Out
14
2024

15 de outubro: celebrar e lutar por uma sociedade mais igualitária

Aduff-SSind se soma à campanha "Sou Docente Antirracista", concebida pelo Andes-SN, e defende multiplicá-la na UFF

Momento da Marcha das Mulheres Pretas, realizada em julho de 2024, na Praia de Copacabana (RJ) Momento da Marcha das Mulheres Pretas, realizada em julho de 2024, na Praia de Copacabana (RJ) / Luiz Fernando Nabuco

No mês em que se comemora o dia dos e das professoras, 15 de outubro, a Aduff-SSind parabeniza a todos, todas e todes pelo compromisso com o ensino, a pesquisa e a extensão na Universidade Federal Fluminense. E ainda que a docência enfrente diversos desafios por melhores condições de trabalho, de remuneração e de reconhecimento, reafirma a extrema relevância da profissão para a defesa de uma sociedade democrática e inclusiva, sobretudo em gênero e em raça.      

É neste contexto que a seção sindical de docentes da UFF também se soma à campanha "Sou Docente Antirracista", lançada pelo Andes-SN no início deste segundo semestre, após uma deliberação do 42º Congresso (Ceará, 2024), a fim de conscientizar as comunidades universitárias sobre o urgente combate ao racismo nas instituições de ensino. A campanha foi também apresentada pela diretoria do Andes-SN durante o XIII Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negros/as - XIII COPENE, que aconteceu em Belém (PA), em setembro.

Prestes a ser oficialmente lançada na UFF por iniciava da Aduff-SSind, a campanha "Sou Docente Antirracista" é celebrada por João Claudino Tavares, professor em Rio das Ostras e dirigente do sindicato. Ele explica que a diretoria da seção sindical confeccionou algumas camisas pretas com o mote da campanha. Elas serão distribuídas aos filiados em eventos organizados pelo sindicato. Também já está sendo distribuída, durante atividades da Aduff, uma camiseta em homenagem a Paulo Freire, o patrono da Educação brasileira.

João também integra o Grupo de Trabalho em Política de Classe para as Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS), que na última reunião (7), debateu a realização de um seminário, em novembro, para debater a questão racial na universidade e no movimento sindical. Além disso, enfatizou a importância de lançar a campanha "Sou Docente Antirracista" em articulação com os outros campi da UFF. 

"A campanha antirracista do Andes-SN é o cumprimento de uma importante tarefa educativa para a categoria. É uma iniciativa produto da luta contra as desigualdades, contra as opressões. É uma vigilância e espaço de protesto e denúncias contra o descumprimento das legislações que asseguram as cotas raciais em todos os espaços das IES (Instituições de Ensino Superior)", defende o João.

Segundo ele, ser docente antirracista é um grande desafio e passa por mudanças profundas na forma como se estabelecem as relações, no jeito de ser, de fazer, de pensar. "Passa pelo reconhecimento de que o racismo é um dos elementos constitutivos do capitalismo e da formação sócio-histórica brasileira; reconhecimento de que no Brasil nunca existiu democracia racial e de que só alcançaremos uma democracia plena com erradicação do racismo", considera o João.

De acordo com o diretor da Aduff, é necessário reconhecer e enfrentar a mentalidade escravocrata que persiste na contemporaneidade, pois combater o racismo é parte do processo de luta pela humanização. 

"Ser docente antirracista requer a denúncia contra qualquer atitude racista onde quer que ela se faça. É defender e lutar pelas cotas raciais em todas as instâncias das IES e denunciar sempre que elas não sejam cumpridas. Ser docente antirracista implica no acolhimento de estudantes Negras e Negros e inclusão, em suas matérias ministradas, formulações de autoras e autores Negros com a seriedade que a questão étnico-racial demanda", afirmou João Claudino, para quem, nessa luta, “o educador tem que ser educado”.

Docente aposentada do curso de Serviço Social na UFF e com ampla trajetória de militância sindical na Universidade e no Andes-SN, Sonia Lúcio Rodrigues também celebra a importância da campanha desenvolvida pelo Sindicato Nacional.  

Para ela, a luta contra o racismo está diretamente relacionada à defesa da universidade pública e da preservação dos direitos dos trabalhadores/ as das instituições públicas de ensino superior. "O racismo constitui um dos pilares de reprodução da desigualdade social no país e é reproduzido no interior das universidades brasileiras", explica. 

Para ela, apesar dos ganhos obtidos com a política de cotas para estudantes e para o ingresso de trabalhadores e de trabalhadoras nos concursos públicos, ainda há outros empecilhos no horizonte de expectativas de estudantes negros e negras nas instituições públicas de ensino superior, sobretudo porque o recorte racial, especialmente de pessoas não brancas, ainda está diretamente relacionado à questão da vulnerabilidade econômica. 

"A ausência de investimentos em políticas de assistência estudantil dificulta a permanência dos estudantes  negros e negras nas instituições de ensino", disse.

Ela também criticou a precária aplicação das cotas raciais para os concursos públicos, o que faz com o número de docentes negros e negras seja muitíssimo pequeno ainda nas IES. 

Diálogo com intelectuais negros em sala de aula

Professora na UFF em Angra dos Reis, Maria Onete Lopes Ferreira afirma que ser um ou uma docente antirracista envolve assumir uma conduta pessoal e profissional comprometida com a luta pela erradicação do racismo. "Tal conduta deve ser efetivada no cotidiano da vida social e da prática docente em sala de aula. Tornar efetiva a prática antirracista também exige cuidados essenciais, como a  auto vigilância em relação ao uso de expressões ou palavras ofensivas, que foram naturalizadas na estruturação da sociedade e se tornaram habituais. E ainda cuidados chegam ao nível da práxis pedagógica em sala de aula", aponta.

Para ela, o ou a docente antirracista precisa ser um (a) “militante” da luta empenhada no combate ao racismo, no desempenho diuturno de sua prática. "Fazer essa luta implica também em torná-la concreta e perceptível para os (as) discentes. E precisa estar visível na abordagem dos conteúdos lecionados em sala de aula. No tocante à pratica pedagógica da docência universitária, é necessário a inserção de bibliografia de autoria das de pessoas pertencentes às etnias inviabilizadas, inferiorizadas ou discriminadas, nas disciplinas, sempre que possível. É também importante que os conteúdos das disciplinas incluam temas que remetam ao preconceito e, que a abordagem destes conteúdos permita o debate com estudantes, para que haja diversidade e amplitude da reflexão", defende a professora.

Segundo a Onete Ferreira, cabe ao docente antirracista incluir, nas reflexões e mediações com os conteúdos, exemplos de fatos reais que incidam sobre o racismo e seu combate; se pronunciar, em sala e aula, sobre episódios de racismo noticiados ou que lhe cheguem ao conhecimento, onde quer que tenham acontecido, independentemente de haver relação com seu tema ou não. "Além desses cuidados, o (a) docente antirracista é aquele (a) que procura tornar recorrente na sua práxis o olhar crítico sobre assuntos que remetam à visibilidade e importância da causa", afirmou.

"Deve ter compromisso também com a divulgação ou indicação de eventos (lançamentos de filmes, congressos, seminários) que tratem diretamente ou tenham, de algum modo relação com o tema. E ainda contribuir para uma formação política que gere ou amplie a consciência crítica nos estudantes, para que eles (elas) também se sintam desafiados a abraçar a causa", disse. 

De acordo com Rai Soares, docente da UFF em Rio das Ostras, a prática antirracista é constante e deve ser um compromisso político de todo docente que luta contra qualquer forma de opressão e exploração. "Ser antirracista dentro de instituições racialmente estruturadas e em uma sociedade racista como a nossa, exige de nós docentes, conhecer, reconhecer e dialogar com intelectuais negros e negras que trouxeram para dentro do espaço acadêmico o debate e a produção teórica sobre a racialização das relações sociais, sobre o racismo e o antirracismo, quando estas questões eram negligenciadas nas universidades", considera.

Rai cita intelectuais negros como Guerrero Ramos, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Clóvis Moura, Neusa Santos Souza, Milton Santos, Andrelino Campos, entre tantos outros, como referências teóricas que devem ser difundidas nas mais diversas disciplinas. "Não é possível ser antirracista só no discurso. Antirracismo é práxis, é compromisso ético e político", argumentou. "A campanha "Sou docente antirracista" é tão importante por nos chamar para a prática cotidiana do antirracismo, sobretudo, no espaço institucional, na sala de aula, dentro dos sindicatos, em nossas formulações e atuações pedagógicas e políticas", complementou a professora.

Da Redação da Aduff

Momento da Marcha das Mulheres Pretas, realizada em julho de 2024, na Praia de Copacabana (RJ) Momento da Marcha das Mulheres Pretas, realizada em julho de 2024, na Praia de Copacabana (RJ) / Luiz Fernando Nabuco

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