Jul
13
2022

Eleição para Reitoria: Aduff entrevista a Chapa 3: UFF Plural & Democrática

 

Apresentação 

Roberto de Souza Salles

Meu nome é Roberto Salles, sou professor titular do Departamento de Microbiologia e Parasitologia do Instituto Biomédico. Entrei nessa Universidade como estudante, em 1977, recebi a única bolsa social existente na época, bolsa de trabalho. Cheguei a reitor, mas fui diretor de centro e eu coordenei um grupo de trabalho na Câmara dos Deputados sobre a Educação Superior, sou membro do conselho editorial do Sou Ciência. Sou, também, membro criador do grupo Kairós e estamos com a professora Izabel Paixão como vice na chapa, que será a primeira mulher eleita vice-reitora em 62 anos da UFF. Tivemos duas vice-reitoras excelentes, mas que não foram eleitas, porque na época não tinha eleição, era indicação.

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão 

Bom dia a todos. Obrigada por essa oportunidade. Eu sou Izabel Paixão, sou lotada no Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Celular e Molecular. Sou professora e virologista. Trabalhei no projeto Covid durante a pandemia. Em termos de gestão, eu fui diretora do Instituto de Biologia, chefe do departamento e fui coordenadora de pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação durante dois períodos. Aceitei o convite do professor Roberto Salles para fazer parte da chapa 3 (UFF Plural e Democrática) por ter observado, durante as primeiras duas gestões dele como reitor, o quanto ele foi um excelente gestor. Ele conseguiu implementar o projeto Reuni, que foi um grande projeto do governo Lula, e o segundo motivo é porque, apesar da UFF ter 62 anos, eu estou sendo [primeira] mulher a ser eleita, né? Como vice-reitora na chapa do professor Roberto Salles.

 

Diante do orçamento público federal previsto para 2022, no qual foram destinados apenas 2,31% para a Educação (ensinos infantil, básico, médio, técnico e superior) do montante de R$ 4.363 trilhões. Como enfrentar a situação, já em 2022, considerando a necessidade de garantir ensino presencial, pesquisa e pós-graduação, extensão e assistência estudantil, (acesso e permanência estudantil)? Como enfrentar a situação em 2023, que tende a se agravar ainda mais?

 

Roberto de Souza Salles

Primeiro, nós achamos que é um absurdo a proposta da PEC que cobra mensalidades. É um absurdo total. É mais uma tentativa de vários governos de cobrar mensalidade. Primeiro que educação não é uma mercadoria, não é um negócio. Educação tem que ser considerada como estratégica e, também, como investimento, não gastos. Então somos completamente contrários, até porque existem estudos que mostram que a cobrança de mensalidade não cobre 20% do que a Universidade necessita. Então, já partindo daí, eu vou relembrar que nós fomos coordenadores do grupo de trabalho na Câmara dos Deputados e fizemos uma proposta muito clara de tramitar um projeto de lei, do deputado Gastão Vieira, sobre a autonomia e, nesse projeto, foram agregados outros. Sem autonomia fica muito difícil porque a autonomia requer, também, uma vinculação de subvinculação de receitas. Por exemplo: as paulistas têm a vinculação de receita do ICMS, que representa, mais ou menos, 9.57% da receita do ICMS do Estado de São Paulo. Isso é o suficiente para as Universidades terem toda a liberdade, não só administrativa, financeira, de expressão, tudo. E as nossas Universidades tiveram oportunidades no governo Lula e não quiseram. Então, agora, nós estamos fazendo tramitar. Só aí, assim, que nós vamos resolver a situação geral das Universidades, inclusive financeira. Agora, como nós estivemos na Câmara dos Deputados, fizemos um relacionamento com deputados e senadores, nós temos os caminhos para isso. O Reitor não pode ficar só reclamando e parado. Ele tem que ir aonde tem um recurso e o recurso, o debate maior, se dá no Congresso Nacional. É um absurdo a restrição orçamentária imposta às Universidades e nós vamos lutar muito para a recomposição desse orçamento. E, também, temos parcerias com empresas públicas. E, até vou dizer, a Confederação Nacional da Indústria precisa da Universidade para as inovações. Isso não deixa de ser uma aproximação com a sociedade. Então, nós temos que procurar os caminhos corretos. Temos, também, emendas parlamentares individuais, de bancada. Nós levamos desenvolvimento econômico-social para oito municípios. Foi através do Reuni. Porque o governo, riquíssimo em royalties do petróleo, não dá uma contrapartida? Isso, nós vamos correr atrás. Nós já fizemos, sabemos o caminho e vamos fazer novamente. Com toda a certeza. 

