Mar
11
2024

8M | Em Campos, mulheres pediram justiça pelas meninas de Guarus e realizaram “amanhecer” com distribuição de café da manhã

Dia Internacional de Luta das Mulheres em Campos dos Goytacazes teve memorial em homenagem a todas as vítimas de feminicídio e de violência, pedido de justiça para as ‘meninas de Guarus’ e amanhecer com café da manhã na rodoviária da cidade.

Na última sexta-feira (08), a Praça São Salvador, em Campos dos Goytacazes, amanheceu com sapatos, flores, velas e faixas, num memorial organizado pelo Movimento Unificado de Mulheres (Movimentum), como parte das atividades do Dia Internacional de Luta das Mulheres na cidade.

“Que nossa homenagem seja sempre transformar luto em luta”, defendiam nas ruas, enquanto reivindicavam por mais políticas de proteção às mulheres, de enfrentamento às diversas formas de violência de gênero e exploração sexual.

A primeira ação do dia também pedia justiça para as meninas de Guarus, caso de prostituição infantil que envolveu políticos, empresários, médicos e figuras públicas de Campos dos Goytacazes. Crianças e adolescentes pobres, com idade entre 8 e 17 anos, foram aliciados para exploração sexual. Meninas (e também meninos) foram drogadas, mantidas em cárcere em uma casa, localizada em Guarús, bairro de Campos dos Goytacazes, e prostituídas.

O caso, que foi descoberto e denunciado após uma vítima conseguir fugir do cativeiro, começou a ser investigado em 2009, mas só em julho de 2016 ocorreu o julgamento, que condenou 14 réus. Nenhum deles está preso.  

De acordo com Luciane Soares da Silva, professora do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) - em artigo publicado pelo jornal Brasil de Fato, em 5 de novembro de 2020, durante as investigações, o fechamento de uma casa de shows, do filho de uma importante figura pública na política local, ilustraria bem o quanto a rede de pedofilia era estruturada.

“Em documentos consultados, o local era utilizado para venda de drogas e proporcionava situações de exploração sexual. Um dos indiciados, que teria machucado gravemente uma das meninas, tinha cargo de confiança no governo municipal”.

Algumas das crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual vinham de casas-abrigos do Conselho Tutelar de Campos e muitas eram de outros estados como Minas e Espírito Santo. Algumas também estavam em listas de desaparecidas, vítimas de tráfico de pessoas.

 “É um caso bem sério, com muitas camadas e que não pode cair no esquecimento. Esses caras responsáveis por escravizar e estuprar crianças e adolescentes são influentes na cidade e seguem impunes, muitos estão vindo ou voltando como candidatos. Se não eles, os filhos”, afirma Amanda Durães, que integra o Movimento de Mulheres Unificado de Campos e é formada em Administração Pública pela UENF.

“Nosso memorial é uma homenagem a todas as vítimas de feminicídio e de violência e um pedido de justiça para as meninas de Guarus e para as todas as mulheres assassinadas e violentadas pelo patriarcado”, reforça. Ela conta que os sapatos arrecadados para realizar a ação serão doados para pessoas em situação de rua e com carências socioeconômicas.

Café da manhã e Amanhecer com Elas

Além do memorial, o movimento de mulheres de Campos também realizou um amanhecer com café da manhã na Rodoviária Roberto Silveira, com distribuição de 200 kits de café da manhã. Na atividade, elas entregaram materiais falando sobre os casos de violência da cidade e a importância de estar nas ruas reivindicando os direitos das mulheres.

Formada em Serviço Social pela UFF-Campos, Danielle Pádua destaca que ambas as atividades foram muito bem recebidas. “A gente foi para a rua mostrar que para além de um dia simbólico de ganhar flores, o 8 de março é um dia de luta, de denúncia e de reivindicação de direitos, para a gente não mais naturalizar o que nós mulheres sofremos cotidianamente”, disse.

Ela destaca que a cidade de Campos dos Goytacazes tem visto os números de casos de violência e crimes sexuais crescer exponencialmente. De acordo com levantamento da DEAM de Campos dos Goytacazes, de 2022 para 2023 houve um aumento de 50,5% dos casos. Em apenas 10 meses foram registrados 90 casos de estupros de vulnerável e 1.105 pedidos de medidas protetivas, apenas em 2023.

“As mulheres campistas correm perigo! Estamos nas ruas para questionar: quais políticas públicas a prefeitura tem para reduzir os casos de estupro, feminicídio e de agressão às mulheres?”, perguntava o panfleto distribuído em ambas as atividades.

Da Redação da Aduff | Por Lara Abib

Fotos gentilmente cedidas por Kellen Gomes e Amanda Durães

 

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