Abr
18
2013

Operários de Belo Monte estão em Belém pare denunciar perseguição e retaliações à greve

Desde o dia 11 de abril, 92 operários que trabalhavam em Altamira, na construção da Usina de Belo Monte, no Pará, estão em Belém para denunciar o que está acontecendo na obra. Trazidos pela CSP-Conlutas e pela Defensoria Pública, os trabalhadores foram retirados,  juntamente com outras centenas de trabalhadores, de uma situação de cárcere privado, já que, depois do início da greve – no dia 5 de abril - foram impedidos de retornar ao canteiro de obras pelo Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM). Ao serem libertados, protestaram em Altamira, mas o representante do Governo Dilma, Avelino Ganzer, negou-se a recebê-los.

Em Belém, estão alojados na sede campestre do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil. Dormem no chão durante esses treze dias (incluindo o período de Altamira e Belém), não têm cobertores e revezam a mesma muda de roupa. Diante do fato, a CSP-Conlutas está pedindo apoio material para ajudar a mantê-los em Belém e, dessa forma, amplificar a denúncia contra o Governo Dilma que, em última instancia, promove essas atrocidades.

Greve

Os trabalhadores estão em greve desde o dia 5 de abril, quando uma revolta paralisou as obras da hidrelétrica de Belo Monte em dois canteiros: Pimental e Belo Monte, na região de Altamira (PA). A paralisação atingiu cerca de 8 mil operários. Os trabalhadores reivindicam o final do trabalho na chuva, reajuste salarial para equiparação entre alojados e não alojados, intervalo de baixada de 90 dias para todas as categorias e o fim do sistema “5 por 1”, em que as folgas caem em dias aleatórios e aqueles que trabalham aos fins de semana não recebem hora extra.

Os operários que não ficam alojados nos canteiros recebem um adicional de 20% referente ao tempo de deslocamento da cidade de Altamira até os locais de trabalho, que pode ultrapassar duas horas. Com a conclusão dos alojamentos, os trabalhadores perdem esse efetivo, além de serem privados da convivência na cidade. Por isso, estão exigindo que o consórcio cumpra sua promessa e pague as chamadas “horas confinamento”.

O problema se dá em especial com os trabalhadores que migraram de outras regiões do país para trabalhar na obra, mas também preocupa trabalhadores de cidades vizinhas, que deixarão de contar com transporte diário, sendo forçados a se mudarem para o canteiro e ver seus familiares apenas uma vez por semana. Os residentes em Altamira, a princípio, continuariam contando com o transporte.

Também é reivindicada a destituição do SINTRAPAV (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada do Estado do Pará). Segundo os trabalhadores, o acordo coletivo vigente, assinado pelo sindicato, não é o mesmo aprovado em assembleia.

Força Nacional dentro do canteiro

Os trabalhadores ainda denunciam os problemas decorrentes da presença da Força Nacional no ambiente de trabalho. Há um efetivo instalado dentro do canteiro de obras desde o final do mês de março, por determinação do Ministério da Justiça, após a ocupação do canteiro por indígenas e ribeirinhos. A previsão de permanência é por 90 dias, prorrogáveis, sob desculpa de evitar ocupações de manifestantes que possam motivar paralisações.

Trabalhadores relatam ações repressivas por parte da Força Nacional de Segurança. Denunciam que, durante a paralisação, a Força agrediu e deteve funcionários, bloqueou os acessos aos canteiros e forçou os trabalhadores em greve a entregarem seus cartões de identificação, para que fossem encaminhados ao RH e demitidos. Ao menos mil trabalhadores foram  dispensados como retaliação ao movimento paredista.

A Força Nacional está sendo abertamente empregada para garantir o andamento das obras de barragens no Pará. A situação ocorre não apenas em Belo Monte, mas também na região do rio Tapajós, onde um efetivo de 250 homens foi designado para impor os estudos do Complexo Hidrelétrico Tapajós às terras dos índios Mundurukus. Trabalham atualmente cerca de 20 mil pessoas nos canteiros de Belo Monte. A previsão é que, com o pico da obra, ainda este ano o número de contratações chegue a 28 mil.