Abr
19
2024

“A luta indígena não é a defesa apenas de seus povos, mas do mundo, da sociobiodiversidade em meio à crise climática”, diz docente da UFF

Para Suenya Santos, do Departamento Interdisciplinar de Rio das Ostras e integrante do GTPAUA da Aduff, 19 de abril é dia de resistência dos povos indígenas, e a universidade deve se debruçar sobre o tema, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão

A luta por uma sociedade que respeite a diversidade dos povos é um assunto importante para a universidade brasileira, como aponta a professora Suenya Santos, do Departamento Interdisciplinar UFF em Rio das Ostras. Neste dia 19 de abril, data em que se homenageia os povos indígenas, a docente que é integrante do Grupo de Trabalho em Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA) da Aduff e do Núcleo de Estudos em Agroecologia Coletivo Humanista Autogestionário Interdisciplinar de Agroecologia (NEA CHAIA) da UFF, fez algumas considerações sobre o assunto, afirmando que, sobretudo, 19 de abril é dia de resistência. 

De acordo com ela, a universidade precisa assumir a ignorância em relação aos povos indígenas. “Ao longo de todo o território nacional, seguindo a lógica moderna de ocupação de territórios a partir da cisão campo/cidade, ainda temos cerca de 300 povos indígenas que resistem e sobrevivem ao genocídio de ontem e de hoje”, explicou a docente.

Para Suenya, é preciso reconhecer a importância da luta indígena e as diversas denúncias feitas por lideranças de diferentes etnias sobre a necessidade urgente de se preservar o planeta e, consequentemente, a vida humana na Terra. 

“Suas lutas revelam uma cosmologia em que as vivências pluriculturais têm em comum o entendimento de que nós humanos fazemos parte da natureza, que nossa vida depende do cuidado com a terra, as florestas, as águas, o ar, e outros animais. Portanto, a natureza é fonte de alimento, de relações, de sonhos, de conhecimentos, de alegria, de cantos, celebrações”, explica. 

Segundo a professora, “em sua teimosia de existir, eles (indígenas) têm projetado o espelho que receberam dos colonizadores no céu da sociedade que se constituiu a partir dessa violência primária”, revelando o mau uso de recursos naturais, a exploração da natureza e a sua consequente destruição.  

Citando o Xamã Davi Kopenawa, a docente da UFF em Rio das Ostras afirma que “se continuarmos nessa trilha, o céu cairá sobre nossas cabeças”. Ela explica: “historicamente os não indígenas são homens brancos que sob o baluarte da modernidade, a partir da guerra ou de instituições democráticas, vêm se apropriando do mundo, devorando suas florestas, suas riquezas, escravizando e exterminando povos, renovando a violência contra os povos tradicionais que se encontram no caminho do desenvolvimento do capitalismo. Dessa forma, a imagem que vemos nesse espelho é de lastro de violência que suja nossas mãos de sangue”, considera Suenya.

Marco Temporal 

A professora Suenya Santos lembra que a vida, da sociedade em geral, tem sido ameaçada de diferentes maneiras. Uma dessas ameaças recentes envolve o chamado “marco temporal”, em que apenas os povos indígenas que demonstrem que estavam fisicamente ou lutando juridicamente pela posse da terra até 5 de outubro de 1988 teriam direito à mesma. “Ora, esses povos são os donos da terra, que cuidam dela e a cultivam pois sabem que dela depende sua existência”, afirma.

Para a docente, mesmo diante da declaração de inconstitucionalidade do “marco temporal” pelo Supremo Tribunal Federal, em 2023, é preciso estar atento ao movimento de parlamentares que desejam reaver a discussão sobre o tema. “O congresso brasileiro retoma essa tese que sentencia a morte, pois sem terra não há existência. Então, devemos nos perguntar: o que queremos ver nesse espelho: morte ou vida?”, indaga. 

De acordo com Suenya Santos, “a luta indígena não é a defesa apenas de seus povos, mas do mundo, da sociobiodiversidade em meio à crise climática. Uma luta que se alia à luta das mulheres, dos povos aquilombados por todo esse país”. 

Por isso, para a professora, sendo a Universidade um espaço de produção de conhecimento, é preciso haver disposição para dialogar, trocar e aprender com os povos indígenas. “É trocar e aprender com essas formas de existir, de conhecer e de viver na terra, que cria uma economia a partir da convivência com as florestas, as águas, outros seres”, diz

Segundo a docente, a riqueza não segue a lógica do capital. “Está na saúde do solo, das águas, que nos proporciona o alimento para o sonho e para a vida. Precisamos reconhecer esse conhecimento e outros tantos que compõem uma ecologia decolonial, em que o céu é de sonhos e não de violência. Devemos trazer essa pauta para dentro das universidades por meio do ensino, da pesquisa e da extensão. E ainda como atividade de mobilização durante a greve da categoria docente, que será iniciada em 29 de abril”, conclui.

Assim como a professora Suenya Santos, a Aduff-SSind apoia a luta pela demarcação imediata das terras indígenas.

Da Redação da Aduff
Foto: Luiz Fernando Nabuco

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