendeu as internações não emergenciais no hospital de forma unilateral, sem comunicar aos estudantes, funcionários e docentes do Huap, que descobriram da suspensão através de um papel pregado na parede e, depois, pelos jornais. As internações estão suspensas até hoje.

Contudo, como nas duas reuniões realizadas no final de 2015, nesta terça (12), o diretor do Antonio Pedro parecia mais preocupado em defender a Ebserh e a si próprio do que debater soluções para a crise do hospital universitário. A ‘principal’ figura do encontro de terça era Newton Lima Neto, presidente da Ebserh, que deu palestra na reunião – convidado pela administração da UFF e pela direção do hospital – em defesa do contrato entre o Huap e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.  O contraponto à fala do presidente da Ebserh, entretanto, não estava previsto. Foi proposto, na hora, pela conselheira técnica-administrativa Lígia Martins, que sugeriu a Tacísio – que presidia a reunião – que cedesse o mesmo tempo de fala à professora do Instituto de Saúde Coletiva e diretora do Andes-SN, Claudia March, para falar em defesa da não adesão à Ebserh. Se a comunidade acadêmica não estivesse presente na reunião, não haveria debate: a única fala no Conselho Deliberativo seria do presidente da Ebserh, advogando, claro, pela empresa.

“Saúdo o professor Tarcísio que acolheu a demanda que nós trouxemos de fazer uma abertura para o contraditório, mas acho que nós precisamos de muito mais do que isso, precisamos de debate real na universidade. Nós temos que abrir debates públicos com o contraditório no conjunto da UFF. Esse hospital não é dos cursos da área de saúde, nem do Conselho Deliberativo, ele é parte da universidade, embora esse não seja o projeto da Ebserh. Precisamos conversar sobre esse outro projeto de entrega da universidade, hoje um pedaço dela, amanhã todo ela para o setor privado. Queria fazer, já que o professor Sidney, reitor desta universidade, está aqui presente, uma fala no sentido de a gente poder de fato abrir um debate público do contraditório em várias unidades, fazer um circuito. A gente já tem feito, mas com as duas partes é muito melhor”, ressaltou a professora.

Após a fala de Claudia, Rivello abriu para a fala dos conselheiros.  Novamente, a conselheira técnica-administrativa Lígia Martins se inscreveu para propor que as falas fossem abertas ao plenário, mas o diretor do hospital foi contrário ao encaminhamento. Criticado pela postura apontada como autoritária, o diretor, que presidia a reunião, voltou atrás, ensaiando uma votação sem informar quantos eram os conselheiros e qual era o quórum. A revolta com o novo encaminhamento de Tarcísio fez com que ele próprio encerrasse a reunião.

Nada definido

Sem o compromisso da administração da universidade e da direção do hospital de realizar amplo debate dentro da UFF sobre a Ebserh e sem deliberação do Conselho Deliberativo do Huap, estudantes, técnicos e docentes continuam preocupados com os encaminhamentos dados pelo reitor da UFF, Sidney Mello, e pelo diretor do Huap, Tarcísio Rivello, em relação à crise no hospital. Tanto a administração da universidade como a do hospital fazem campanha para a adesão da universidade à Ebserh, que passaria a gerir a unidade, mas evitam o debate com a comunidade acadêmica, os sindicatos e as entidades estudantis. Aduff-SSind e o Sintuff mandaram ofício no início da semana solicitando reunião com a Reitoria da universidade para tratar do assunto.

Para as entidades sindicais, assinar o contrato com a Ebserh significaria perder autonomia universitária dentro do hospital e a privatização da gestão do setor. A grave crise que atinge os hospitais estaduais, quase todos eles com gestões total ou parcialmente terceirizadas por meio de organizações sociais, é apontada como exemplo do que pode significar no futuro próximo essa suposta saída para os problemas do Huap.

O resultado da adesão de hospitais universitários de outros estados à Ebserh também é considerado inócuo para resolver a crise no atendimento e no funcionamento dessas unidades. A Aduff defende a busca de soluções para a crise no HU que se oponham à terceirização e à privatização, que defendam a gestão pública e cobrem do governo os recursos que ele tem a obrigação de assegurar para a universidade e a saúde pública.

CUV deve acontecer dia 27 com pauta sobre Ebserh

A próxima reunião do Conselho Universitário da UFF está prevista para o dia 27 de janeiro e muito provavelmente trará a Ebserh como pauta. Aduff-SSind e Sintuff convocam comunidade acadêmica para comparecerem à reunião e pressionar para que o debate sobre adesão ou não à Ebserh seja realizado de maneira ampla e democrática.

*Em breve, mais sobre a cobertura da reunião do Conselho Deliberativo do Huap