Set
15
2022

Lançamento estadual do Caderno Conflitos no Campo edição 2021 reforça luta em defesa da vida e da reforma agrária

Produzido desde 1985 pela Comissão Pastoral da Terra, lançamento aconteceu em Nova Iguaçu, no Centro de Formação de Lideranças da CPT, com co-organização do Fórum Grita Baixada. A publicação está disponível para download e para compra física no site da Comissão Pastoral da Terra

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Fórum Grita Baixada promoveram na última sexta-feira, em 9 de setembro, o lançamento estadual do Caderno Conflitos no Campo 2021. Só em 2021 foram registrados 35 assassinatos decorrentes desses conflitos, um aumento de 75% em relação a 2020, além de outras violências. 

No evento, que contou com a participação de agricultores, assentados da reforma agrária, entidades de defesa dos direitos humanos, movimentos sociais, universidade dentre outros, os presentes defenderam a vida, a reforma agrária, a agroecologia e os povos do campo e das florestas.   

Adriano de Araújo, coordenador executivo do Fórum Grita Baixada, destaca que o enfrentamento da violência no campo, bem como as denúncias das perseguições e das ameaças às lideranças campesinas, são tarefas que não podem ficar restritas somente às organizações sediadas no campo.

“É preciso uma articulação campo-cidade para esse enfrentamento. O Fórum Grita Baixada compreende que também é tarefa nossa atuar nesse sentido. Nós que moramos e militamos na Baixada Fluminense observamos que as forças e interesses de dominação dos territórios que atuam no meio urbano também ampliam sua atuação no meio rural. O uso, por milicianos, de terras protegidas pela União, exploração ilegal de areais e água, especulação imobiliária, a partir da expulsão de pequenos produtores, são expressões de grupos criminosos organizados, com o consentimento ou o silêncio de agentes públicos. Assim, reunir assentados, CPT, FGB, universidades e outros movimentos sociais é de extrema importância para tornar visível essas questões e com isso, apostar numa rede, tanto de denúncia, como de proteção e ação de incidência política”, afirma.

Para Bia Carvalho, do assentamento Terra Prometida, situado no município de Duque de Caxias e de Nova Iguaçu, é inaceitável que quem tem direito garantido em lei de ocupar as terras, que produz nelas plantando alimento saudável com base na agroecologia e na preservação do meio ambiente, sofra tantos processos de violência. Para ela, a maior violência é o país ter retornado para o Mapa da Fome.

“A gente fica respondendo com nossos corpos nesses territórios para dizer que a defende a vida, que a gente defende a produção de alimento saudável. E a gente paga com a nossa vida. Ai daqueles que se levantam, ai daqueles que enfrentam! Os dados que a publicação traz são históricos, desde a construção do Brasil. Os direitos das pessoas mais pobres, das pessoas negras sempre foram negados. Até hoje a gente fica à margem. Nosso assentamento não tem estrada, não tem luz elétrica, não tem habitação, as crianças têm que andar 2km a pé para pegar o transporte público para ir à escola. São várias as formas de nos matar. A ausência de políticas publicas é uma forma de nos matar. Precisamos nos organizar no território para falar: política pública não é negociata, política pública é um direito", ressalta.

Para Adriano, o aumento expressivo da violência no campo durante o governo Bolsonaro, apontado pela publicação - cerca de 32% acima da média anual desde 2011 -  também não surpreende. “Esse governo demonstra claramente, desde antes mesmo das eleições, sua opção sem limites ao agronegócio, à abertura à exploração de terras indígenas, de revogação e afrouxamento de medidas anti desmatamento, ao esvaziamento do IBAMA e do discurso armamentista e de ódio contra os movimentos e lideranças sociais do campo e da cidade”, reitera.

"A nossa sobrevivência e a diminuição desses dados do Caderno de Conflito do Campo,  de uma ponta à outra do Brasil, significa que os nossos sonhos não cabem nas urnas, mas a construção de políticas públicas para os mais vulneráveis, para os mais pobres é fundamental. A gente sabe que Bolsonaro e Claudio Castro não vão fazer isso para nós", finalizou Bia Carvalho.

 

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