"Cemitério de crianças", a expressão foi mencionada na manifestação que se deslocou da Candelária ao Consulado dos Estados Unidos, no Centro da cidade do Rio de Janeiro, ao final da tarde e início da noite do dia 9 de novembro de 2023, uma quinta-feira.
Refere-se ao que está ocorrendo a 10.400 quilômetros de distância, na Faixa de Gaza, no Oriente Médio. Naquela estreita faixa de terras que fazem fronteira com Israel e o Egito, onde vive parte da população palestina, pelo menos 10.500 pessoas já haviam perdido as suas vidas até aquela data — 34 dias após Israel iniciar os bombardeios diários e ininterruptos sobre a região. Parte expressiva das vítimas são crianças.
Organismos internacionais chamam a atenção para isso e expõem uma estatística brutal: cerca de 40% das vítimas fatais são crianças. A Faixa de Gaza está “se tornando um cemitério para crianças”, disse o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, ao completar um mês dos bombardeios.
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza validam a declaração: dos 10.569 palestinos mortos até aquele momento, 4.324 eram crianças e adolescentes. Havia também registro de 1.200 menores desaparecidos. Especula-se que a maioria possa estar presa sob os escombros.
O ataque sistemático e ininterrupto foi iniciado e mantido pelo governo de extrema-direita de Tel Aviv sob o argumento da auto-defesa e da resposta ao ataque da organização palestina Hamas, cuja ação matou, de acordo com dados do governo israelense, 1.400 pessoas e fez cerca de 250 reféns. Argumento contestado pelos manifestantes, que afirmam estar em curso uma política de erradicação étnica e que o alvo de Israel é a própria população palestina.
À medida que a guerra avança, mais e mais testemunhos dão conta dos horrores que as crianças, em especial, sofrem. De acordo com a BBC, organizações humanitárias que atuam em Gaza afirmam estarem sendo obrigadas a operar no chão e sem anestesia.
Um desses casos foi reportado por Mohammed Obeid, cirurgião da ONG Médico Sem Fronteiras (MSF), que contou ter amputado o pé de um menino de nove anos no chão e sob leve sedação, enquanto a irmã de 13 anos assistia a cirurgia e aguardava para também ser operada.
A manifestação no Centro do Rio se solidarizou com o povo palestino, afirmou que a Palstina já vive sob agressões de Israel há 75 anos e disse que o que está ocorrendo na região é um genocídio.
Passeata: 'O mundo não faz nada'
O ato convocado por organizações da sociedade civil — entre elas associações, sindicatos e partidos políticos — começou às 17h da Candelária, de onde partiu a passeata rumo ao Consulado Geral dos Estados Unidos, na Presidente Wilson, onde o ato foi encerrado. A Aduff apoia esta luta e já se manifestou pelo cessar-fogo imediato e pela solidariedade ao povo palestino.
"Eua e Israel: parem já o genocídio contra palestinos", dizia uma faixa levada ao ato. Uma mulher judia carregava um cartaz com a frase "Judeus contra sionismo". Manifestantes também defendiam que o governo brasileiro rompa relações diplomáticas com Israel.
Nascida na Faixa de Gaza e naturalizada brasileira, Mariam Abeladiz foi à manifestação para defender o fim do massacre e o direito de os palestinos viverem em seu país. "Os palestinos estão há 75 anos lutando por liberdade e o mundo não faz nada", disse, à reportagem, relatando ter muitos familiares vivendo na Faixa de Gaza, entre eles a mãe e irmãos.
Desde que esta fase do conflito começou, perdeu dois primos e um sobrinho. "Temos que ter Estado Palestino, livre, soberano, para parar com isso e todo mundo viver em paz", disse Marian, há 45 anos radicada no Brasil.
Da Redação da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho