Ago
17
2021

Ministro será ouvido na Câmara uma semana após dizer que 'universidade deve ser para poucos'

Na véspera de greve de 24h no setor público, Milton Ribeiro falará sobre orçamento para 2022 e deverá ser questionado sobre posição elitista, intervenções nas instituições de ensino e dos cortes no setor, talvez o maior da história

DA REDAÇÃO DA ADUFF 

Pouco mais de uma semana após afirmar que a universidade "deve ser para poucos", o ministro da Educação, Milton Ribeiro, será ouvido na Comissão Mista de Orçamento nesta terça-feira, 17 de agosto de 2021, em audiência pública sobre a situação orçamentária das universidades federais e dos institutos federais de ensino. 

A reunião ocorre no Plenário 2, a partir das 10h30 e deve se estender pelo início da tarde. A atividade será semipresencial e será transmitida no Canal da Câmara no Youtube (https://www.youtube.com/c/CâmaradosDeputadosoficial/). A audiência ocorre na véspera de um dia nacional de greve e protestos no setor público contra a 'reforma' Administrativa (PEC-32), no qual os cortes orçamentários e os riscos que a proposta traz para a educação pública deverão ser também levados às ruas.

O ministro, que está completando um ano no cargo, falará sobre o projeto de lei orçamentária para 2022 e deverá ser questionado sobre os cortes e bloqueios de verbas nas instituições federais de ensino. O setor vive talvez a maior crise orçamentária de sua história, decorrente dos cortes determinados pelo governo de Jair Bolsonaro.

É quase inevitável, porém, que as polêmicas declarações dadas em entrevista pelo ministro no dia 9 de agosto de 2021, ao programa Sem Censura, da TV Brasil, sejam lembradas pelos parlamentares na audiência. 

O ministro da Educação, que, ao contrário de seus antecessores, pouco foi visto ao longo de um ano no cargo, foi muito contestado e criticado por sindicatos, entidades estudantis e educadores pelas posições que defendeu. “Então acho que o futuro são os institutos federais, como é na Alemanha. Na Alemanha são poucos os que fazem universidade, universidade na verdade deveria ser para poucos nesse sentido de ser útil à sociedade”, disse, sem explicar porque, mesmo com essa controversa posição, os institutos federais também sofrem cortes que vêm ameaçando até a possibilidade de funcionamento de seus campi.

Embora tenha causado barulho, a declaração de Milton Ribeiro não chega a ser uma novidade no governo Bolsonaro. O jornal "Folha de São Paulo" lembrou que ela é muito semelhante à que deu, em 2019, o primeiro titular do MEC na gestão de Bolsonaro. Na ocasião, Ricardo Vélez disse ao jornal Valor Econômico que as universidades deveriam “ficar reservadas para uma elite intelectual”, também sendo muito criticado pelas entidades sindicais da Educação, entre elas a Aduff-SSind

Para tentar justificar a sua posição, o ministro mencionou o desemprego entre pessoas com o terceiro grau de ensino. “Com todo o respeito que tenho aos motoristas, é uma profissão muito digna, mas tem muito engenheiro, muito advogado dirigindo Uber porque não consegue colocação devida. Mas se ele fosse um técnico em informática estaria empregado, porque há uma demanda muito grande”, disse. 

Ribeiro disse também não ver problema em jovens “filhinhos de papai” ocuparem vagas das universidades públicas, porque eles pertenceriam às classes sociais que pagam impostos e sustentam a educação pública. “O que também eu acho justo ['filhos de papai' ocuparem 50% das vagas, segundo ele], considerando que os pais desses meninos tidos como filhinhos de papai são aqueles que pagam os impostos no Brasil que sustentam bem ou mal a universidade pública", disse.Também não mencionou pesquisas que desmentem este perfil universitário e ignorou que os trabalhadores assalariados são os que mais pagam impostos no país, embutido e quaisquer produtos ou serviços adquiridos que tenham passado pelo mercado formal. 

Outra declaração polêmica foi referente às Reitorias. Disse que os reitores das universidades federais não precisam "ser bolsonarista, mas não pode ser esquerdista, não pode ser lulista”. “As universidades federais não podem se tornar um comitê político do partido A, nem de direita, mas muito menos de esquerda, disse. Levantamentos mostram que, desde que assumiu a Presidência, Bolsonaro desconsiderou o primeiro colocado das listas tríplices escolhidas nas universidades em 40% dos casos ao escolher o reitor. 

A audiência foi solicitada pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP) e pela senadora Rose de Freitas

Além do ministro, estão previstos para falar na audiência, segundo a Agência Câmara, os seguintes convidados: 

 > o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, Wagner Vilas Boas;

> o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Tomás Dias Sant'ana;

> o reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Marcus Vinicius David.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

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