Dez
06
2023

Em mesa sobre conflito na Palestina, palestrantes defendem denúncia do genocídio e de limpeza étnica promovida pelo Estado de Israel

Com tema "Palestina ontem, hoje e amanhã", mesa contou com a participação de Breno Altman, jornalista e fundador do Opera Mundi e de Valério Arcary, historiador e professor titular no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) 

“A guerra não é Israel versus Hamas. A guerra é mais um episódio de um Estado colonial racista contra a existência de um povo colonizado, que se recusa a render-se e reage através de todas as formas de luta, incluindo a luta armada”.  Essa é a avaliação de Breno Altman, jornalista e fundador do Opera Mundi, em debate organizado pela Aduff-SSind, no dia 5 de dezembro.

Com tema "Palestina ontem, hoje e amanhã", a mesa também contou com a participação de Valério Arcary, historiador e professor titular no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e foi transmitida pelas redes sociais da Aduff e pode ser assistida na íntegra em https://www.youtube.com/watch?v=9cmGJhbtDHA

No debate, o jornalista destacou que não haverá solução para o conflito sem a derrota do regime sionista, que de acordo com ele, nunca teve como objetivo aceitar a tese de dois Estados. “O sionismo aceita a tese dos dois Estados dentro de uma concepção de que era necessário encaixar essa proposição, mas sempre concebida como uma forma de ganhar tempo para expandir o Estado sionista”.

Ele cita a ofensiva de colonos israelenses em terras palestinas, que hoje já ultrapassam 700 mil pessoas, inviabilizando um contínuo territorial que pudesse garantir a construção de um Estado palestino. “Não existe Estado sem continuidade territorial”, alertou e afirmou: “Israel nunca esteve disposto a cumprir nem os tratados de Oslo”.

Os tratados estabeleceram divisão do território Palestino em três áreas. Quando o Acordo de Oslo foi assinado, em 1993, havia pouco mais de 110 mil colonos judeus vivendo na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. O número hoje é superior a 700 mil.

Para Altman, o Estado de Israel vinha conseguido isolar a questão palestina e bloquear, cada vez mais e com mais intensidade, os caminhos para a formação dos dois Estado. Ele ressaltou que ao avançar na marginalização da questão palestina, o sionismo dava um passo fundamental “para consolidar o Estado de Israel em todo o espaço Palestino histórico”. Os ataques empreendidos pelo Hamas, em 7 de outubro deste ano, foram uma inflexão nesta história.

“O povo palestino suportou nesses últimos 16 anos fome, sede e falta de perspectiva, com assassinato de milhares de civis. Israel murou a Faixa de Gaza e transformou Gaza no maior campo de concentração do mundo, reprimindo duramente o povo palestino, submetendo os palestinos a humilhações, perseguições, não só em Gaza, mas também na Cisjordânia. (...) Evidente que muito se pode comentar sobre o excesso de violência, da adoção de alvos civis e de casos de brutalidade sempre inaceitáveis, mas é direito do povo palestino se defender e reagir contra o colonialismo de Israel”, afirmou.

Segundo o jornalista, o que o governo de Benjamin Netanyahu busca agora com o genocídio e o massacre de civis, mulheres e crianças palestina é “efetivamente concluir a limpeza étnica dentro da estratégica permanente do sionismo de controlar toda a Palestina histórica.

Ele reitera que a conquista da paz, com a formação do Estado palestino, depende da derrota do sionismo. “Não haverá solução sem a derrota do regime sionista. Como não houve solução na África do Sul antes do regime de apartheid acabar”, disse.

“São atrocidades que serão lembradas por gerações e gerações”

Valério Arcary, historiador e professor titular no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), localiza o sionismo como um movimento político social, que não é só nacionalista, mas que impõe o apartheid como regra fundamental de sua organização. “É um Estado somente para os judeus, árabes são cidadãos de segunda, terceira classe. Não há direitos equivalentes, a base é a exclusão politica e social”, frizou no debate.

O docente também fez questão de lembrar que Israel é dono de um dos maiores exércitos do mundo, inclusive com arsenal nuclear e que está sob hegemônica crescente da extrema direita, “inclusive neofacista, que defendem abertamente que o povo judeu tem que exercer o domínio da terra santa”.

Arcary concorda com Altman que a ofensiva militar do Hamas não autoriza a conclusão de uma guerra por legítimo direito de defesa, que já superou a marca de 15 mil mortes, a maioria de civis, mulheres e crianças.

“O conflito se inicia no começo do século 20, após a aprovação na assembleia da ONU da partilha da Palestina, é aí que ocorre a grande catástrofe. É o Estado de Israel que declara guerra contra a Palestina, numa operação militar que desaloja mais de 700 mil pessoas, que perderam suas terras, suas casas, seus negócios e que foram expulsas de terras ocupadas durante séculos por seus ancestrais. É um conflito ininterrupto desde 1947”, reiterou.

O professor chama atenção para uma “manipulação da solidariedade”, que tenta legitimar uma guerra sem fim que promove a limpeza étnica. “As vítimas de ontem se transformaram nos carrascos do povo palestino. Não é necessário alcançar os 2 milhões de mortos  para nivelar a perseguição, que tem a mesma natureza imperialista dos judeus, na 2° Guerra Mundial,  e de palestinos”, disse.

Sobre o Hamas, Valério Arcary destaca que é um movimento de libertação nacional, um de múltiplos do povo da Palestina, de natureza sunita e que exerce poder numa parcela limitada do território – principalmente na Faixa de Gaza. Ele friza que o Hamas não tem nenhuma relação com a esquerda mundial, mas que exerce uma representação política evidente e que realiza ações armadas. “A gente não precisa diminuir as críticas aos ataques à população civil, nem diminuir o fato de que o povo palestino têm direito à autodefesa da ocupação colonial”, reitera.

Arcary também pede cuidado com a construção política de “terrorista”. Ele lembra que opositores da ditadura brasileira que pegaram em armas foram chamados de terroristas, que franceses que lutaram contra a ocupação nazi-fascista da Alemanha foram chamados de terroristas e até Nelson Mandela foi acusado de ser um terrorista.

O docente salientou ainda a importância de o governo brasileiro, através do presidente Lula, denunciar o genocídio do povo palestino e defendeu que a esquerda brasileira vá além e reivindique a ruptura de relações diplomáticas com Israel.

Para Valério Arcary, ainda que o Estado de Israel consiga estabelecer domínio militar na Faixa de Gaza, a resistência do povo palestino contra a ocupação sobreviverá. “Uma vitória com milhares de mortos ameaça a legitimidade do Estado de Israel”, diz. Ele finaliza dizendo que Estados Unidos e União Europeia são cúmplices de uma operação militar que desafia todas as resoluções da ONU. “São atrocidades que serão lembradas por gerações e gerações”.

 

Da Redação da Aduff, por Lara Abib

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