Jul
18
2022

Poesia de Thiago de Mello 'Para os que virão' encerrou o 65º Conad

Versos lidos no encerramento do evento que reuniu docentes de todas as regiões do país falam de esperança no amor e na força coletiva e popular para mudar o mundo - vídeo mostra o momento da poesia

A arte acompanhou todos os três dias do 65º Conselho do Andes-SN, transcorrido em Vitória da Conquista (BA), de 15 a 17 de julho de 2022 - com apresentações de bandas e artistas que expressavam diversas vertentes da cultura popular. Para brindar a isso, uma poesia do poeta Thiago de Mello, morto em janeiro último aos 95 anos, encerrou o evento.

Vídeo do momento da leitura da poesia de Thiago de Mello, no Conad - clicar aqui

Em seu discurso de encerramento, no Teatro Glauber Rocha, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a professora Rivânia Moura, presidenta do Sindicato Nacional das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), leu o poema "Para os que virão", de autoria do poeta, cuja arte é marcada pelas preocupações sociais - versos que falam de esperança no amor e na força coletiva do povo para mudar o mundo.

Antes da leitura do poema, que está na revista Universidade e Sociedade, lançada no primeiro dia do evento, Rivânia agradeceu aos participantes e em especial aos que trabalharam para assegurar que o encontro acontecesse - todos foram chamados à frente do palco e receberam intensos aplausos do plenário.

Sobre o resultado do Conad e os debates travados, a presidenta do Andes-SN disse que, apesar das divergências, ali se encontravam companheiras e companheiros que constroem coletivamente o Sindicato Nacional.

“Saímos daqui fortalecidas e fortalecidos para os enfrentamentos, para fazer a luta necessária. Saímos reafirmando o sindicato, os seus princípios e a concepção de classes, de uma classe que tem raça, gênero e orientação sexual e que certamente passa por processos de exploração diferenciados dentro da sociabilidade do capital", disse. 

E prosseguiu: "Como foi apontado na nossa carta, saímos daqui com a atualização do nosso plano de lutas e a conclusão do debate que iniciamos no 40º Congresso. Tínhamos um enorme desafio e nós fizemos esse esforço coletivo. Vamos sair daqui também certamente fortalecendo o nosso grito de “Fora Bolsonaro” nas urnas e nas ruas. Porque sabemos que é fundamental enfrentar o bolsonarismo que está instaurado na nossa sociedade”, afirmou, para logo em seguida pedir licença para ler os versos, destacando a importância da arte e as suas diversas expressões para disputar ideias e construir relações sociais que não sejam baseadas nem na exploração nem na opressão. 

Para os que virão

Como sei pouco, e sou pouco,

faço o pouco que me cabe

me dando inteiro.

Sabendo que não vou ver

o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente

para não enganar a ninguém:

principalmente aos que sofrem

na própria vida, a garra

da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido

no meu bolso de palavras.

Sou simplesmente um homem

para quem já a primeira

e desolada pessoa

do singular – foi deixando,

devagar, sofridamente

de ser, para transformar-se

— muito mais sofridamente —

na primeira e profunda pessoa

do plural.

Não importa que doa: é tempo

de avançar de mão dada

com quem vai no mesmo rumo,

mesmo que longe ainda esteja

de aprender a conjugar

o verbo amar.

É tempo sobretudo

de deixar de ser apenas

a solitária vanguarda

de nós mesmos.

Se trata de ir ao encontro.

(Dura no peito, arde a límpida

verdade dos nossos erros)

Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,

e saber serão, lutando.”

Thiago de Mello

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