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão 

É importante lembrar, também, a contribuição da FEC, que é a nossa Fundação, inserida dentro do PDI, que é o Plano de Desenvolvimento Institucional da nossa Universidade, que possa contribuir, também, com essa verba extra. Temos que entender que, na situação atual, é necessário aprendermos e tornar um hábito buscarmos recursos fora do orçamento da Universidade.

 

A preservação da vida durante o período da pandemia resultou na necessária adesão ao trabalho remoto, incluindo o ensino remoto e, posteriormente, o ensino mediado por tecnologias. Em um contexto de condições sanitárias que permitem trabalho presencial e ensino presencial, qual seu posicionamento diante da retomada do ensino presencial em 100%, tal como era a realidade no período pré-pandemia?

 

Roberto de Souza Salles

Em primeiro lugar, nós temos que respeitar as instâncias coletivas que nós temos na UFF. O Conselho Universitário, ele ficou bastante deixado de lado nessas discussões. As discussões se restringiram ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão e as Prós-Reitorias. Inclusive, foram várias falas minhas, como membro permanente do Conselho. Então, nós temos que respeitar as instâncias. Quando se trata só de questões acadêmicas, nós temos a instância que é o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Mas, quando se trata da vida, da segurança, nós temos que ter uma discussão no Conselho Universitário, que não tivemos. Essa que é a realidade. Foi tudo colocado como se a instância superior da Universidade fosse só um dos três Conselhos Superiores. Então, o que nós precisamos fazer? Nós precisamos ver qual é a evolução que nós vamos ter da pandemia, porque não sabemos, ainda, como isso vai passar. Achamos, né? E estamos acompanhando, que com a quantidade de pessoas sendo vacinadas, a tendência é a pandemia diminuir e, obviamente, o número de casos, principalmente, diminuir. Mas, não estamos vendo isso agora. Então, primeiramente, nós temos que ver como vai ficar a situação antes da nossa posse. 

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão

A pandemia é uma realidade e temos que estar sempre atentos a essa questão da volta ou não da pandemia, tal qual foi o início que nós passamos. E, para isso, tem o Comitê que vai orientar a todos os setores da Universidade, a todas as unidades, para que possamos voltar ou não, presencial totalmente ou mesmo na forma híbrida. Temos que esperar essa comissão e vermos qual posição deveremos tomar para não colocar em risco a nossa comunidade da UFF. Temos que trabalhar com segurança. 

 

Roberto de Souza Salles

Temos, também, esse momento diferente, que a pandemia nos trouxe. Nova realidade. Temos que trabalhar com o que nós temos, né? Eu acho que em primeiro lugar é a segurança de todos os professores, dos técnicos-administrativos e dos alunos. Então, a forma híbrida é uma forma moderna de se trabalhar, né? Só não concordamos com o que vem acontecendo em relação, aí nós vamos falar depois, às 30 horas, que prometeram e, depois, disseram: "não, esquece!". Tudo foi brincadeira e é ponto biométrico, até confundiram ponto biométrico com ponto eletrônico.

 

Diante da previsão de escassez de recursos e conjuntura de precariedade de estudantes da classe trabalhadora, qual é a política de acolhimento e permanência?

 

Roberto de Souza Salles

Pois é, esse é um desafio muito importante para um bom gestor, né? Nós tivemos a oportunidade de investir 380 milhões do Reuni. Não foi uma coisa simples, né? Nós colocamos os recursos e o projeto dentro do PDI. Foi amplamente discutido pela comunidade, como se fosse um orçamento participativo, bem vigiado. Então, na verdade, nós temos que avançar na captação de recursos, né? Nós temos que diminuir a evasão na nossa Universidade, né? Nós temos que ter sempre em vista que [se] entra um número X de alunos, em tese, tem que se formar o mesmo número de alunos e isso interfere na taxa de sucesso. Mas, o mais importante, que nós queremos, [é] que os nossos alunos entrem na Universidade pública e consigam se formar na Universidade pública. Não basta entrar, tem que ter condições e, para isso, nós temos que ter uma política estudantil. Aliás, nós começamos, lá atrás, uma política de inclusão com alunos de escolas públicas, né? Seguindo a UERJ, dando 20% de pontuação. Depois, veio o PNAES, que nós passamos o nosso vestibular para o Enem/Sisu, para ser o exame nacional. E, depois, veio a Lei das Cotas, em 2012. A lei falava da integralização em quatro anos, a partir de 2013. Como nós saímos em 2014, implantamos em dois anos. Isso tudo que nós estamos falando, pode ser auditado, pode ser verificado no Relatório de Gestão UFF 2006/2014, que é um relatório obrigatório para as Universidades, para os reitores e é auditado pelo Tribunal de Contas. Então, nós temos que ter em mente que nós temos que correr atrás dos recursos. Agora, eu vou voltar ao que nós tínhamos falado: se a UFF leva desenvolvimento social e econômico para oito municípios, inclusive, aqui, em Niterói, e o estado é rico em royalties do petróleo, porque não reivindicar fundos para a Universidade, para ajudar, por exemplo, o passe livre é um deles. Porque todo passe, ele é subsidiado pelo Estado. E por que não fazer isso para os nossos alunos? Já tem uma conversa marcada com o governador, presidente da assembleia, prefeito do Rio e já conversei com alguns prefeitos do interior e nós vamos buscar esse objetivo. Nós queremos nossos alunos entrando e se formando. Nós temos o problema das alunas que têm filhos cedo e não conseguem estudar. E nós temos que resolver isso. E, a professora Isabel vai instituir […] 

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão

Bom, a política de permanência dos estudantes é fundamental, sempre foi uma prioridade para a nossa chapa para essa Universidade. Então, nós temos que pensar que é necessário a permanência dos alunos, porque segundo o que o professor Roberto já falou, isso interfere na taxa de sucesso da nossa Universidade. Nós temos a proposta do aumento de bolsas sociais, do aumento do valor dessas bolsas e da criação da bolsa mãe e pai, que vai ajudar os estudantes a permanecerem e concluírem o seu curso com sucesso.

 

No debate sobre a retomada das reuniões presenciais do CUV, que repercute também na retomada dos demais conselhos superiores - CEPEX e Conselho de Curadores - há propostas de retorno exclusivamente presencial; de retorno híbrido e de retorno exclusivamente remoto, as duas últimas garantindo a participação de conselheiros de outros campi (que não em Niterói), desde que demandem a participação remota. Diante das três possibilidades de retorno, como se posiciona? Qual a sua compreensão sobre democracia e garantia da participação da comunidade universitária nesse debate?

 

Roberto de Souza Salles  

Bom, sobre essa questão, eu acho muito importante. Já tivemos o debate sobre isso no Conselho Universitário, inclusive com votação. Nós temos que nos adaptar aos tempos atuais, até porque, como foi falado, a UFF está presente em oito municípios e tem conselheiros que moram distante. Eu acho que é válido, eu acho que pode ser intercalado. Podemos ter um grupo presencial, aqui, na sede e um grupo virtual para quem não puder estar presente. Eu acho que nós podemos fazer justamente isso, né? Conversar com as pessoas e decidir dessa forma. Mas, nós temos que nos adaptar aos tempos modernos. Eu acho que é positivo nós termos a participação das pessoas de modo virtual, de modo remoto e, também, quem quiser participar presencialmente também dá a possibilidade. Então, essa é a nossa opinião. 

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão

Antes da pandemia só conhecíamos atividades, reuniões e outras atividades da Universidade do tipo presencial. Mas, a pandemia nos mostrou que é possível fazermos essas reuniões do tipo híbrido. Então, como é muito importante as reuniões do CUV, achamos que a possibilidade de fazermos híbrido vai ser fundamental. Que pessoas que estejam distantes da sede poderão participar, também, [em] uma reunião de suma importância para a Universidade.

 

Em 2010, o plebiscito realizado pela comunidade acadêmica rejeitou, por absoluta maioria (mais de 90%), os cursos de pós-graduação pagos. Qual seu posicionamento em relação a este debate?

 

Roberto de Souza Salles  

Então, na verdade, eu era reitor nessa época, né? Foi na nossa gestão que foi feito esse plebiscito. Aliás, eu gostaria de falar, também, que eu fui o único reitor que eu conheci na Universidade que fez audiências públicas com os estudantes, né? E, também, fiz esse pelo plebiscito e, também, fizemos a discussão sobre a estatuinte, né? Fizemos algumas adaptações que vinham em discussão de 20 anos e nunca ocorreram, e precisamos fazer outra estatuinte. Mas, o que foi decidido na época, e eu lembro muito bem, foi que não seria aberto nenhum curso de especialização financiado pelos alunos, né? E durante a minha gestão não foi criado nenhum curso, só foram repetidos os cursos que já existiam, né? Mas, não foi criado nenhum novo. Então, a pergunta não está, assim, 100% adequada, né? Porque não foi uma vedação total. O que foi aprovado foi isso: que nenhum curso novo seria criado, mas os cursos que estavam em vigor continuariam. E, nós, vamos manter esta posição. Aliás, foi na nossa gestão que a gente abriu mão de uma série de taxas. Incentivamos, sim, que tivessem cursos pagos por empresas, não por alunos. Por uma entidade pública ou não. Então, essa foi a nossa proposta naquela época. E, na verdade, essa reunião, fomos nós que presidimos na época. 

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão

Em princípio, não somos favoráveis à cobrança de taxas de matrícula para os cursos na Universidade. Nós estamos numa Universidade pública. Mas, em casos especiais, podem ser estudadas as situações e, talvez, de alguma forma, alguma empresa possa pagar para os alunos, como o Professor Roberto Salles falou, não cobrar do aluno diretamente. Existem várias outras formas de se cobrar essa taxa de matrícula.

 

Qual a política que pretende desenvolver em relação aos trabalhadores terceirizados?

 

Roberto de Souza Salles  

Os trabalhadores terceirizados são muito importantes na nossa Universidade. Sempre foram importantes. Ajudaram muito no crescimento da nossa Universidade, né? E, lamento que durante a pandemia não tiveram o tratamento adequado, né? Muitos foram demitidos, assim, de uma hora para outra sem nenhuma discussão. Os trabalhadores terceirizados são importantíssimos, porque eles ajudaram em várias situações da Universidade. Não só no trabalho administrativo, quando nós tínhamos, ainda, concursos em andamento, como também na parte de vigilância, na parte de limpeza, eles são fundamentais. Então, eu sempre repeti e vou repetir: a maior riqueza que nós podemos ter dentro da nossa instituição são as pessoas que trabalham. E, aí, eu não vou fazer nenhuma diferença entre docentes, técnicos-administrativos e prestadores, de um modo geral, são fundamentais para que a nossa Universidade avance, sem sombra de dúvidas. 

