Jul
03
2025

Wanderson Melo comenta cerceamento de liberdades individuais na UFF e defende homenagem póstuma às vítimas

A diretoria da Aduff e o Grupo de Trabalho em História do Movimento Docente (GTHMD) da seção sindical receberam docentes e pesquisadores para debater o tema "A Ditadura e as Universidades Públicas do Rio de Janeiro". A atividade foi realizada no dia 25 de junho, no campus da UFF no Gragoatá, em Niterói. 

Contou com a participação de Ana Beatriz de Oliveira (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ); Rafael Brandão (Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ); Rafael Vieira (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ); Rodrigo Castelo (Universidade Federal Estado do Rio de Janeiro - Unirio) e Wanderson Melo (Universidade Federal Fluminense - UFF), professores e especialistas no tema. Foi mediada por Joana D'Arc Ferraz, dirigente do sindicato de docentes da UFF e coordenadora do GTHMD local.

Wanderson Melo, professor da UFF de Rio das Ostras, que integra o GTHMD da Aduff e compôs a direção do sindicato entre 2012 a 2014, apresentou o trabalho que deu origem ao projeto de memória elaborado no âmbito do referido Grupo de Trabalho e publicado em 2018, mesmo ano em que o AI 5 completou meio século. Com o título “Atitudes de Rebeldia: as formas da universidade tecnocrática, o aparato vigilante/repressivo e as resistências dos professores da UFF durante a ditadura", a publicação de 303 páginas é fruto do relatório final do projeto “Memórias da Ditadura na UFF” e da pesquisa feita por Rafael Vieira, com a coordenação de Wanderson Melo, ex-coordenador do GTHMD local à época.

Segundo Wanderson, o título da publicação teve como inspiração a expressão que os agentes da repressão utilizavam para se referir aos docentes da universidade, classificando seus atos de insubordinação ao regime como "atitudes de rebeldia". A pesquisa também teve como referência a tese "Nenhuma ilha da liberdade: Vigilância, Controle e Repressão na Universidade Federal Fluminense (1964-1987)", defendida por Ludmila Gama Pereira, no Instituto de História.

"Buscávamos recuperar a resistência empreendida pelos nossos professores e a história de formação da nossa Associação de Docentes", afirmou. De acordo com ele, três perguntas orientaram a pesquisa que deu origem ao material: que projeto de Universidade estava posto para a UFF; como foi a formação e a atuação do aparato repressivo na instituição; quais as formas de resistência dos professores e professoras. "Entrevistamos 14 professores, ex-alunos, analisamos 27 caixas da Assessoria de Segurança e Informação, cuja documentação está incompleta", falou.

O professor também contextualizou as mudanças que militares empreenderam nas instituições de ensino superior à época, com críticas à reforma universitária. Segundo ele, em face da complexificação da vida em sociedade, houve demanda por funções produtivas e especializadas, levando ao surgimento de novos cursos e profissões para além das estabelecidas graduações em Medicina, Direito e Engenharia. E na década de 1960, havia diferentes propostas de educação popular e democrática em voga, a exemplo do projeto de reforma da UNE; da proposta da USP, encabeçada por Florestan Fernandes; da UEE/SP; e a de Darcy Ribeiro. No entanto, em 1968, os militares impuseram um dado projeto e fizeram o que Wanderson classificou de "sequestro semântico" da palavra reforma.  

"A reforma universitária deveria se chamar contrarreforma universitária", disse. "Passamos à um ensino tecnocrático, ligado à operacionalização técnica, porque a tecnologia vinha dos Estados Unidos [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID)]. O ensino universitário não vai ser para produzir conhecimento, vai ser para aplicar o conhecimento", considerou o professor.

Ao longo de sua explanação, Wanderson elencou dados e nomes de integrantes da comunidade universitária que foram perseguidos pela repressão, presos, torturados e/ ou assassinados, a exemplo de Fernando Santa Cruz; Ivan Motta Dias; Aloísio Palhano Pedreira Ferreira; Tobias Pereira Junior e Telma Regina Cordeiro Correia. Comentou sobre o inquérito policial militar contra estudantes e professores e sobre a criação de Assessoria Especial de Segurança Interna - AESI, que naquele contexto, foi incorporada ao organograma da UFF. Mencionou ainda a exigência de um atestado de ideologia para acessar ao posto de docente da UFF, mesmo que a professora ou o professor tivesse sido aprovado em concurso, a fim de exemplificar algumas medidas que cerceavam as liberdades individuais na universidade.  

"No contexto atual de avanço da extrema direita, é muito importante fazermos essa discussão nas Universidades", disse Wanderson. "Não é só um trabalho acadêmico para resgatar a memória pura e simplesmente. A Associação Docente é parte da luta social, da luta de classes. A gente precisa ampliar isso e entende que tem que fazer uma batalha pela diplomação daqueles que foram assassinados pela ditadura militar", defendeu.  

Veja aqui o exato momento da participação de Wanderson Melo no debate 

Da Redação da Aduff
Foto: Aline Pereira