Mar
28
2024

Andes-SN divulga nota sobre a luta por justiça para Marielle e Anderson

Tanto o Andes-SN quanto a Aduff participam, há 6 anos, da luta por justiça. Nota do Andes-SN afirma que Marielle, que lutava pela vida da classe trabalhadora nas periferias e favelas, foi morta por interesses econômicos e privados que tomaram os aparelhos do Estado

Ato nos 6 anos do assassinato de Marielle e Anderson, realizado no Rio em 14 de março de 2024 Ato nos 6 anos do assassinato de Marielle e Anderson, realizado no Rio em 14 de março de 2024 / Luiz Fernando Nabuco/Aduff

Desde que a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram brutalmente assassinados no Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018, a Aduff-SSind se solidarizou às famílias das vítimas e prontamente se uniu aos demais representantes da sociedade civil - entre organizações, movimentos sindicais e populares e ações individuais -  cobrar solução para o crime político. 

Socióloga e moradora da favela da Maré, quinta vereadora (Psol) mais votada nas eleições de 2016, Marielle era uma mulher negra e bissexual, militante das causas feministas e LGBTQIA+, com atuação marcante na defesa de direitos sociais e humanos. Se posicionava contra discriminações raciais, contra o decreto do governo federal de Michel Temer de intervenção militarizada na segurança fluminense, e denunciava abusos policiais nas incursões em favelas. 

Passados seis anos, o Ministério Público e a Polícia Federal chegaram aos mandantes e ao motivo que levaram à execução da veredadora, concluindo o que parecia ser óbvio para muitos brasileiros:  milicianos - criminosos que tantas vezes elogiados e homenageados pelo último presidente do Brasil desde os tempos em que era um "reles deputado" - estiveram diretamente envolvidos no crime. Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa foram presos dia 24 de março após a delação de Ronnie Lessa, que também está preso e é acusado de apertar o gatilho. 

Domingos Brazão é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ); Chiquinho Brazão é deputado federal pelo União Brasil — e por isso tinha foro especial; Rivaldo Barbosa era chefe da Polícia Civil à época do atentado e, atualmente, era coordenador de Comunicações e Operações Policiais da instituição.  

Barbosa foi nomeado para comandar a polícia civil um dia antes do atentado. A ascenção ao cargo teria sido uma recomendação do general do Exército Walter Souza Braga Netto, do Comando Militar do Leste, que tinha sido empossado como interventor no estado, responsável pelo comando da Secretaria de Segurança. Braga Netto tornou-se, pouco tempo depois, Ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro, e hoje tem o nome envolvido em investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2024. 

Rivaldo Barbosa, então à frente da Polícia Civil, teria participado do planejamento do crime ao lado dos irmãos Brazão e ajudado a atrapalhar as investigações. Não surpreende mais o fato de, em 14 de março de 2018, câmeras da região central do Rio de Janeiro terem sido desligadas, pouco antes que Marielle encerrasse sua participação em uma atividade política na Casa das Pretas, na Lapa, e seguisse conduzida por Anderson para casa. 

Causa indignação Rivaldo Barbosa ter recebido a família de Marielle, poucos dias após o crime, e ter dito que se comprometeria com a investigação do assassinato. À época deputado federal,  Marcelo Freixo, de quem Marielle foi assessora, também participou dessa conversa e afirmou à imprensa ter telefonado inicialmente para Rivaldo, logo após ter sabido do assassinato de Marielle no bairro do Estácio. 

Segundo o Ministério Público, a vereadora Marielle Franco era considerada um obstáculo ao projeto que facilitaria a exploração econômica de territórios na Zona Oeste do Rio de Janeiro, notadamente uma das áreas de atuação da milícia e de outros aliados do Brazão na cidade. Chiquinho Brazão, na época também vereador, apresentou o Projeto de Lei Complementar (PLC 174/2016) que mirava a grilagem de áreas irregulares em Jacarepaguá, Taquara e adjacências. Marielle e a bancada do PSOL votaram contra a proposta, que, no mesmo dia do assassinato foi aprovada. Algum tempo depois, o dito PLC foi considerado inconstitucional pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do RJ.