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão

Bom, os trabalhadores terceirizados, eles são fundamentais para alavancar a Universidade. Nós sabemos que alguns cargos não existem na Universidade. Então, nós precisamos mantê-los. Mas, é nossa opinião que a Universidade cumpra as leis trabalhistas e possa apoiar esses trabalhadores, que é o seu direito.

 

Qual a política que pretende desenvolver em relação aos técnico-administrativos?

 

Roberto de Souza Salles 

O primeiro passo é extinguir, imediatamente, o ponto biométrico. Voltar a discussão sobre as 30 horas, porque eu tenho falado nos debates, se eu sou reitor, eu vou ao Supremo. Todos os reitores, começou com o professor Raymundo, todos os reitores mantiveram as 30 horas. Foi na época do professor José Raymundo Romêo que foi criado. Continuou com o Luiz Pedro Antunes, continuou com Gilberto, continuou com Cícero e continuou conosco. Agora, eu não acho justo, Izabel, na época da eleição, um pouco antes, o reitor promete 30 horas, faz até vídeo, né? Não foi só ele fez vídeo, outras pessoas da equipe fizeram, o Sintuff reproduz a publicação, entre o primeiro e o segundo turno e, depois, diz que não é nada disso, dá ponto biométrico, nem ponto eletrônico. Não sabe nem a distinção entre ponto biométrico e o [ponto eletrônico]. E o que acontece? Os funcionários ficaram surpresos, porque além de não dar as 30 horas, deram 45 horas, né? Alguns dizem que é 43, outros dizem 45, outros dizem 40, e ponto biométrico. Agora, ponto biométrico resolve alguma coisa? E, isso aí, criou um conflito entre as categorias. Por que umas têm que fazer e outras não? Agora o principal, o pior de tudo, é que nós temos um documento de 2017 no final, já em 2018, para a Procuradora Federal, dizendo para contratar o relógio, para arrumar o relógio, para botar o ponto. Quer dizer, antes da eleição já sabiam o que que estava acontecendo, né? Então, não foram ao Supremo. Simplesmente aceitaram uma decisão do Ministério Público. E nós vamos tratar o técnico da forma que sempre tratamos. Uma relação sincera, uma relação de conversa, vamos encontrar a melhor forma de trabalho, sem nenhum estresse, todos vão voltar a sorrir. Volto a repetir: a questão das pessoas terem tempo para suas famílias. Nós estamos na contramão do mundo. Todos devem trabalhar com felicidade e não confundir. Esticar o horário não significa produtividade. O que nós temos que fazer? É fazer com que as pessoas fiquem felizes e produzam mais. E, não ficar vigiando o tempo, que não controla. Nós já vimos isso. Então nós temos que [nos] adaptar aos tempos modernos. Tem várias formas das pessoas trabalharem com felicidade. 

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão

Com certeza, muitas Universidades mantiveram 30 horas. Então, como o Professor Roberto falou, a produtividade, a eficiência, a qualidade e a capacidade de um funcionário, de um técnico-administrativo não é medida pelo tempo de trabalho, e, sim, por sua produtividade. Quanto ele é capaz de fazer aquele trabalho, desempenhar aquele trabalho com eficiência. Portanto, as 30 horas são muito importantes para eles.

 

Qual a política de multicampia, em especial, quanto aos investimentos para a melhoria das condições de trabalho-estudo, pesquisa e extensão?

