Jul
13
2022

Eleição para Reitoria: Aduff entrevista a Chapa 2: Movimento UFF Democrática

 

Apresentação

Wilson Madeira Filho

Então, eu sou Wilson Madeira Filho, candidato a reitor. Eu sou professor titular da Faculdade de Direito há 24 anos. Tenho uma larga experiência em pesquisa, coordeno um dos maiores laboratórios de pesquisa da UFF, muita experiência em extensão e em administração, né? Então, nesse sentido que a gente coloca a nossa trajetória a serviço da Universidade, agora. A gente vem como candidato pelo movimento UFF Democrática, que já existe há quatro anos, que é a junção de professores, de estudantes, de funcionários que trabalham para que tenha mais democracia efetiva, sobretudo nos Conselhos Superiores. Então, a gente já vem se organizando para que as pautas sociais passem a integrar, de fato, a realidade da UFF. 

 

Wladimir Tadeu Baptista Soares

Eu sou o Wladimir Tadeu Baptista Soares, eu sou candidato a vice-reitor na chapa 2 de oposição e sou médico desta Universidade há 38 anos, professor da Faculdade de Medicina na disciplina de Clínica Médica há 32 anos, né? E, estamos apresentando como programa aberto, numa linha contínua de tempo a ser construída coletivamente com a participação de todos os segmentos da Universidade, dos estudantes, dos técnicos-administrativos e dos professores, numa dimensão de democracia plena. Então, essa é uma novidade da nossa chapa. É uma oposição a uma autocracia e uma oligarquia. Nós somos uma democracia. 

 

Diante do orçamento público federal previsto para 2022, no qual foram destinados apenas 2,31% para a Educação (ensinos infantil, básico, médio, técnico e superior) do montante de R$ 4.363 trilhões. Como enfrentar a situação, já em 2022, considerando a necessidade de garantir ensino presencial, pesquisa e pós-graduação, extensão e assistência estudantil, (acesso e permanência estudantil)? Como enfrentar a situação em 2023, que tende a se agravar ainda mais?

 

Wilson Madeira Filho

Então, essa é a pergunta central de todo esse processo eleição para reitor, né? Porque a gente está diante de um quadro orçamentário que é crítico. Então, é um desafio para todas as chapas. Mas a nossa chapa tem algumas propostas concretas, que é necessário desdobrar em, pelo menos, dois níveis. O primeiro nível é o nível político. É necessário existir uma reitoria que faça frente à política de corte orçamentário. A gente está diante de um governo que desconhece a pesquisa, desconhece a Universidade, muito pelo contrário, classifica como balbúrdia, né? Tentando desacreditar diante do público em geral. E, o próprio Ministro da Economia, ele fala em teto de gasto, colocando uma granada no bolso do servidor. Então, a gente tem que fazer algum enfrentamento. A chapa 2 é a única chapa que vai fazer esse tipo de enfrentamento. A gente se coloca como oposição não apenas há 16 anos de continuísmo, mas uma posição também política, porque temos que alterar o quadro político nacional. Esse é um ano de eleições gerais e a gente tem que ter noção que a eleição para reitor é só a primeira etapa de uma mudança radical neste país para acabar com todo tipo de totalitarismo. Então, se a gente vai enfrentar os cortes orçamentários, a gente tem que quebrar o teto de gastos. Isso é o primeiro ponto a ser colocado. Já foi, aliás, quebrado pelo Presidente da República para auxiliar militares, a gente tem que auxiliar a educação. Agora, o segundo ponto é no plano interno da Universidade. A Universidade Federal Fluminense tem um orçamento de 1 bilhão e 400 milhões. Desse, 87% vão para verbas que já estão alocadas: salário dos professores, etc. Então, o que que a gente tem na base? A gente tem, se pegar no total que é disponibilizado para a reitoria e aquilo que é disponibilizado para cada unidade, é irrisório. Não chega 0,3% que é repassado. Então, um diretor de unidade, ele tem recebido, por ano, cerca de 65 mil reais. Isso não dá para consertar um banheiro, cá para nós. Agora, o montante fica com a reitoria, que ela entende como distribuir em forma de obras. O nome disso é oligarquia. A gente tem que abrir as rubricas de gastos junto ao Conselho Universitário, e fazer um orçamento participativo. É a única maneira de enfrentar a situação econômica e, a partir disso, criar um plano de desenvolvimento institucional que nos garantam outras alternativas para sobrevivência da pesquisa, do ensino e da extensão, né? Então, todas as práticas que vem da pós-graduação tem conseguido vencer editais e conquistar emendas parlamentares, que é um outro caminho que, também, iremos trilhar.

 

A preservação da vida durante o período da pandemia resultou na necessária adesão ao trabalho remoto, incluindo o ensino remoto e posteriormente o ensino mediado por tecnologias. Em um contexto de condições sanitárias que permitem trabalho presencial e ensino presencial, qual seu posicionamento diante da retomada do ensino presencial em 100%, tal como era a realidade no período pré-pandemia?

 

Wilson Madeira Filho

Então, essa questão é importante por vários motivos, né? A Universidade Federal Fluminense, ela tá encaminhando para o retorno presencial e isso é importante, né? Todos os fóruns de professores apontaram que a qualidade de aula presencial, ela é superior a qualidade da aula remota. Então, esse é um ponto que precisamos recuperar, vamos dizer assim, esse artesanato do professor que é essencial. Mas, por sua vez, não podemos negar ganhos com o trabalho remoto e mesmo com que facilidades, no caso de muitos servidores, que o trabalho remoto acaba sendo a realidade. Então, é um aprendizado a incorporar. A gente precisa passar por pelo menos duas questões: a primeira é no caso de todos os servidores no trabalho remoto, que esses temas, eles participem de assembleias nos sindicatos, na Aduff e no Sintuff. Não pode ser imposição da reitoria, que não conversou com nenhum dos sindicatos. Então, tem que ser com uma discussão do coletivo. E, outro ponto importante é que a gente estabeleça qualidade. Senão, a gente vai cair no projeto do Reuni Digital, que é uma forma de precarização e de privatização do ensino e a chapa 2 não vai admitir isso. 

 

Wladimir Tadeu Baptista Soares

A presença do professor e do aluno, no contato direto, é uma pedagogia que garante a qualidade, né? É preciso a relação dos estudantes e dos professores. Uma relação social, presencial. Eu lembro, sempre, que um professor meu, antigo, dizia assim: “nós aprendemos muito na cantina do hospital. Nós aprendemos muito na cantina da faculdade. Porque, ali, se discutem determinados casos e são, tipo, aulas informais, mas que se aprende muito.” Esse distanciamento professor/aluno, ele não é benéfico para a qualidade do ensino. Então, assim, essa chapa, ela com certeza, ela assegura uma qualidade pela presença do professor, pela presença do aluno dentro da instituição. 

 

Wilson Madeira Filho

O hospital é difícil ter trabalho remoto. 

 

Wladimir Tadeu Baptista Soares

No hospital não tem como ter trabalho remoto nas aulas práticas, né? Fica impossível. Foram dois anos de pandemia que ninguém teve aula prática na área da saúde. Isso é muito ruim. Não pode acontecer isso. 

 

Diante da previsão de escassez de recursos e conjuntura de precariedade de estudantes da classe trabalhadora, qual é a política de acolhimento e permanência?

 

Wladimir Tadeu Baptista Soares

Bom, a Chapa 2, ela tem um compromisso com os direitos sociais. Com a garantia de direitos sociais. Tanto para estudantes quanto para os servidores, né? Então, a gente vai priorizar mesmo com o orçamento curto, a permanência do estudante com as políticas sociais estudantis, né? Nós entendemos que a Universidade é um todo, que deve ser compreendida como um todo e tudo que tem em um determinado polo, tem que ter em todos os outros. Então, se nós temos moradia estudantil na sede em Niterói, todos os polos têm que ter moradia estudantil. Se nós temos creche universitária, nós temos de ter para todos, se nós temos o bandejão, tem que ser para todos, se nós temos o BusUFF, ou passe único, ou bilhete único, tem que ser para todos. Da mesma maneira, como política de permanência, a bolsa social. Não pode deixar de ser paga. A bolsa social parece que está atrasada há três meses. Como é que você pode atrasar a bolsa social de um estudante carente? Não é possível isso, né? 

