DA REDAÇÃO DA ADUFF
Passados 23 anos do brutal assassinato dos enfermeiros e sindicalistas Edma Rodrigues Valadão (então presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio de Janeiro) e de seu marido, Marcos Otávio Valadão (presidente da Associação Brasileira de Enfermagem), Gilberto Linhares Teixeira, acusado de ser o mandante do crime, irá a julgamento nesta quarta-feira, 11 de maio de 2022. Linhares esteve à frente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ), de 1987 a 1991, e do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), de 1991 a 1997.
Também serão julgados mais dois envolvidos no crime: Wenceslau Caldeira Constantino, enfermeiro que integrou diretorias do Coren-RJ na mesma época, e Alfredo Coelho Cavalcanti Filho, agente penitenciário apontado como o autor dos disparos que mataram o casal.
Marcos e Edma vinham denunciando graves irregularidades no sistema Cofen/Conselhos Regionais e estavam prestes a apresentar ao Ministério Público um dossiê. O crime aconteceu em setembro de 1999.
Em 2000, Gilberto foi condenado a 19 anos de prisão pelo envolvimento no desvio de R$ 100 milhões do Cofen ao longo de dez anos, mas cumpriu apenas sete anos da sentença. Em 2007, ele foi beneficiado por uma decisão da 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que anulou laudos de peritos da Polícia Federal, cancelando a sentença. Nessa época, Gilberto Linhares já respondia pela acusação do homicídio do casal.
Atos por justiça
Coincidentemente, o julgamento acontecerá próximo às comemorações da 83ª Semana Brasileira de Enfermagem, realizada anualmente entre 12 e 20 de maio, datas que marcam, respectivamente, o nascimento Florence Nithingale (1820) e a morte de Anna Nery (1880), dois importantes símbolos da enfermagem mundial.
Num país onde o julgamento, e mais dificilmente a prisão, de mandantes de crimes ainda é uma exceção (vide os casos da vereadora Marielle Franco e da missionária Dorothy Stang, entre muitos outros), sindicatos e entidades da sociedade civil veem à ida de Gilberto Linhares a julgamento como uma vitória dos movimentos sindicais e sociais e planejam atos em frente ao Tribunal, ao longo da tarde desta quarta, na rua Erasmo Braga, 115, Centro, Rio de Janeiro.