 

Roberto de Souza Salles 

A Universidade cresceu muito. Ela foi para oito municípios, né? A UFF está presente nesses municípios todos, antes estava mais como curso de extensão, né? Poucos tinham curso, realmente, funcionando, né? Mas, nós ampliamos, de qualquer maneira, onde tinham cursos, nós ampliamos muito e onde não tinha, só tinha extensão, nós enraízamos, né? E a UFF precisa, as pessoas precisam se fazer sentir com sentimento de pertencimento, né? Nós vamos criar uma Pró-Reitoria da Integração, com a nomeação de uma pessoa escolhida por esses campi fora da sede e, também, aqui, em Niterói. Há uma grandeza muito grande, né? Tanto do campus do Gragoatá, o Valonguinho e a Praia Vermelha, né? Fora as unidades isoladas. Nós procuramos minimizar a situação, colocando o BusUFF que, inclusive, os professores e os técnicos podiam andar. Parece que, agora, não pode andar mais. Temos que renovar os ônibus, né? Trocar, porque eles já têm mais de dez, onze, doze anos. Foram comprados na nossa época, né? E, nós precisamos, também, aproximar mais as pessoas, né? Dos vários setores, ou seja, temos que voltar a essa convivência, passada a pandemia, que nós tínhamos, salutar, nessas discussões que nós levávamos. Hoje, nós estamos vendo um pouco de distanciamento. Então, a questão da infraestrutura, de elevadores, de internet, isso tudo tem que ser resolvido. Sem isso, fica muito difícil. 

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão

É importante nos aproximarmos dos campi da nossa Universidade, né? Nós estivemos presentes em vários e vimos que eles colocam essa situação do distanciamento. Então, a criação da Pró-Reitoria de Integração será fundamental para, justamente, fazer essa integração. A Reitoria Itinerante, também, é fundamental para nos aproximarmos dos campi e, dentro dessa situação, nós podemos levar os programas da Universidade, né? Quais são os programas internos que a Universidade oferece para todos os três segmentos, seja docentes, discentes e técnicos-administrativos? Então, essa é a nossa proposta.

 

Qual a sua política para enfrentar a precarização das condições e a intensificação de trabalho de docentes na Universidade Federal Fluminense como um todo?

 

Roberto de Souza Salles

Aliás, toda a Universidade. Nós estamos sem, não vou dizer nem reajuste, reposição salarial há, mais ou menos, seis anos, né? Eu lembro que na concessão do título de Doutor "Honoris Causa" para o presidente Lula, e a presidenta Dilma estava presente, eu fiz o discurso e cobrei o aumento salarial para os docentes, de um modo geral, para os professores, também, do ensino básico. Isso está gravado. E, eu acho que é muito importante porque há uma defasagem salarial muito grande, tanto do docente quanto dos técnico-administrativos, né? E, também, a questão da carga horária, né? Algumas unidades têm poucos professores, né? Reclamam muito das condições tem que […] E o principal, também, é mais a estrutura, né? Temos que melhorar a estrutura. Nós avançamos no Reuni, né? E, nós esperávamos que Universidade pudesse ter avançado nesses oito anos, mesmo considerando a restrição orçamentária, né? Mas, eu acho que tem que ser valorizada a carreira docente. Nós temos um problema, também, que é muito sério, de gestão. Nós não temos um sistema, o SEI não é um sistema inteligente que se comunica com você. Nós temos em Universidades, várias no Brasil, vou citar três: Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que têm um sistema que fala com você. Você entra com um processo, cada passo que você dá, você recebe uma mensagem. Se tiver alguma pendência, você pode cumprir logo. E, lá, uma progressão, uma promoção demora um mês, um mês e pouco. Uma pensão, o mesmo tempo. Até o diploma. E nós não temos um sistema desses aqui. Apesar de nós termos pessoas competentes trabalhando no setor de gestão de pessoas, o CPPD. Mas não temos equipamentos e não temos, também, nem equipamentos e nem tecnologia para isso, né? Então, nós precisamos, realmente, ter um apoio administrativo, uns projetos de pesquisas. 

