Mar
14
2024

14M leva às ruas luta por justiça por Marielle e Anderson e para todas as vítimas de violência do Estado

Crime completa 6 anos sem responsabilização de mandantes. “Família vai seguir lutando, sendo a continuação do sonho dela e a resistência com ela”, destaca a filha de Marielle, Luyara Santos

14M leva às ruas luta por justiça por Marielle e Anderson e para todas as vítimas de violência do Estado / Luiz Fernando Nabuco

“Seis anos é tempo demais. É tempo demais para a dor, para a saudade, para a justiça. É inadmissível que a nossa família e a família do Anderson ainda não tenham respostas sobre quem mandou matar, é inadmissível que os executores ainda não tenham ido para júri popular. A família vai seguir lutando e seguir sendo a continuação do sonho dela e a resistência com ela”, disse a filha de Marielle Franco, Luyara Santos, em ato público que se concentrou na Praça Mario Lago, no Centro do Rio, em frente à estátua da ex-vereadora, após a missa de 6 anos em homenagem a Marielle e Anderson Gomes.

Convocado em articulação com a “Coalizão Negra por Direitos”, o ato seguiu até a Câmara Municipal pedindo justiça para Marielle e Anderson e por todas as vítimas da violência do Estado. A manifestação, que é parte de uma agenda de lutas promovida pelo Instituto Marielle Franco no mês de março, contou com a presença marcante de grupos de familiares e de mães que lutam contra a violência policial no Rio de Janeiro. Algumas chegaram a conhecer Marielle antes mesmo de se eleger vereadora, ainda como assessora da Comissão de Direitos Humanos da Alerj.

Entre as principais palavras de ordem, além do pedido por justiça, a mais emblemática entoada há 6 anos contra o genocídio da juventude negra, a criminalização da pobreza e a militarização da vida: “Marielle perguntou e eu também vou perguntar: quantos mais têm que morrer para esta guerra acabar?”

Fátima Pinho, do Grupo Mães de Manguinhos, contabiliza os anos de luta por justiça e pede um basta à impunidade.

“Seis anos na luta por justiça para Marielle. Eu estou há dez anos na luta por Paulo Roberto. Ana Paula, dez anos por justiça para Johnatha. E muitos outros familiares pedindo justiça. Gente, até quando? Todo dia a gente liga a televisão e vê mais mães chorando. E o pior, muitas pessoas batendo palmas para o que está acontecendo. Chega de impunidade. Estamos cansados de perder os nossos todos os dias, de ver mães pedindo justiça e a justiça não acontecer. Hoje é minha neta pedindo justiça por Marielle e pelo tio que ela não chegou a conhecer, como muitos filhos não conheceram seus pais”, disse.  

Presente no ato, a neta de Fátima, a pequena Alice Vitória, pediu “justiça por Marielle, por todo mundo e por todo jovem preto”.

Maria Rúbia Brito da Silva, do Complexo do Chapadão, conta que perdeu o filho Pablo Henrique da Silve Rangel, em 2019, assassinado por agentes do Estado com um tiro na nuca. “Estamos cansadas de ver nossos filhos negros tombarem. Queremos justiça por Marielle e por nossos filhos. Quando eles não condenam ninguém, eles condenam nós mães”, reforçou.

No ato, Anielle Franco disse que sua fala, para além de família e irmã de Marielle, é de indignação com tantos casos e familiares sem resposta. “A gente não pode normalizar nem naturalizar as fotos que estão aqui. Não é normal a gente ter um jovem negro assassinado a cada 23 minutos nesse país, não é normal uma mulher negra ser violentada a cada 6 horas. Não é normal e é dever que a gente tem, enquanto Estado, de responder e de proteger nossa população”, frizou a também Ministra da Igualdade Racial.

Para ela, a resolução do caso de Marielle e de Anderson é um compromisso da democracia brasileira, que precisa dar resposta para tantas mulheres que ocupam corajosamente a política neste país.  

“Quero aproveitar e saudar e reverenciar minha mãe, minha sobrinha e todas as mães e mulheres que se colocam nesses lugares. Todos os dias a gente vive, vivencia e vê, concretamente, a violência politica desse país e isso precisa acabar. (...). O que a gente não pode permitir mais, em hipótese nenhuma, é que a gente não dialogue a favor da democracia e de uma população que siga viva. É o meu desejo aqui hoje”, finalizou.

Da Redação da Aduff | por Lara Abib

Foto: Luiz Fernando Nabuco

14M leva às ruas luta por justiça por Marielle e Anderson e para todas as vítimas de violência do Estado / Luiz Fernando Nabuco

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