Ago
03
2022

Governo admite haver margem para reajuste salarial, mas não diz a servidores o que vai fazer

Na semana de mobilização em Brasília, representantes do Andes-SN e outras entidades participaram de reunião na Economia. Segundo jornal, governo trabalha só com inflação de 2023

 

Manifestação conjunta do funcionalismo em frente ao STF, nesta quarta (3) Manifestação conjunta do funcionalismo em frente ao STF, nesta quarta (3) / foto: Valcir Araujo

Numa semana de mobilizações do funcionalismo em Brasília, representantes das entidades sindicais nacionais da categoria foram recebidos pela Secretaria de Gestão e Desempenho de Pessoal, do Ministério da Economia, e reafirmaram a reivindicação de que haja previsão orçamentária para a recomposição dos salários da categoria em 2023. 

A presidenta do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), Rivânia Moura, participou da reunião, ocorrida na tarde da terça-feira, dia 2 de agosto de 2022, ao lado de outros dirigentes do Fonasefe (Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais).

Sob críticas dos servidores à falta de diálogo do governo e à imposição de quatro anos de congelamento salarial, os representantes do ministério reconheceram haver espaço orçamentário para o reajuste, previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Porém nada sinalizaram aos servidores e servidoras em relação ao que estaria sendo planejado internamente pelo governo Bolsonaro em relação a isso.

O Ministério da Economia foi representado pelo diretor do Departamento de Relações de Trabalho no Serviço Público, Cleber Izzo, e o coordenador-geral de Negociação Sindical no Serviço Público, José Borges de Carvalho Filho.

Inflação ignorada

No mesmo dia, o jornal "Folha de São Paulo" afirmou, sem citar a fonte, que o governo estaria trabalhando a ideia de enviar ao Congresso previsão orçamentária reservando recursos para o reajuste dos servidores com base na projeção de inflação para 2023, calculada pelo mercado em 5,33%. A notícia é assinada pelo jornalista Fábio Pupo, que diz que a proposta ainda está em discussão, porém sem mencionar a origem da informação.

O presidente Jair Bolsonaro estaria tentando, portanto, caso isso se confirme, concluir o mandato com uma proposta para os servidores que ignora os quatro anos de inflação em alta de seu governo - que pode ultrapassar os 30% acumulados até 31 de dezembro de 2022.

Na conversa com os representantes da Economia nada foi mencionado por eles em relação a índices ou projetos em discussão. "Não nos sinalizaram absolutamente nada e indicaram fazer uma nova reunião a partir do dia 23 de agosto para apresentar às entidades o que o governo está trabalhando para Ploa", relata o servidor Fabiano dos Santos, coordenador da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal (Fenajufe).

O servidor David Lobão, da direção do Sindicato Nacional dos Servidores das Instituições Federais de Ensino Fundamental, Básico e Tecnológico (Sinasefe), ressaltou que a comissão saiu da reunião sem propostas concretas por parte do governo, porém com a admissão de que há condições orçamentárias para o reajuste. "O próprio governo reconheceu que a Lei de Diretrizes Orçamentárias garante espaço para que na LOA esteja consolidado um orçamento, verbas, para reajustar salários dos servidores", disse.

A professora Rivânia Moura voltou a insistir na necessidade de aumentar a participação e a mobilização para derrubar essas políticas que atacam os serviços públicos e a Educação. "É um absurdo: [quase quatro anos], o governo está terminando o seu mandato sem qualquer negociação e sem qualquer reajuste da inflação. Vamos continuar nessa luta, nesta batalha, em defesa dos serviços públicos e dos servidores", disse.

Prazos 

O governo federal tem até 31 de agosto de 2022 para enviar ao Congresso Nacional o projeto com a proposta orçamentária para 2023. O Ministério Público Federal, que costuma apresentar propostas similares ao Poder Judiciário, divulgou pretender trabalhar com o índice de 13,5% de reposição salarial em 2023, o que depende de aprovação em projeto de lei específico, também ainda não apresentado ao Congresso. A possível reposição seria em três parcelas – julho (5%) e dezembro (3,97%) de 2023 e julho de 2024 (3,97%). 

Nesta quarta-feira (3), durante ato conjunto em frente ao STF, a administração do tribunal disse que trabalha também com a proposta de 13,5% de reajuste para os servidores do Judiciário Federal, o que deverá ser levado a uma sessão administrativa do órgão na terça-feira (9).

O objetivo das mobilizações é pressionar os três poderes públicos a assegurar recursos orçamentários para a recomposição das remunerações, traçando o caminho para quebrar os mais de cinco anos de congelamento salarial. As manifestações também defendem a democracia e repudiam as ameaças de golpe por parte do presidente e de outras autoridades bolsonaristas.

Da Redação da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho

Manifestação conjunta do funcionalismo em frente ao STF, nesta quarta (3) Manifestação conjunta do funcionalismo em frente ao STF, nesta quarta (3) / foto: Valcir Araujo

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