Neste trecho da entrevista à reportagem da Aduff, o professor Pedro Mara, do Comando de Greve do Sepe-RJ, diz que o apoio dos sindicatos e outras organizações civis é muito importante para romper a bolha e expor as razões da greve.
Também afirma que pais, mães e responsáveis pelos alunos não devem observar o movimento com contrariedade: essa luta, afirma, é de toda a sociedade, que não pode naturalizar que profissionais da Educação recebam salários tão baixos.
Ou que o piso nacional, que é lei, siga sendo desrespeitado pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, enquanto são descobertos pela mídia esquemas nos quais milhões foram transferidos pela administração pública para pessoas que não trabalham, citando o caso do Ceperj.
Menciona ainda que o Estado já deixa de dar 55 mil tempos de aula por falta de professores nos quadros da rede de ensino - isto independente da greve -, resultado dos baixos salários e da baixa convocação de concursados.
É o apoio da sociedade, em especial dos pais e mães, observa, que pode acelerar o fim da greve, fazendo o governador Cláudio Castro de fato negociar com a categoria.
"Essa seria a mensagem para os pais: procurem as escolas, apoiem o nosso movimento, ninguém vai ser prejudicado. Toda aula suspensa pela greve será reposta, porque é uma cobrança legal, uma cobrança ética e uma cobrança do governo", disse ao jornalista Hélcio Lourenço Filho, da equipe de comunicação da Aduff.
A seguir, trechos da entrevista:
ADUFF: Muitas entidades sindicais, muitos setores da sociedade civil, vêm declarando apoio à greve. A Aduff, por exemplo, declarou o apoio. São entidades que associam a greve a um movimento justo e que também defende a educação. Como você vê isso? É um movimento que, pela natureza de suas pautas, é também em defesa da educação?
PEDRO MARA: Eu acho que é importantíssimo o apoio de todas as entidades, científicas, políticas, sindicais, estudantis, todas as entidades possíveis que possam ajudar a romper essa bolha, que possam ajudar na disputa de narrativa sobre o que é a greve, sobre a nossa razão, é fundamental. Por que eu acho isso? Porque a primeira posição do governador foi ir para a opinião pública, disputar a opinião pública. Ele fez um tweet, enquanto o Sepe ainda estava sendo recebido pelo governo, e já saiu dizendo que o governo iria pagar. Depois descobriu-se que não era para todo mundo. Depois o governo foi à rádio Tupi dizer que nenhum profissional tinha 20% de reajuste nos últimos anos, quando isso também não era verdade.
Estamos há décadas sem reajuste, nove anos, e se fez uma recomposição, da qual o governador deu calote. Esse ano o governador deveria ter feito uma recomposição de 13%, fruto de um acordo de dois anos atrás. O governador deu 5,9%. E todo mundo que nos ajudar a desmentir essa narrativa, a reconstruir os fatos como eles são, vai nos ajudar. Entidades, lideranças, personalidades, ativistas da internet, todo mundo que possa nos ajudar. É um convite também para poder vir e somar. Podem vir na nossa manifestação. Acontece uma vez por semana, a gente faz uma assembleia para poder decidir, avaliar, e fazemos uma manifestação, uma caminhada. A gente convida todas as pessoas para virem para cá para ajudar, para estar fortalecendo [nossa luta] e, sobretudo, agradecemos a quem já se manifestou. Eu vi nota da Faculdade de Educação, eu vi nota da Aduff, eu vi nota de DCE, eu vi nota do conjunto de entidades que nos ajudam.
ADUFF: E o que você diria para uma mãe, um pai, um responsável, que está preocupado com o filho estar sem aula, nesse momento, e com o desenrolar do ano letivo?
PEDRO MARA: Eu acho que o debate com mães e pais é super importante. Nós, profissionais da educação, nós professores, já cobrimos uma boa parte do prejuízo que o governo deixa passar. Hoje, 55 mil tempos não são dados no Estado. Isso não depende da nossa greve, [resulta] da falta de profissionais. Então, pedindo esse apoio, deixarei uma mensagem para dizer o seguinte: Nós queremos que essa greve seja resolvida o mais rápido possível. A gente pede o apoio desses pais e dessas mães e desses responsáveis para vir nos apoiar, para pressionar o governo e para acabar a greve. [Nunca foi] nosso interesse fazer uma greve longa, estendida. Não. Enquanto o governador segue dando calote, a gente vai seguindo sendo prejudicado e os alunos, no meio disso, precisam estar junto com a gente porque a educação não é uma luta, como dizia Florestan Fernandes, dos profissionais da educação. Precisamos de uma luta da sociedade brasileira. E, nesse aspecto, a gente precisa ter pai, ter mãe, ter a comunidade. A maioria das escolas estão fazendo reuniões com os pais para poder explicar isso. É importante que um pai e a mãe possam ir, procurem a escola, conversem, se informem.
Mesmo em salas de aula que, às vezes, são fornos de aula, saunas de aula, mesmo não tendo infraestrutura, mesmo não tendo um monte de coisas, a gente se esforça. Eu queria dizer para esse pai e para essa mãe que um professor, com ensino superior, hoje, ganha 1,1 salário mínimo no Estado. Essa é uma realidade que a gente não pode aceitar e nem naturalizar. Não só pelo ensino superior, mas porque isso não é uma coisa que dê para pagar as contas de quem quer que seja. Como um profissional da educação, que no geral tem filho, cônjuge, como é que vai fazer com 1,1 salário mínimo? É importante esse debate para a sociedade, porque tem uma criminalização do serviço público, uma desmoralização, fruto desse entulho bolsonarista que fica, de que o professor recebe muito.
'’Não quebramos a Previdência'
O teto do nosso plano de carreira é de três mil e pouco, quatro mil reais. Isso não quebra a Previdência, isso não faz rombo nas contas do Estado. Não somos nós. Quem quiser pensar, como parte disso, é só pegar os esquemas que o governador fez no Ceperj. Milhões que foram transferidos para pessoas que não trabalharam, enquanto a gente rala nas escolas para não ganhar nada. Essa seria a mensagem para os pais: procurem as escolas, apoiem o nosso movimento, ninguém vai ser prejudicado. Toda aula suspensa pela greve será reposta, porque é uma cobrança legal, uma cobrança ética e uma cobrança do governo. Então, a gente tem esse compromisso e vamos seguir. A gente pede, hoje, esse apoio de cada um.
ADUFF: O teto hoje é abaixo do piso nacional?
O teto do último nível da carreira, que é 3.115 reais, é abaixo do que a gente deveria receber no início da carreira, proporcionalmente. O teto está no piso e isso é o mais louco de tudo. Aí, você pega isso daqui e você dá 60% de triênio, que é o máximo, isso chega a 4.500 reais, depois de 40 anos de magistrado, a pessoa sai, aposentada, com 4.500 reais no máximo. E é isso que o governo tenta dizer que está quebrando a Previdência.