Out
04
2024

"Não tem luta e enfrentamento organizado sem formação política", diz ex-presidente do Andes-SN

Marina Barbosa Pinto participou do seminário "Desafios contemporâneos para o sindicalismo", organizado pela Aduff, instituição que ela também já presidiu

"Não tem luta e enfrentamento organizado sem formação política", diz ex-presidente do Andes-SN / Thiago Ripper

"Movimento Sindical, novo sindicalismo e os desafios contemporâneos para o Andes-SN" foi o tema apresentado por Marina Barbosa Pinto, na tarde desta quarta-feira, dia 2, durante o seminário "Desafios contemporâneos para o sindicalismo", organizado pela diretoria da Aduff-SSind.  

Marina é assistente social, com mestrado na área e doutorado em História. Foi professora da UFF, esteve presidente da Aduff nas gestões 2001-2003 e 2008-2010, e vice-presidente no biênio 1999-2001. Foi ainda presidente do Andes-SN durante dois momentos: 2004-2006 e 2010-2012. Atualmente, ela é professora aposentada da Universidade Federal de Juiz de Fora. Além de Marina, Rubens Casara – juiz de direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, também participou como palestrante no evento, que ocorreu no Campus da UFF no Gragoatá e contou com transmissão ao vivo pelo canal do sindicato no You Tube e pela página no Facebook.

Inicialmente, Marina fez menção à emoção de estar na UFF, instituição que muito significa para a sua trajetória de militância e de vida acadêmica. "Não tem luta e enfrentamento organizado sem formação política, porque se não, vamos nos tornar tarefeiros sem objetivos estratégicos, nos colocando no imediatismo", disse. 

Na atual conjuntura, para Marina, um dos desafios postos ao sindicalismo é sobreviver como espaço coletivo e de construção de ações para enfrentar a realidade. Para ela, há duas premissas que devem ser consideradas em face do histórico do movimento sindical no país, em diferentes categorias, e o período contemporâneo. "A primeira é a ideia de um 'sindicalismo dentro da ordem' – apassivador e limitado ao possível, procurando uma estabilidade do patronato, seja governamental, seja privado, numa perspectiva muito mais de atuar dentro do que é o limitado pela ordem estabelecida. O segundo, que aparece já há algum tempo na realidade brasileira de diferentes formas, é um sindicalismo dedicado a fazer da ação sindical 'uma autopromoção', uma construção das suas vertentes organizativas, políticas e de ideias num sentido de instrumentalização dos aparatos sindicais a serviço dessas disputas internas ou partidárias, ou com governos, ou mesmo de atrelar ao governo", apontou.

De acordo com ela, os últimos anos foram de grandes retrocessos sociais, ideológicos, políticos, em uma conjuntura marcada pela crise do capitalismo e a ascensão da extrema direita como um projeto político e governamental no mundo. "Por mais que não nos caiba aqui remontar a história do nosso país, algumas coisas são importante relembrar. O perfil de construção da nossa classe, que passa a se constituir a partir de relações capitalistas, é também muito determinada pelo nosso passado escravocrata; assim como a construção da própria sociedade burguesa clássica no Brasil tem uma intercessão forte com o passado agroindustrial", considerou. "Temos um país que segue sendo um exportador de produto básico sem valor agregado; sem investimento em tecnologia para disputa de mercado; que na escolha pela correlação de forças e pela ação de grandes senhores locais e internacionais tem um lugar de não desenvolvimento autônomo como nação. É um lugar de um país que, pela conjuntura internacional, estabeleceu seu lugar desde antes da ditadura, com a ditadura, e pós ditadura, que é o de favorecer a engrenagem num patamar inferior", complementou a docente.

Segundo Marina, tal perspectiva econômica impacta na Educação, pois desenha um modelo voltado à produção do conhecimento e outro para mão de obra, aprofundando distorções e beneficiando a prevalência de um projeto privatizante diante do que seriam os direitos sociais. "Somos a contracorrente do ensino, pesquisa e da extensão. Os aspectos mais atuais têm apontado para uma mudança no mundo do trabalho, extremamente precarizado; uma educação terciária -  descartando o conceito de educação plena e de suas totalidade com as relações sociais, esvaziada e de larga escala, alienada; além da redução na mobilização [da classe trabalhadora] e na prevalência de uma cultura individualista", afirmou.

Para a palestrante, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelam alto índice de desemprego e ainda de flexibilização das relações de trabalho, com consequências para as políticas sociais, de assistência e de previdência. Mencionou também a desigualdade de acordo com raça e gênero e como as relações no mercado de trabalho atual reverberam no baixo número de sindicalização em diferentes ocupações. "O que acontece com os nossos sindicatos? O que está acontecendo com esse sujeito coletivo que não consegue mais trazer as pessoas?", questionou. 

Marina também falou sobre a disputa dos projetos de Educação em curso, com destaque para o impacto nas relações do trabalho docente e sua relação com a organização sindical. Falou sobre a necessidade de diálogo permanente com a categoria, para entender o que os colegas docentes anseiam, e apresentou algumas 'provocações'.   

"Há uma ausência e um abandono do projeto estratégico de ruptura, com influência da queda do muro [de Berlim]. Costumo dizer que é preciso um bom professor de História que fale sobre essa parte do mundo, que independentemente de minha opinião sobre ela, vivia diferente. A gente, agora, acha que só tem uma saída. E a ideia de combinação entre um projeto societário maior e o projeto particular de uma categoria é o desafio também de um sindicato, porque vai trabalhar a concepção de educação como direito e o papel social e a gestão das nossas instituições. Quando a gente resiste aos que foram colocados pelo governo Bolsonaro quebrando a Democracia, é uma forma de defender um projeto educacional e contrapor a ideia de aceitar o limite", disse.

Veja a apresentação de Marina Barbosa Pinto na íntegra: https://youtu.be/im5gu8MBgq4?t=2276

Da Redação da Aduff

"Não tem luta e enfrentamento organizado sem formação política", diz ex-presidente do Andes-SN / Thiago Ripper

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