Defender liberdades democráticas e lutar contra o autoritarismo são princípios que a Aduff persegue desde a sua existência, há 45 anos. Eles foram reafirmados durante o lançamento do Memorial Cambahyba, nesta quarta-feira (6), em Campos dos Goytacazes, que surge como símbolo de resistência contra a ditadura empresarial-militar brasileira. Além da direção do sindicato, os professores e os estudantes da unidade estiveram presentes no ato organizado por diversas entidades em defesa dos direitos humanos, que contou com o apoio da seção sindical de docentes da UFF e do Andes-SN.
O Memorial Cambahyba é uma usina de cana-de-açúcar desativada, área que hoje abriga o assentamento Cícero Guedes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e já está oficialmente destinada para fins de reforma agrária. O lançamento do Memorial se insere em um conjunto de manifestações políticas e críticas que devem marcar os 60 anos do golpe de 1964, a serem completados em abril do próximo ano.
Segundo Amanda Guazzelli, da direção da Aduff e docente da UFF em Campos dos Goytacazes, a antiga usina Cambahyba serviu de fornos para a incineração de corpos de militantes durante o terrorismo de estado impetrado durante a ditadura empresarial-militar, que perdurou no Brasil por 21 anos. Entre eles, os corpos de Fernando Santa Cruz, à época aluno da UFF que hoje dá nome ao Diretório Central dos Estudantes da universidade; e Ana Kucinski, a única mulher entre os 12 nomes de militantes já listados como tendo sido 'desaparecidos' nos fornos da usina. Para ela, o lançamento do Memorial é importante na "luta permanente pela memória, justiça, verdade e reforma agrária, num país cuja democracia é fruto das lutas da classe trabalhadora".
De acordo com Matheus Thomaz da Silva, professor da UFF em Campos, o evento toca em especial aos militantes dos movimentos sociais. "Tanto pelo simbolismo, de transformar um lugar onde foram incinerados corpos na ditadura, dando outro significado, que é o de resistência e luta, para refletirmos sobre o que passou. É para que nunca mais aconteça, para que não se esqueça. Além de tudo isso, é um espaço que foi ocupado pelo MST, numa reivindicação de reforma agrária, uma usina que tinha trabalhos análogos à escravidão, com seus boias-frias e outras questões. É muito importante darmos os primeiros passos em uma sociedade que cada vez mais está recrudescendo o conservadorismo, com o fascismo à espreita de alguma coisa para se tornar vigente como poder. Tivemos a participação do movimento estudantil, de quilombola, do MST, então, é uma expressão muito importante para luta de classes. Esse Memorial pode ser um marco nessa cidade de Campos, que é muito conservadora", explicou.
Segundo Fernanda Vieira, docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e primeira secretária da Regional Rio do Andes-SN, o Memorial denuncia o passado tenebroso da história do Brasil. "São 60 anos da ditadura e ao mesmo tempo 23 anos de luta do MST pela conquista dessa terra. É um memorial vai também apontar uma projeção para o futuro em que as marcas sejam a resistência e a luta para uma vida emancipada", disse.
Da Redação da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho e Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco