Mar
11
2024

"Quem vai trair o pacto da cisgeneridade, da branquitude e do machismo?", pergunta estudante trans da UFF

'Não é para estarmos sozinhas. Luta por inclusão também deve envolver sindicatos e pessoas cisgêneras', defendem estudantes trans na UFF, em  entrevista à reportagem da Aduff

 

As estudantes da UFF Ariela Nascimento (Ciências Sociais - Licenciatura), Gabe Moreira (Serviço Social) e Lua Braga (Ciências Sociais - Licenciatura) defendem que a luta pela inclusão de populações marginalizadas na universidade deve também ser abraçada pelas entidades sindicais. 

Para Lua Braga, a Aduff-SSind e os demais movimentos políticos e sindicais devem interagir com as mobilizações e atividades da Rede Trans. Para ela, a luta por inclusão ultrapassa as populações marginalizadas e exige um envolvimento da sociedade como um todo. 

“A gente tem os diretores de unidade, de institutos no CUV; mas quando eu estou no CUV, sou a única da Rede Trans [como conselheira]. Então, quando eu vou falar sobre as pautas trans, sou eu sozinha e essa outra gama de profissionais poderia estar lá se somando com a gente, assinando a nossa carta. Professores também podem acrescentar autores trans as ementas dos cursos”, sugere Lua.

Gabe reforça a importância em se ter pessoas cisgêneras comprometidas no cotidiano com as demandas por inclusão. “Se a gente buscar olhar ao nosso redor, verá o quanto esses espaços são projetados para a cisgêneridade mesmo. E como o corpo docente, sobretudo em cargos de chefia de cursos e direção, pode conseguir transformar um pouco esses espaços. O movimento estudantil, o movimento social, movimento trans da Universidade hoje têm conseguido avanços. Mas eu sinto também que não era para gente, enquanto o movimento estudantil, estar tensionando sozinho”, afirma. 

Ariela também defende que a comunidade universitária apoie coletivamente a campanha encaminhada pela Rede Trans, que se fortalece a partir das movimentações dos militantes, para além dos muros da UFF. 

“A nossa trajetória não se inicia dentro da Universidade. Quando falamos de movimento LGBTQIA+, vemos que nascemos ali, nas ruas, nos becos e nas vielas , com diversos processos de aprendizagem. Inclusive, a movimentação política que a gente fez para fora da universidade resultou na cadeira que a gente tem e que eu ocupo hoje no DCE [para o movimento LGBTQUIA+] e para conseguir o GT [com a reitoria]. Construímos uma carta apoiada e assinada por diversas instituições e organizações, como a Antra, o Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans), a Rede Trans da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e as redes das outras universidades", diz.

De acordo com Ariela, a maior dificuldade é conscientizar e envolver a Universidade na luta e viabilização de oportunidades para as populações marginalizadas. “Essa campanha precisa florescer na Universidade de uma maneira mais incisiva, com nossos aliados diante disso. Hoje a gente fala sobre visibilidade e representatividade, a gente não quer falar só sobre isso; a gente quer aliados, mas também traidores. Quem vai trair o pacto da cisgeneiridade? Quem vai trair o pacto da branquitude? Quem vai trair o pacto do machismo? O pacto de um sistema que está a todo o momento engolindo a gente?”, provoca.

A estudante também acredita no benefício de uma maior aproximação de estudantes, técnicos e docentes para criar estratégias que possibilitem transformações na realidade e no futuro. “Não vamos sair daqui com uma receita de bolo, os diálogos têm que ser constantes, corriqueiros e maduros para que se criem processos capazes de incidir nessas demandas que a gente está levantando. Queremos a Aduff conosco nesse processo de cota trans e travesti dentro da Universidade”, diz.

Da Redação da Aduff
Por Aline Pereira
Fotos de Luiz Fernando Nabuco 

Additional Info

  • compartilhar: