Set
25
2024

Nota de repúdio da diretoria da Asduerj à entrada da tropa de choque na Uerj

O braço repressor e armado do Estado não pode ser o encarregado por solucionar as divergências e conflitos existentes no ambiente universitário

Nós, docentes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), reunidos em assembleia, repudiamos a entrada da tropa de choque no campus Maracanã no último dia 20/09/2024, a pedido da reitoria, conforme ficou explícito na documentação da Procuradoria Geral da Uerj acatada pela justiça. Esse dia ficou marcado nas páginas mais tristes da história da UERJ.

Ao solicitar a reintegração de posse, não se preservou a integridade física dos estudantes. O que vimos foram cenas de guerra, com bombas de efeito moral, helicópteros e toda a truculência e violência da polícia militar. O resultado foi a detenção de três estudantes e do deputado federal Glauber Braga (Psol), uma situação absurdamente inaceitável.

É inadmissível que os conflitos dentro da universidade sejam resolvidos com a convocação de uma intervenção externa, principalmente quando ela se configura como um braço repressor do Estado a serviço do governador de extrema direita Cláudio Castro. Vale lembrar que a Polícia Militar do Rio de Janeiro é uma das mais letais do país. Segundo o Observatório da Segurança, em 2022, 20% das mortes violentas foram provocadas pela PM, e, no mesmo ano, matou uma pessoa negra a cada quatro horas. Foi essa mesma PM que a Reitoria permitiu que entrasse no campus da Uerj, uma universidade pioneira no sistema de cotas e conhecida por sua inclusão, diversidade, e por ser um espaço ocupado majoritariamente por negros e moradores de favelas.

Não podemos normalizar a presença da polícia no campus universitário. Por alguns minutos, o direito de ir e vir, entrar e sair, na Uerj ficou sob controle da polícia. Estes episódios normalmente ocorreram em períodos de exceção, como durante a ditadura empresarial-militar. Inacreditável vê-lo acontecer em meio a uma gestão eleita democraticamente e com um programa que previa diálogo, democracia, transparência e a luta pela ampliação dos direitos da comunidade universitária.

O braço repressor e armado do Estado não pode ser o encarregado por solucionar as divergências e conflitos existentes no ambiente universitário. A presença da polícia militar em um espaço educacional é inaceitável. A autonomia universitária não pode ser comprometida por uma intervenção externa.

E, de fato, essa autonomia também foi violentada quando o espaço do centro acadêmico de filosofia foi arrombado, invadido e revirado, segundo denunciou a direção do IFCH e membros do CA em Assembleia Docente de 24/9. Esse ato, possivelmente registrado pelas câmeras de segurança, extrapola o que foi determinação judicial para desocupação e constitui precedente gravíssimo no espaço da Uerj e seu significado. É inadiável que a administração da universidade repudie e cobre esclarecimentos sobre essa violência que deve causar asco em qualquer espírito democrático.

A utilização de medidas que incluem a entrada da polícia no espaço universitário, juntamente com a criminalização de quem luta por direitos, afetando inclusive estudantes pobres e impondo multas altíssimas, constitui uma prática reprovável, cometida pelos agentes de repressão.

A militarização do campus é um grande retrocesso para a democracia interna da universidade pública e para a autonomia universitária. Acreditamos que o diálogo, por meio das entidades representativas e dos órgãos deliberativos institucionais, será sempre o caminho adequado para alcançar consensos e avançar na defesa da Uerj, sem a interferência da tropa de choque.

Lutar não é crime!

ParaTodosVerem: Foto colorida com policias do batalhão de choque enfileirados envoltos em fumaça tendo o prédio principal do campus Maracanã ao fundo. Fim da descrição.

Foto: Site da Asduerj

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