A arte acompanhou todos os três dias do 65º Conselho do Andes-SN, transcorrido em Vitória da Conquista (BA), de 15 a 17 de julho de 2022 - com apresentações de bandas e artistas que expressavam diversas vertentes da cultura popular. Para brindar a isso, uma poesia do poeta Thiago de Mello, morto em janeiro último aos 95 anos, encerrou o evento.
Vídeo do momento da leitura da poesia de Thiago de Mello, no Conad - clicar aqui
Em seu discurso de encerramento, no Teatro Glauber Rocha, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a professora Rivânia Moura, presidenta do Sindicato Nacional das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), leu o poema "Para os que virão", de autoria do poeta, cuja arte é marcada pelas preocupações sociais - versos que falam de esperança no amor e na força coletiva do povo para mudar o mundo.
Antes da leitura do poema, que está na revista Universidade e Sociedade, lançada no primeiro dia do evento, Rivânia agradeceu aos participantes e em especial aos que trabalharam para assegurar que o encontro acontecesse - todos foram chamados à frente do palco e receberam intensos aplausos do plenário.
Sobre o resultado do Conad e os debates travados, a presidenta do Andes-SN disse que, apesar das divergências, ali se encontravam companheiras e companheiros que constroem coletivamente o Sindicato Nacional.
“Saímos daqui fortalecidas e fortalecidos para os enfrentamentos, para fazer a luta necessária. Saímos reafirmando o sindicato, os seus princípios e a concepção de classes, de uma classe que tem raça, gênero e orientação sexual e que certamente passa por processos de exploração diferenciados dentro da sociabilidade do capital", disse.
E prosseguiu: "Como foi apontado na nossa carta, saímos daqui com a atualização do nosso plano de lutas e a conclusão do debate que iniciamos no 40º Congresso. Tínhamos um enorme desafio e nós fizemos esse esforço coletivo. Vamos sair daqui também certamente fortalecendo o nosso grito de “Fora Bolsonaro” nas urnas e nas ruas. Porque sabemos que é fundamental enfrentar o bolsonarismo que está instaurado na nossa sociedade”, afirmou, para logo em seguida pedir licença para ler os versos, destacando a importância da arte e as suas diversas expressões para disputar ideias e construir relações sociais que não sejam baseadas nem na exploração nem na opressão.
Para os que virão
Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.
Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular – foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
— muito mais sofridamente —
na primeira e profunda pessoa
do plural.
Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.
É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros)
Se trata de abrir o rumo.
Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.”
Thiago de Mello