Set
24
2020

CineClube da Aduff debateu com diretoras 'Sementes', sobre mulheres pretas no poder e o legado de Marielle

 

No debate após a exibição do filme, cineastas contaram sobre os bastidores da filmagem e o lançamento, 30 meses após o assassinato de Marielle Franco

"Sementes: Mulheres Pretas no Poder", filme de Éthel Oliveira e Júlia Mariano, desde que estreou, no início deste mês, já conta com 27 mil visualizações e mostra como o cinema tem potencial para a luta por uma sociedade mais democrática e plural. Quem afirma é Marina Tedesco, professora do curso de Cinema da UFF e presidente do sindicato da categoria. Ela coordenou a live que recebeu as diretoras do documentário de 105 minutos, exibido no Cineclube Virtual da Aduff, na página do Facebook e no canal da seção sindical no You Tube, no domingo 20.

“É muito bom estarmos juntos vendo e debatendo filmes que nos fazem parar, refletir, nos emocionar, mas também nos trazem informações que desmintam a poderosa e perversa rede de fake news que tem se estruturado no nosso país”, disse a presidente da seção sindical.

Segundo Marina, ‘Sementes’ foi feito com poucos recursos, mas já pode ser considerado um filme histórico dentro do panorama do cinema brasileiro por trazer para a tela um dos momentos mais dramáticos da nossa política [o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes]. “A democracia sofre grande derrota, mas, paradoxalmente, alcança umas das maiores vitórias pelo aumento vertiginoso de candidatas negras e pelo aumento de mulheres negras que conseguiram se eleger, ainda que muito aquém do que deveria, dada as características da população brasileira”, diz a professora. "É um filme sobre uma história que ainda está sendo feita", complementou Marina.

Fazer político das mulheres negras

As cineastas contaram sobre o processo que as motivou a realizarem um documentário com enfoque na trajetória política de mulheres negras a partir do assassinato de Marielle Franco, 30 meses depois ainda sem solução pelas autoridades do país. Elas apontaram a importância do filme como um relato emocionante dos dias que se sucederam a morte de Marielle Franco para compreender as trajetórias de mulheres negras despontando na política institucional. Também observaram a boa recepção das pessoas ao documentário, lançado no You Tube, o que tornou o processo mais democrático, sobretudo no contexto de pandemia.

"Foi muito incrível o que aconteceu no dia da estreia e nos sentíamos próximas às pessoas enquanto conversávamos com elas pelo chat", disse Júlia Mariano. Para ela, apesar de "Sementes" ter sido filmado em 2018, dialoga muito com a conjuntura atual. "No dia em que o filme estava sendo lançado, acontecia um panelaço contra o Bolsonaro, que falava na televisão no dia 7 de setembro", conta a cineasta.

Nas primeiras semanas, elas tentaram criar um cronograma a partir das agendas das candidatas. Mas durante a campanha, os compromissos mudavam constantemente. Então, decidiram acompanhar um dia de filmagem com cada candidata.

Éthel Oliveira explicou que elas logo entenderam que melhor do que filmar um discurso oficial ou um momento de panfletagem era acompanhar as candidatas durante o deslocamento entre um compromisso e outro, as conversas com as assessoras e os bastidores do processo. Explicou que houve também um financiamento coletivo que permitiu que as filmagens também acontecessem em Brasília, acompanhando a posse de Talíria Petrone como deputada federal.

“Passamos muito perrengue com elas e porque não tínhamos como manter uma equipe de filmagem fixa. Ia ter uma agenda muito boa com a Rosi Cipriano, mas 15 minutos depois de sabermos da atividade víamos que não tínhamos condições de manter aquela diária. Quando explicamos que não daria, ela se disponibilizou a emprestar dinheiro ou ir nos buscar. Era muito perrengue, mas havia apoio mútuo”, contou Éthel, apontando que as próprias candidatas percebiam a importância do filme.

Aos poucos, as cineastas e as entrevistadas estabeleceram uma relação de confiança, capazes de estabelecer um cinema direto, possibilitando que a câmera deixasse de ser um incômodo ou um elemento estranho. “O filme tem muita coisa de artesanal, que não é de falta de técnica ou de domínio do que estamos fazendo, mas sim porque não ocupa esse lugar do mercadológico. Não temos uma super produção e uma equipe enorme e isso, de uma certa forma, aproxima você da cena. Com menos pessoas, você acaba tendo mais proximidade daquilo que você está filmando”, afirmou Júlia Mariano, ressaltando a colaboração das mulheres profissionais do audiovisual do Rio de Janeiro. “O cinema pode ser realmente um fazer coletivo”, apontou.

Link para a live: https://www.facebook.com/watch/?v=799357640879935&extid=gwEgEeent4lVpJgR

Link para o filme: https://www.youtube.com/watch?v=8vEcUORITC4


Da Redação da ADUFF
Por Aline Pereira

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