Com o mote “Nós, mulheres negras em Luta: ontem, hoje e sempre. Nos kilombos, nos terreiros, nos campos, nas periferias, nas favelas, nas cidades”, a 10° Marcha das Mulheres Negras do RJ desfilou pela Avenida Atlântica, na Praia de Copacabana, na luta contra o racismo e pelo bem viver. O ato que ocorreu na manhã e tarde de domingo (28) reuniu mulheres negras de todo o Estado.
Presente na manifestação, a nutricionista, especialista em Saúde Pública e mestre em Alimentação, Elisa Mendonça afirmou que marchar pela vida e pelo bem viver também envolve garantir uma alimentação saudável para as mulheres negras.
“As últimas pesquisas do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar mostraram que os lares chefiados por mulheres e por mulheres negras no Brasil são os lares onde se encontram os maiores índices de insegurança alimentar, são os lares mais vulneráveis. Os dados evidenciam a importância de a gente trazer a discussão da segurança alimentar racializada e focalizada, até porque as mulheres negras também são as maiores cuidadoras, em termos de número, e chefiam lares com crianças e idosos”, ressaltou.
Elisa destaca que o debate também é sobre a qualidade do alimento que essa população tem acesso. “Não é só sobre ter comida em casa, mas a que tipo de alimento se tem acesso. Não é qualquer alimento, ultraprocessados, refrigerante. É acesso a alimentos em quantidade suficiente e de qualidade adequeada para uma vida saudável”, reitera a nutricionista, coordenadora da Colansa, Comunidade de Prática América Latina e Caribe Nutrição e Saúde.
Integrante do Movimento Negro Evangélico (MNE-RJ), a educadora Denise Teixeira também esteve em Copacabana, na 10° Marcha das Mulhers Negras. No ato, ela afirmou que se o movimento evangélico é diverso e acolhe vários grupos e pensamentos, ela faz parte do movimento negro evangélico, "que luta em favor da vida e do bem viver".
"Estamos aqui para engrossar o caldo das mulheres negras contra todo tipo de racismo, contra o feminicídio e a favor do bem viver das mulheres e da população negra. E para convidar as pessoas evangélicas a engajarem nesta pauta”, disse.
Para Sílvia Lúcia Rocha Davi, do Centro Umbandista Caboclo Sete Flechas de Macaé, bem viver é uma vida sem racismo e com respeito. “Saímos de Macaé para lutar contra o preconceito, inclusive o religioso, e para mostrar que as mulheres negras são capazes de lutar pelo seu espaço. Tem que parar com esse negócio de entrar em terreiro e quebrar, de marginalizar religiões de matriz africana. A Umbanda é uma religião criada no Brasil, nós temos os mesmos valores de todas as que pregam o respeito ao próximo”, enfatizou na Marcha.
Professora da UERJ e integrante do Fórum Carioca e do Fórum Estadual de Mulheres Negras do RJ, Rosi Freitas afirmou na Marcha que as mulheres negras irão parir a revolução no país.
“Mulheres negras unidas movimentam a cidade e o estado do Rio de Janeiro. Mulheres negras unidas vão movimentar esse país para que não haja nenhuma mulher negra sem acesso a direitos, para que não haja nenhuma mulher negra que viva o luto pela perda de sua cria, para que não exista nenhuma mulher negra, cis ou trans, executada, quer pelas mãos do Estado, quer pelo machismo que nos abate em todo os tempos. Saio daqui com essa certeza. Nós unidas vamos parir outro país”, finalizou.
"A Marcha é um pedaço de cada uma de nós. É um espaço de troca e fortalecimento das mulheres negras. É um ato de resistência, de luta e de ousadia. Muitas de nós não conseguiram chegar, tiveram seus sonhos e vidas interrompidas. Nós que chegamos, driblamos o racismo para estar aqui. É por nossas ancestrais, pela geração que vem depois. Nós vamos voltar aos nossos municípios e territórios e não vamos aceitar cala boca. Somos a maioria da população desse Estado", ressaltaram, na abertura do ato, integrantes do Fórum Estadual de Mulheres Negras do RJ, que compõem a coordenação da Marcha.
O ato que se concentrou no Posto 3 de Copacabana, percorreu a Avenida Atlântica, até o Leme.
Da Redação da Aduff | por Lara Abib
Fotos: Luiz Fernando Nabuco