 

Wilson Madeira Filho

Então, nesse sentido, é muito importante a gente lutar por uma série de políticas, como a política de cotas. Enquanto diretor da Faculdade de Direito, foi a Faculdade de Direito que inaugurou a política de cotas para negros e negras e, depois, para indígenas e, atualmente, também tem para transexuais e travestis. É importante estar nessa vanguarda. Mas, essas iniciativas locais, elas têm que se expandir, né? A gente tem que garantir que cada graduação, cada curso de mestrado e de doutorado tenha, também, as suas cotas. Temos que exigir isso. E cotas através de heteroidentificação, com fenótipo, para não haver fraudes. E vamos além, né? Porque a gente, por exemplo, existe aqui, na Faculdade de Direito, pré-vestibular social Doutor Luiz Gama, que tem 1700 alunos de periferia. A gente tem que modificar a entrada para garantir que o aluno da UFF seja o aluno do Brasil real, né? E não basta, portanto, só entrar. Temos que garantir que, após entrarem, existam as condições. A gente não pode fazer uma política de cotas pela metade. Não se trata apenas de cota para ingresso. É cota para a permanência. Então, é esse desenho político que alcança o bandejão, moradia estudantil. A do Gragoatá, por exemplo, a gente visitou e de cada três banheiros, dois já estão inviabilizados. Não tem conserto. Então, não é possível morarem 400 pessoas, por exemplo, eles têm duas bocas de fogão. São dois fogões quebrados, só funciona uma boca em cada um. Como é que 400 pessoas vão cozinhar dessa maneira? Isso é impossível. Ou seja, esse abandono não pode ocorrer. Tem que haver um tratamento sistemático, um acompanhamento e, sobretudo, pessoas que vão cuidar dessas etapas. Pessoas interessadas, solidárias e não verdadeiros feitores que ficam ali para punir o estudante. 

 

No debate sobre a retomada das reuniões presenciais do CUV, que repercute também na retomada dos demais conselhos superiores - CEPEX e Conselho de Curadores - há propostas de retorno exclusivamente presencial; de retorno híbrido e de retorno exclusivamente remoto, as duas últimas garantindo a participação de conselheiros de outros campi (que não em Niterói), desde que demandem a participação remota. Diante das três possibilidades de retorno, como se posiciona? Qual a sua compreensão sobre democracia e garantia da participação da comunidade universitária nesse debate?

 

Wilson Madeira Filho

Então, esse tema é importante. Se a gente for analisar as três propostas, pelo ponto de vista da razoabilidade, todas têm razão. Aliás, a minha fala no Conselho Universitário no mês passado, foi exatamente essa. Porque uma proposta falou do retorno presencial. E o retorno presencial, ele é extremamente importante, porque quem conhece os Conselhos Superiores da UFF, em especial, o Conselho Universitário, sabe que aquele é um palco, que é o grande teatro político da UFF. Então, muitas vezes, né? Estudantes chegam lá com faixas e protestos e conseguem, através da pressão, passar a urgência daquela mensagem e ter ela aprovada. O mesmo vale para os técnicos-administrativos, para os aposentados, ou seja, sem essa arena, a democracia não vai aparecer. Por outro lado, a proposta dos representantes, dos conselheiros, dos demais campus da UFF, né? Fora de Niterói, que fazem verdadeiras viagens. A distância daqui para Pádua é de quase 6 horas. Imagina, então, os representantes de Pádua, viajarem e chegarem e não ter quórum. Ele gastou o dia inteiro. Mas, então eles não deixam de ter razão ao falar: "olha, o modelo remoto garantiu um quórum maior, né?" Sempre houve quórum. Isso, também, é verdade. E, a estrutura remota nos trouxe essa facilidade. Hoje, quase todas as reuniões de departamentos colegiados são de forma remota. E, o modelo híbrido? Também, que, "ah, não pode vir"; veio da forma remota. Ok. Mas, o que a gente precisa entender é que o que está em jogo, quando a gente faz uma eleição que é ou A ou B ou C, como é o caso. A gente vai cair numa pegadinha política. E qual é essa pegadinha política? Na gestão anterior, do reitor Sidney, as reuniões eram canceladas pela reitoria, para não ter oposição. Teve um ano que só teve quatro reuniões. Na gestão atual, quase todas as reuniões ocorreram, exceto uma que foi cancelada por Antonio Claudio, porque ele havia proibido um evento na Faculdade de Direito. Eu tive que entrar na justiça contra ele. Então, ele sabia que ia passar vergonha no Conselho Universitário, cancelou. Então, esse é o uso da máquina administrativa que não pode ser tolerado. Então qual é o receio de aprovar as reuniões remotas? É nunca mais escutar os coletivos. Nunca mais escutar a pressão dos estudantes, dos técnicos-administrativos. E, a gente tem que responder sempre com a virulência da democracia. 

