Nov
26
2019

Sindicalista venezuelano analisa resistência popular e situação do país no contexto internacional

Para Elio Colmenares, a vitória do povo venezuelano não está desatrelada a da luta de outros povos, sobretudo a dos latinoamericanos. 

"América Latina - ataques e resistências" é o tema da roda de conversa que aconteceu na noite de segunda- feira (25), com a presença do sindicalista venezuelano Elio Colmenares, no Campus da UFF no Gragoatá. A atividade ocorreu logo após a etapa da assembleia descentralizada em Niterói e, como informou o diretor da seção sindical dos docentes, Carlos Augusto Aguillar Filho, teve o objetivo de debater a conjuntura latino-americana e a resistência popular frente ao cenário de retirada de direitos.  

Inicialmente, o palestrante destacou a especificidade da economia venezuelana como grande produtora de petróleo e explicitou como tal mercadoria sempre foi cobiçada por outros países – fator que, segundo Elio Colmenares, justifica os ataques ao governo de Caracas na história recente. “A Venezuela tem a maior reserva petroleira na atualidade”, afirmou. 

Ele criticou o fato de o país depender da importação de alimentos e remédios – produtos que não chegam desde 2012, quando, ainda sob a gestão de Barack Obama, os Estados Unidos intensificaram a sansão comercial à Venezuela. O quadro foi mantido e agravado pelo governo de Donald Trump. “O sistema financeiro não permite que dólares cheguem ao país. Desde o embargo, foram confiscados cerca de quatro anos de todo o consumo necessário à Venezuela. Há um cenário de destruição de direitos, com ataque a nossa moeda, fuga de capitais, paralisação da indústria, aumento da inflação – hoje está na casa de 160 mil %”, analisa Elio Colmenares. “Há cinco anos, nosso salário mínimo equivalia a 400 dólares; hoje, é cerca de seis dólares”, contou.

O sindicalista rememorou à ascensão do militar Hugo Chávez ao poder, com o apoio de setores do exército e da burguesia que tinham sido afetados pela política econômica neoliberal. Disse que, como presidente da Venezuela entre 1999 e 2013, Chávez pôs em curso a chamada “Revolução Bolivariana” – defendendo o socialismo, a inclusão social por meio de melhores condições de renda e pelo fim da pobreza, seguridade social para todos, acesso à assistência médica e à Educação gratuitas.

“Uma das primeiras medidas de Chávez no poder foi convocar Assembleia Constituinte para refundar o país”, contou Elio Colmenares, que também foi vice-ministro do Direito e Relações de Trabalho na Venezuela.  

O convidado expôs as tensões entre os diferentes interesses em curso ao longo do processo que alçou Hugo Chávez à presidência até à crise institucional em 2002, em meio a uma tentativa de golpe para retirar o comando das mãos do militar. Falou da histórica Greve Geral dos trabalhadores naquele ano e mencionou o fortalecimento das organizações sindicais e populares no país. Avaliou a situação política pouco antes da morte de Hugo Chávez em 2013, em meio a crise doméstica e internacional. “Chávez não rompeu com a burguesia; a burguesia rompeu com Chávez”, disse ao se referir à disputa eleitoral de 2012, ao mesmo tempo em que o presidente enfrentava tratamento contra o câncer.

Analisou brevemente os passos de Nicolás Maduro, que assumiu o poder após a morte de Hugo Chávez em 2013 e segue linha política semelhante.  Destacou que, para os trabalhadores, o ‘chavismo’ é uma identidade – algo que transcende a própria figura do líder venezuelano. “É comum ouvir a saudação “Chávez Vive”. E a outra pessoa responder com: “A luta segue”, revelou. Elio Colmenares acredita, no entanto, que a vitória do povo venezuelano não está desatrelada a da luta de outros povos, sobretudo a dos latinoamericanos. “A única forma de derrotar o Império é com a revolução em outros países”, disse.

Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco/ Aduff

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