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão

É. Realmente é muito importante apoiarmos os docentes, principalmente na parte de apoiar os projetos desenvolvidos pelos docentes. Esses projetos fazem com que a UFF se torne mais visível no exterior. Então, os docentes precisam desse apoio. Apoio da criação de um escritório que possa auxiliá-los a fazer a prestação de contas, a preencher a plataforma Sucupira, que nós sabemos que demanda muito tempo dos docentes. Então, na medida em que a gente melhora, dá esse apoio, melhora a infraestrutura dos laboratórios também, nós estaremos levando a Universidade a um nível internacional, porque nós sabemos que a nossa pesquisa é em nível internacional. Então […] 

 

Roberto de Souza Salles

Até 2014, último ano da gestão, nós repassamos, que nós criamos recurso infrapredial e livre ordenação para as unidades. Último ano, 2014, foram R$ 6 milhões para serem divididos entre os diretores, para cuidar das coisas principais da sua unidade, tanto pequenos reparos como compra de material.

 

Quanto à Renovação da Lei das Cotas gostaríamos de saber: qual sua opinião sobre as Cotas e Ações Afirmativas e qual a política para assegurar a manutenção das Cotas? Qual a política para acolhimento e manutenção de estudantes cotistas?  Qual a política de heteroidentificação e como serão as estratégias para o combate às fraudes?

 

Roberto de Souza Salles

Nós estamos muito à vontade para falar sobre isso: porque, primeiro, nós seguimos a UERJ, não fomos a original, e Mato Grosso, Universidade Federal, em dar cota de 20% para alunos de escolas públicas. Depois aderimos ao PNAES, justamente recurso para criarmos as bolsas e, depois, a Lei das Cotas, nós implantamos em dois anos: 2013/2014, porque a lei é de 2012, quando a lei falava em quatro anos. Segundo lugar, nós fizemos uma inclusão enorme dentro da Universidade. Eram 4200 alunos entrando; em 2014, eram mais de 10 mil. Então, 50% foi para Lei das Cotas. Somos favoráveis à renovação, é importante a UFF estar no plural, né? E foi, realmente, uma medida do governo Lula extremamente importante para tornar a Universidade, realmente, para que todos pudessem estudar aqui. E, também, eu fico feliz de ter sido o reitor, que foi o primeiro reitor a assinar, né? Fiz a assinatura do nome social, né? Eu fiz questão de receber a pessoa e fazer a assinatura do nome social que estava, tinha sido criada a lei, mas a Universidade, ainda, não aceitava isso, né? Então, eu me senti, assim, muito feliz pela Universidade ter tomado esse passo. E nós respeitamos e sempre apoiamos todas as manifestações da Universidade e vamos continuar apoiando, porque nós sempre estivemos circulando, dentro da Universidade, no meio de todos, ouvindo a todos, é muito importante, né? 

 

Izabel Christina Nunes de Palmer Paixão

Considerando as características gerais do nosso país, a Lei das Cotas é fundamental. Nós pretendemos sempre lutar pela Lei das Cotas, também a permanência dos alunos, não só dando condições de bandejão, do BusUFF, de transporte com segurança, né? Porque sabemos que a nossa situação, hoje em dia no país, é insegura. Então, tudo isso nós vamos considerar e somos favoráveis à renovação e à manutenção sempre da Lei das Cotas. 

 

Roberto de Souza Salles

Quando foi criada essa lei para designar pelo nome social, não pelo nome de nascimento das pessoas, nós aderimos imediatamente. E isso foi uma alegria geral da Universidade para todos, né? Então, nós somos, realmente, 100% favoráveis e tudo que nós fizemos, aí não tem fake, consta no Relatório de Gestão UFF 2006/2014. Nós vamos continuar com a inclusão na Universidade. Concursos também, porque é lei. Nós não estamos fazendo mais nada que a nossa obrigação, entendeu? E qualquer coisa fora disso, em relação à atitude que nós tomamos, é fake, porque nós estamos dando uma referência: Relatório de Gestão UFF 2006/2014. A UFF fez a maior inclusão de todas as Universidades em 2014, até 2014. Não só da questão das cotas de um modo geral, como, também, da inclusão de pessoas com necessidades especiais, né? Nós criamos o único curso de mestrado de diversidade e inclusão existente no País. Nós criamos o setor, também, de Inclusão, Diversidade e Acessibilidade. Nós criamos o Setor de Inclusão e Acessibilidade e criamos o curso de Mestrado de Inclusão e Diversidade, único do País.