 

Em 2010, o plebiscito realizado pela comunidade acadêmica rejeitou, por absoluta maioria (mais de 90%), os cursos de pós-graduação pagos. Qual seu posicionamento em relação a este debate?

 

Wladimir Tadeu Baptista Soares

Bom, a Chapa 2, ela tem uma posição muito firme em relação a esse tema, né? Ela defende a educação pública gratuita e de qualidade. Com certeza. Eu tenho 12 livros publicados, né? Um desses livros, que é de direito crítico, traz um dos capítulos que é exatamente a Educação Pública no Brasil, o direito à educação no Brasil e a ordem jurídica internacional. Quando você analisa os tratados internacionais sobre direitos humanos e direitos sociais, todos eles têm a tendência de que toda a educação pública, não só o ensino básico, ensino médio, mas, também, o ensino superior, ele deve caminhar, progressivamente, para ser gratuito de forma universal. E, nós defendemos exatamente isso. Não importa se é pós-graduação, se é graduação, se é ensino médio, se é faculdade ou não. Essa é a posição da nossa Chapa. 

 

Wilson Madeira Filho

E o que acontece, o Conselho Universitário, ele rejeitou os cursos pagos na UFF. Mas, na verdade, houve uma outra pegadinha aí, na época. Porque não foi isso que foi votado. Foi votado se poderiam ter novos cursos pagos. Com isso, se garantiu um hall de cursos que já existiam e que continuam existindo. Qual é o perigo que a Chapa 2 vê nisso e até no papel que a Fundação Euclides da Cunha passou a ter? É que é um processo de privatização. A gente tem toda uma estrutura que é capaz de se desdobrar em cursos para o Brasil inteiro, através de mestrados interinstitucionais, doutorados interinstitucionais e até especializações em parcerias com o poder público e outras sociedades. Sem cobrar do aluno. Existe esse campo de atuação, esse campo de atuação é imenso. Ainda não foi abordado adequadamente pela UFF. O que está sendo colocado pela Universidade, infelizmente, até patrocinado pela Universidade é a venda de serviços e a Chapa 2 não pode ser, tem que se colocar contrária a esse tipo de coisa, porque é mais um passo da privatização. Nesse sentido, a gente tem que lembrar que a gestão atual, além de nomear gabinete militar para assessorar a própria reitoria, né? Foi junto, né? O ex-reitor foi à mídia para assinar o Future-se. E, o primeiro artigo do Future-se é, justamente, a cobrança de mensalidade. O segundo é que o corpo docente e o técnico-administrativo podem ser mudados para pessoas terceirizadas. Então, isso é um problema de larga escala. A Chapa 2 se coloca radicalmente contrária a esse tipo de política. A Universidade é pública, gratuita e vai continuar sendo de referência para o povo brasileiro. 

 

Qual a política que pretende desenvolver em relação aos trabalhadores terceirizados?

 

Wilson Madeira Filho

A questão, é uma questão séria dos trabalhadores terceirizados, né? Que a gente tem que pegar a UFF como está e a UFF como ela era até pouco tempo atrás. Eu participei do fórum de diretores que estava encarando essa questão há quatro anos atrás, um pouquinho menos, foi 2019, em 2019. O que aconteceu naquele momento? O corte de verba e, é importante a gente desdobrar esse corte de verba e o Wladimir vai explicar até melhor. O corte de verba escolheu na UFF onde atingir. O primeiro, foram os terceirizados, né? Que além de precarizados, e a gente precisa do pessoal de segurança, a gente necessita do pessoal da faxina e eles são tratados como se fossem uma casta inferior e isso não é admissível no campo do Direito do Trabalho. Mas foram cortados. Pelos cálculos que o fórum de diretores fez àquela época, de 2019, [foram] 870 trabalhadores. Então, desses, nós colocamos aqui do lado de fora no saguão da faculdade, tem uma placa em homenagem aos onze terceirizados que trabalhavam aqui, e que a Faculdade de Direito se honra muito do trabalho deles. O nome deles está lá fora em uma homenagem. Então, o que a gente tem que fazer é mudar radicalmente esse tipo de política. Porque o que aconteceu no Antonio Pedro, não pode voltar a acontecer de maneira nenhuma. 

 

Wladimir Tadeu Baptista Soares

Lá, no hospital, houve os desligamentos dos terceirizados, assim, abruptamente. O hospital, que já vinha sendo precarizado em números de leitos, de atendimento, com a demissão dos terceirizados, ele diminuiu, ainda mais, a capacidade de funcionamento e de assistência à sociedade, né? Os terceirizados têm sido tratados, muito, como pessoas de segunda classe. E, a gente não pode aceitar isso. Porque são trabalhadores como nós. E trabalhadores, muitas vezes, em situação muito precária, com baixo salário, mas que nós precisamos deles, porque eles exercem uma atividade digna e que dignifica também a nossa instituição. 

 

Qual a política que pretende desenvolver em relação aos técnico-administrativos?

 

Wilson Madeira Filho

Então, em relação aos técnicos-administrativos e também nesse tema do Direito do Trabalho, é importante saber que existe, já no Brasil, uma campanha do Rejeita Já. É uma campanha de direitos de trabalho. Eu fui convidado a estar na mesa de lançamento, no dia 30 de junho e vou estar lá, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro e outros fóruns. Porque é Rejeitar Já o quê? A reforma trabalhista. E, a reforma trabalhista, simplesmente, ela retirou direitos. Isso tem ocorrido também na UFF de diversas maneiras, né? A começar pela imposição de um ponto biométrico, que é uma espécie de humilhação sistemática e diária para todos os servidores técnicos-administrativos, né? Ela foi provocada pela própria reitoria, né? Que, através do diretor do hospital, que denunciou os servidores da UFF ao Ministério Público e, daí, a própria diretoria diz que é forçada a fazer um acordo devido a uma decisão judicial. Mas, não comenta que foi ela, foi a própria administração quem provocou a situação. Outra questão é as 30 horas. A UFF já tinha a dinâmica de 30 horas há 40 anos e, de uma hora para outra, as 30 horas viraram nove horas; oito horas mais uma hora de intervalo. Ou seja, isso mexeu com a vida de todo esse segmento. Quando na autonomia da Universidade permite, né? Permitiria que o reitor se posicionasse e há decisões diferenciadas neste país, que garantiram as 30 horas. Então, a Chapa 2, ela vai lutar, vai colocar as 30 horas e vai enfrentar judicialmente, se for o caso, as questões relativas. Assim, como o ponto biométrico, que vai desaparecer. Ele não se justifica, nem na Legislação ele estava previsto. E a situação de uma política neoliberal, ela escolhe onde atingir. Então, é o que aconteceu. A primeira escolha foi o hospital e outras escolhas vão vir por aí, se esse continuísmo político permanecer. Mas a Chapa 2 está aí para interromper com essa dilapidação dos direitos dos trabalhadores. 

 

Wladimir Tadeu Baptista Soares

É importante também assinalar que nós pretendemos criar as condições de integração dos técnicos-administrativos com os docentes, junto com os estudantes. Para eles participarem também das pesquisas, participarem das publicações. E publicações que nós temos a Eduff para gente valorizar, para a gente fortalecer, para garantir exatamente a participação de todo o corpo acadêmico da Universidade, seja ele professor ou não, na construção das pesquisas e na produção de conhecimento novo.

 

Qual a política de multicampia, em especial quanto aos investimentos para a melhoria das condições de trabalho-estudo, pesquisa e extensão?

Wladimir Tadeu Baptista Soares

Eu sou de uma cidade do interior, né? Eu sou de um município chamado Cambuci, né? E para fazer medicina, eu tive que sair da minha terra, na década de 70, e vir para a capital do Estado do Rio de Janeiro, Niterói, para fazer o meu curso de medicina. Eu tenho a noção, né? A consciência da importância dos campi, que eu chamo de campus avançados da Universidade, aqueles que estão fora das sede, né? Que são oito municípios do Estado do Rio de Janeiro e mais Oriximiná, no Pará. Eu não tenho dúvidas que esses campi precisam ser fortalecidos, não só do ponto de vista estrutural e institucional, em termos de tecnologia, em termos de biblioteca, em termos de equipamentos, todos, né? Mas, também, do ponto de vista acadêmico, né? É preciso fortalecer, do ponto de vista acadêmico, em observar quais são os cursos que podem ser agregados à renda nesses campos. Por exemplo, Santo Antônio de Pádua não tem, por exemplo, Faculdade de Direito. Talvez seja importante ter uma Faculdade de Direito em Santo Antônio de Pádua, né? Porque atenderia todo o Noroeste Fluminense. Isso é muito importante. Então, esse é um fortalecimento acadêmico. Além disso, não pode ser abandonada ao ponto de não ter as estruturas de políticas assistenciais estudantis que levem a uma grande evasão estudantil, porque isso enfraquece a instituição. Então, assim, a aplicação do investimento tem que estar com uma UFF toda, né? Você tem que ter um plano diretor da UFF para você saber o que você tem, o que você precisa. E, importante: que você tem que estar nesses locais. Então, você tem que ter uma gestão itinerante em que você organiza simpósios institucionais periódicos, com a participação de estudantes, servidores e professores, separadamente, para que possamos ouvir quais as queixas, as demandas, as expectativas e o que eles apontam como solução. Porque só você está no front, no chão da Universidade, como a gente chama, é que você tem condições de conhecer o mundo real. Ele sabe as necessidades e nós, como gestores, temos que atender as necessidades deles. De todos. E não de alguns, não só dos amigos. Isso é muito importante. 

 

Wilson Madeira Filho

Então, essa é uma questão importante porque, por exemplo, a gente participou da construção do campus de Macaé, 12 anos, né? E, lá, a gente precisa entender onde há o investimento, né? É um multicampi onde tem a UFRJ, por exemplo, que investiu boa parte do Reuni, lá. Enquanto a UFF não fazia isso. Foi necessário convencer que naquele conjunto valia a pena fazer um investimento maior, porque Macaé apresentava as condições ideais para fortalecimento. Então, esse tipo de entendimento, só no local. O campus de São Gonçalo e o de Oriximiná iam ser encerrados. Eu solicitei, então, de continuar com o campus, assumindo ônus sobre o campus. Por quê? Porque a gente atua em Oriximiná há 14 anos. Então, em um mês e meio, me deram um ano e meio para regularizar o campus, e em um mês e meio isso foi possível. Então, o campus de Oriximiná, que tem uma maternidade, atua em 33 quilombos e em três terras indígenas, conseguiu-se depurar e se autossustentar. Esse exemplo que a gente vai espalhar para toda a estrutura multicampi da UFF. 

 

Qual a sua política para enfrentar a precarização das condições e a intensificação de trabalho de docentes na Universidade Federal Fluminense como um todo?

 

Wladimir Tadeu Baptista Soares

A precarização, ela leva em conta várias coisas. Primeiro a quantidade pequena de professores. Porque não se abre, não se tem uma política de contratação de professores efetivos. Existe no Brasil uma indústria de contratação de professores temporários. Isso impede que você crie um corpo acadêmico de professores fixo e estável, que você possa realmente fazer uma política estudantil acadêmica de magistério para a Universidade. A outra coisa é a estrutura, né? A estrutura do hospital, a estrutura da Universidade, a estrutura da escola, da biblioteca. Quer dizer, você tem que reformular toda essa arquitetura às vezes, né? Você tem salas de aula, que você entra e não tem ar-condicionado. O professor fica suando, ali, em janeiro igual um desesperado. Quer dizer: nem ele ensina direito, nem o aluno tem condições de aprender direito, porque aquela aula passa a ser desconfortável, né? O hospital, por exemplo, como não está sobrecarregado, se você não tem mais leito? Você tinha um hospital com 420 leitos, hoje você tem 112. Então, grupos de alunos de cinco, seis, sete alunos, às vezes, dez alunos, cinco vezes ao dia, vão no mesmo paciente, fazer as mesmas coisas: colher história, examinar, etc. Não dá descanso ao paciente. O paciente que está internado, ele está cansado todo dia. Ele não tem mais disposição, quer dizer, é uma indignidade. Então, tudo isso leva ao estresse do aluno, leva ao estresse do professor, leva ao estresse do técnico-administrativo, de todo mundo, né? Até do parente que está visitando, por exemplo, o seu ente querido no hospital, tá vendo que ele não aguenta mais falar nada, ele não consegue nem dormir de dia. Então, isso é muito triste. 

 

Wilson Madeira Filho

Sem falar que a gente tem altos índices de depressão, até surpreendente o índice de suicídio: nove por cento do corpo docente [da graduação], desculpe, do discente. Nove por cento é muita coisa, é muito além de qualquer padrão anterior, né? Então, a própria pandemia trouxe situações de desconforto, né? A gente tem que, então, trabalhar no sentido de uma UFF saudável, né? Não só tratar os casos isolados, mas garantir um ambiente de trabalho adequado, né? A UFF sempre foi um local que as pessoas gostavam de estar na UFF. Então, é esse local aprazível, esse local de tecer redes de solidariedade que tem que voltar a existir, né? Então, a começar pela sala de aula depauperada ou pelo horário que exige planejamento, esse tipo de questão tem que ser trabalhada de forma adequada nos fóruns, né? Nas prós-reitorias, né? Cada pró-reitoria vai ter que fazer o levantamento. Hoje, a UFF tem relatórios. Os relatórios estão colocados no próprio sistema Eduff. Mas, se a gente for pegar os resultados dos relatórios e aplicar numa leitura crítica, eles são, o resultado dele é irrisório, quando muito aquém daquele que seria, minimamente, desejado. 

 

Quanto à Renovação da Lei das Cotas gostaríamos de saber: qual sua opinião sobre as Cotas e Ações Afirmativas e qual a política para assegurar a manutenção das cotas? Qual a política para acolhimento e manutenção de estudantes cotistas?  Qual a política de heteroidentificação e como serão as estratégias para o combate às fraudes?

 

Wilson Madeira Filho

Bom, essa pergunta, particularmente, para mim, é muito especial. Porque a gente teve a oportunidade de estar na vanguarda de todos os temas que a pergunta aborda. A começar, fomos processados por ter a maior cota para negros e negras da América Latina. Eu sempre digo isso, que o que deveria ser um prêmio, foi o objeto de um processo e acusação. Então, o fato de irmos à justiça e ganhar essa causa foi significativo para que a UFF pudesse ter uma política de cotas, né? Eu faço parte da Afide, que é a Comissão de Ações Afirmativas da UFF. A comissão já preparou o relatório, já remeteu à pró-reitoria e estamos esperando que a reitoria encaminhe. Torcemos para que ela faça isso mesmo. Porque se não fizer, a Chapa 2 vai fazer quando assumir, que é o seguinte: garantindo a heteroidentificação durante o processo, garantindo que seja através de fenótipo. Já tivemos dois casos judicializados na Universidade. Foi solicitado o parecer da Afide, eu vou redigir e, é claro, foi aprovado pela Afide a redação dos pareceres em relação às fraudes que já ocorreram. Então, a gente tem uma luta séria. Também, já estabelecemos no âmbito que nos competia, que na época que eu estava como diretor da faculdade, até antes da pandemia, a garantia de que as bolsas distribuídas, elas obedecessem às políticas de cotas. Então, a gente tem uma totalização de cotas e, aqueles cotistas, são bolsistas. Claro que isso vale localmente, porque a gente fez isso localmente. Mas, enquanto reitor, será uma regra para o total da Universidade. Porque a gente tem que fazer, falamos isso lá no início dessa entrevista, não adianta entrar na Universidade, é preciso ter as condições, é preciso ter o BusUFF passando de forma regular. Às vezes, ele passa, ele demora uma em uma hora para sair do Valonguinho e rodar até o Gragoatá. Para chegar, lá, na Veterinária, praticamente, passa duas vezes ao dia. Em Angra dos Reis, a residência, a moradia estudantil, foi inaugurada semana passada. Estivemos lá. Ainda não foi inaugurada, a sede foi inaugurada, mas não existe os móveis e nem os estudantes. Mas fica a 26 km do campus. Em um local onde é difícil passar o ônibus. Se o estudante perder o ônibus, ele não volta para casa. Não volta. Não tem um ônibus circular que leve para aquele local. Então, esse tipo de questão tem que ser pensada, que tem que ser garantida a permanência dos estudantes com as bolsas correlatas, com as estruturas correlatas. 

 

Depois de cerca de seis anos de o Hospital Universitário Antônio Pedro ser cedido à Ebserh, em meio a uma sessão controversa e questionada do Conselho Universitário – processo denunciado pelas entidades sindicais como antidemocrático e privatista – como avalia a administração do HUAP? que respostas pretende dar à comunidade universitária quanto às condições de trabalho e formação deste hospital-escola e à qualidade dos serviços à população usuária do HUAP?

 

Wladimir Tadeu Baptista Soares

Bom, a gestão do Hospital Universitário Antônio Pedro, ela é a mesma há 16 anos. Desde 2006, né? Quando o Roberto Salles era reitor, ele nomeou Tarcísio Rivello para ser diretor do hospital. Foi mantido uma segunda gestão dele, que foi mantido com o Sidney e Antonio Claudio e mantido, de novo, com Antonio Claudio. Então, há 16 anos essa mesma gestão. Como que a Ebserh chegou na Universidade? É importante a gente lembrar que a lei da Ebserh é de 2011. Era reitor da Universidade o Roberto Salles, né? E Sidney como vice. E, como pró-reitores, tinha o Fábio e tinha o Antonio Claudio. Quando a lei saiu, em 2011, houve a 14ª Conferência Nacional de Saúde. E que concluiu e mandou um documento recomendando que todos os reitores das Universidades não aderissem ao projeto Ebserh, que isso traria prejuízo não só aos servidores, como, também, aos estudantes e à comunidade. Bom, ao mesmo tempo, o Conselho Federal de Medicina fez a mesma coisa: elaborou um documento e pediu para que as Universidades não aderissem a esse projeto. Quando a lei saiu, antes de você fazer o contrato, assinar o contrato, era necessário que você aderisse ao projeto, à Ebserh. Quem aderiu à Ebserh foi o Roberto Salles, junto com o Sidney que era vice-reitor, de tal modo que funcionários da Ebserh, que nós nunca vimos na vida, começaram a entrar em vários setores do hospital, querendo saber quem trabalhava, o porquê, que faziam lá, quantas pessoas tinham, várias perguntas para fazer o diagnóstico institucional pela Ebserh. Bom, feito esse diagnóstico institucional, é que, após isso, foi apresentado o contrato, já na gestão de Antonio Claudio com Sidney e foi assinado o contrato da Ebserh. Portanto, as digitais da Ebserh tem participação de Roberto Salles, que aderiu, e de Antonio Claudio e Sidney que assinaram o contrato. O hospital acabou, né? O hospital não é mais o Hospital Universitário. Ele virou uma filial da Ebserh como está no regimento interno da Ebserh, dito. O pior: no contrato que eles assinaram, eles determinam no contrato, que quem determina o perfil do hospital é a Ebserh e ele definiu que não é mais acadêmico. O hospital, hoje, tem 112 leitos, não atende nem os funcionários que trabalham, nem professores, nem alunos. Fecha às dez da noite e só abre às sete da manhã. Emergência fechada. Portanto, fechou-se para a comunidade. Hoje a comunidade é desassistida. E o superintendente da Ebserh é o Tarcísio Rivello, que está há 16 anos, posto por Roberto Salles e mantido por Antonio Claudio. Nós vamos rescindir o contrato da Ebserh, resgatar o hospital para a gestão pública da Universidade, resgatar o seu perfil acadêmico universitário e dá dignidade de novo, e abrir as portas da emergência, abrir a porta do hospital para a comunidade, para os estudantes, para os servidores, como nunca deveria ter deixado de ser feito. 

 

Wilson Madeira Filho

O que a gente vê com esse exemplo do hospital? Que diante de uma atualização de um modelo de luta de classes, qual foi a opção da reitoria neoliberal? É de que o hospital tem 2 mil servidores técnicos-administrativos, né? Que eram um constante processo de reivindicação dos Conselhos Universitários. Como atingir esse grupo? Eliminando. Foi uma opção da gestão eliminar o hospital para manter apenas uma aparência do que foi hospital. Isso em uma Universidade em que 40% da Universidade trabalha na área médica. Essa opção infeliz, ela tá direcionada para aquele que for se colocar contrário aos interesses da oligarquia que está reinante na UFF. 

 

Wladimir Tadeu Baptista Soares

Hoje nós formamos péssimos médicos. Nós formávamos muito melhores médicos na década de 80 e 90. Apesar de toda a tecnologia, os médicos estão sendo mal formados. Com certeza.

 

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