Andes-SN divulga nota

"Toda essa trama evidencia a imbricação do Estado burguês, seus braços armados com interesses econômicos e políticos privados que tramam nas sombras o extermínio de lideranças que representam interesses populares e do(a)s trabalhadore(a)s. A milícia, como força paraestatal, não é apenas um problema local, mas um sintoma de um sistema corrupto que prioriza os interesses das classes dominantes em detrimento das vidas do(a)s trabalhadore(a)s nas áreas suburbanas e periféricas', diz nota da direção do Andes-SN de 26 de março corrente.

A íntegra pode ser lida aqui

De acordo com o Sindicato Nacional, às vésperas dos 60 anos da instauração da ditadura empresarial-militar, é preciso lembrar o quanto falta para que haja o estabelecimento de uma justiça, de fato, para todos, todas e todes. "Por isso, é hora de fortalecer as iniciativas de construção das lutas populares, da unidade contra a barbárie promovida e financiada pela burguesia, pelo imperialismo e pela extrema-direita, para reclamar justiça com este crime e com todos os crimes contra a população negra e pobre, as mulheres, a população LGBTI+, os povos originários, a juventude e a classe trabalhadora", afirma o documento.

Outro mundo possível

"A minha fala é atravessada de muitos lugares no caso da Marielle, pessoalmente falando. Tínhamos um monte de amigos em comum, nos encontrávamos em passeatas, em manifestações...Fiz campanha política para a Marielle", conta Maria Cecília Castro, docente do Colégio Universitário Geraldo Reis - Coluni/ UFF e presidente da Aduff-SSind.

Cecília destaca o fato de Marielle ter sido uma pessoa comprometida com a militância, as pautas sociais e das minorias. "Ela era uma mulher com uma representatividade incrível, a qual admiramos e seguiremos admirando. Marielle é gigante! É vislumbrar um outro mundo possível, com uma política de fato que atende aos interesses da classe trabalhadora, às diversidades que nos constituem", disse a presidente da Aduff.

Para ela, o papel da seção sindical dos e das docentes da UFF, diante da gravidade dos fatos que envolveram a execução de Marielle e Anderson é não se calar. "É pedir justiça por todas e todos aqueles que são invisibilizados nas pautas políticas e sociais", avalia.

Segundo Cecília Castro, Marielle deixou um legado mesmo depois de 14 de março de 2018, pois inspirou várias pessoas a seguirem lutando por transformações na política, na sociedade. 

Para ela, a representatividade de Marielle Franco também está diretamente ligadas à luta por maior diversidade no ambiente universitário. A vereadora formou-se em Ciências Sociais pela PUC-Rio, cursando a universidade com bolsa integral. Defendeu a dissertação de mestrado  intitulada "UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da Política de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro”, no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAd) da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Turismo da UFF. 

"A Marielle também traz uma coisa muito importante para a universidade, que é a perspectiva de diversidade. E a Marielle foi essa pessoa que representou uma quantidade gigante de meninas pretas na universidade, uma mulher pesquisadora... Durante muito tempo, colaborou no pré-vestibular da Mangueira e a gente viveu esse sonho de ter uma universidade transformada, com espaço para pessoas LGBTs, pretas, pobres, periféricas capazes de acessar a universidade e transformá-la, transformar o mundo", concluiu Cecília Castro.

Da Redação da Aduff
Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco

Ato nos 6 anos do assassinato de Marielle e Anderson, realizado no Rio em 14 de março de 2024 Ato nos 6 anos do assassinato de Marielle e Anderson, realizado no Rio em 14 de março de 2024 / Luiz Fernando Nabuco/Aduff

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