 

Depois de cerca de seis anos de o Hospital Universitário Antonio Pedro ser cedido à Ebserh, em meio a uma sessão controversa e questionada do Conselho Universitário – processo denunciado pelas entidades sindicais como antidemocrático e privatista – como avalia a administração do HUAP? Que respostas pretende dar à comunidade universitária quanto às condições de trabalho e formação desse hospital-escola e à qualidade dos serviços à população usuária do HUAP?

 

Roberto de Souza Salles

Bom, nós temos que esclarecer. Isso é uma coisa muito importante. Primeiro que nós saímos em novembro de 2014. Não existe Ebserh sem a aprovação do Conselho Universitário e sem a assinatura do contrato. Não existe. Tem que ter as duas coisas. Eu lembro que eu saí em novembro de 2014 e a Ebserh, e isso tem no YouTube, foi feita uma reunião em março de 2016, dois anos depois que eu saí, mais de dois anos, na imprensa do estado e eu era conselheiro, porque sou membro permanente, e eu fui andando, muita gente entrou de carro, né? E foi uma reunião, realmente, terrível com tropa de choque e estavam presentes o reitor e o vice dele. E o reitor simplesmente gritou: “está aprovado”. Foi uma confusão tremenda. E a Ebserh, o contrato foi assinado em abril de 2016. Então, a reunião do CUV foi em março de 2014 e o contrato foi assinado em abril de 2016. O que que diz as cláusulas do contrato? Que a Ebserh deveria, depois de um ano, contratar mão de obra e abrir leitos. Não fez nenhuma coisa nem outra. Hoje, nós temos um hospital com 120 leitos, os estudantes estão tendo dificuldades de aprendizado, os professores não podem ensinar e eu, como membro permanente do Conselho Universitário, pedi ao Conselho que formassem uma comissão para estudar as cláusulas do contrato, mesmo sabendo que todo contrato tem que ter um fiscal. Depois de cinco anos, alguém da administração devia ter feito isso. E, nessa proposição, tive o apoio da Márcia Carvalho e do Davi. Juntamos as propostas e aprovamos. E, o diretor da Faculdade de Medicina é o presidente. Isso foi no final do ano passado e estamos esperando o resultado. A partir desse resultado e, nós seremos eleitos, nós vamos formar um grupo para estudar as saídas, porque tem um problema: uma das cláusulas diz que se você, para tirar a empresa, você tem que denunciar um ano antes e fundamentar a denúncia. E a denúncia é o resultado que a comissão do Conselho Universitário tem que apresentar, que nós já sabemos: que a Ebserh não está cumprindo o contrato. Outra questão é que os funcionários concursados da Ebserh não têm nada a ver com isso. E, não podemos retirá-lo imediatamente, aí o hospital, realmente, tem que encontrar, dentro de um ano, uma fórmula para poder saber como o hospital vai funcionar. Temos que acionar o Ministério Público, aí sim, para pedir ao governo federal um concurso público para entrar pessoas, para podermos tirar a empresa. Então, não adianta vir aqui, falar que vai ser unilateral, que vai tirar imediatamente, que não consegue, está na cláusula do contrato. Isso tem que ser encarado de uma forma responsável. Agora, o que eu vou fazer, no ato que eu assumir, que nós assumirmos, nós vamos pedir, agradecer e pedir para se retirar a cúpula dirigente da Ebserh, os superintendentes e os diretores. Nós vamos formar uma comissão para poder estudar tudo que está acontecendo e tomar as medidas necessárias. Se não tiver jeito, tem que retirar a Ebserh, mas tem que procurar uma maneira de substituir a mão de obra.

 

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