Mai
30
2017

Encontro docente destaca papel de Grupos de Trabalho na construção da luta por direitos

No 1° Encontro de Docentes da UFF, professores contam sobre participação nos Grupos de Trabalho (GTs) do ANDES-SN

DA REDAÇÃO DA ADUFF

"Ao que tudo indica, estamos recuperando um tempo que a gente não gostaria de reviver. Até nossa possibilidade de organização está senda colocada em cheque. Não é menor quando o STF fala que nós não podemos fazer greve. As lutas sociais vêm sendo militarizadas, nossos direitos, inclusive os de organização, estão sendo questionados. Esses dias, o Governo anunciou que vai cobrar das centrais sindicais os danos a Brasília. Queremos nós cobrar do Governo os danos às nossas vidas e às vidas da imensa maioria da população. Para isso, o Sindicato tem que ter vida nas bases". A análise é da presidente do ANDES-SN e professora do curso de Serviço Social da UFF em Niterói, Eblin Farage, na mesa de abertura do I Encontro de Docentes da UFF.

Para Farage, o momento é de resgate da história e de reapresentação do ANDES-SN para uma categoria que se renovou e possui um perfil distinto dos docentes que acompanharam a criação do Sindicato Nacional, há 36 anos. Na UFF, por exemplo, quase metade dos professores são jovens com menos de 10 anos de universidade. Um dos caminhos, ela aponta, são os Grupos de Trabalho (GTs). "Eles são espaços de acúmulo político importantíssimos para a vida do ANDES-SN e atraem docentes para a participação efetiva na vida do sindicato e na luta por direitos".
Para Elza Dely Macedo, coordenadora do Grupo de Trabalho de Política Educacacional (GTPE) da Aduff-SSind, os GTs do Sindicato Nacional são espaços fundamentais de formação e formulação. Ela explica que eles se organizam de duas formas.

Nas seções sindicais e em reuniões dos GTs nacionais, quando os representantes dos grupos de trabalho locais se encontram para pensar política para o Sindicato Nacional. "A diretoria do ANDES-SN formula muito subsidiada pela produção dos grupos, que se reúnem periodicamente. Os GTs alimentam efetivamente a dinâmica do Sindicato. Como Eblin já destacou, também são locais de aproximação dos professores com o Sindicato; a diversidade dos GTs dialoga tanto com a trajetória acadêmica e área de estudo dos docentes como com o interesse na militância e no diálogo com os movimentos sociais", ressaltou a diretora da Aduff-SSind, durante a mesa de abertura do I Encontro dos Docentes da UFF.

Professor do curso de Serviço Social da UFF de Rio das Ostras e integrante do GT de História do Movimento Docente (GTHMD) da Aduff-SSind, Wanderson Mello destaca que não é preciso ter uma trajetória acadêmica prévia no tema para participar dos grupos de trabalho. "Não precisa ser mestre ou doutor para entrar em um GT, só interesse no assunto, compromisso e compreensão coletiva da produção intelectual", lembra.

Wanderson frisa que o produtivismo acadêmico acaba sendo um obstáculo para a participação dos docentes no sindicato, o que também prejudica o funcionamento dos grupos de trabalho. "A Universidade não valoriza o trabalho em intervenções coletivas. O docente já está sobrecarregado, com critérios impossíveis de progressão na carreira. Por que vai 'perder tempo' num GT de sindicato, sendo que ele pode publicar um artigo numa revista com qualis alto e potencializar bolsas de estudo, etc?", problematiza. Ele emenda, todavia, que a melhor forma de mostrar a importância dos GTs é fortalecer esses espaços e construir, na prática, experiências diferenciadas de atuação política e sindical.

Como exemplo, o docente cita a segunda edição do relatório 'Ditaduras e Resistências na UFF: Rebeldia dos Professores e a Formação da Aduff-SSind', produzido pelo GT local de História do Movimento Docente da Aduff-SSind, em resposta às deliberações do ANDES-SN sobre a Comissão da Verdade do Sindicato Nacional, cujos trabalhos seguem independentes em relação ao governo.

"A intenção do nosso GT é lançar essa publicação no 62° CONAD, que acontece entre os dias 13 e 16 de julho, em Niterói. Encerrado esse trabalho sobre a ditadura empresarial-militar na UFF, a perspectiva para o próximo ano é fazer um específico sobre os 40 anos da Aduff-SSind, comemorados em 2018. Fazer o levantamento da nossa história, conversar com os professores que ajudaram a construir esta seção sindical e entender a transmutação de associação docente para seção sindical: como ressalta a Eblin, o cenário político e a conjuntura pedem isso", defende.

A professora do curso de Enfermagem de Rio das Ostras, Elizabeth Barbosa, concorda. Integrante do GT local de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (GTSSA) da Aduff-SSind, ela lembra que o tema do grupo de trabalho é caro ao movimento docente e que vai muito além da discussão urgente sobre Reforma da Previdência, abarcando os debates sobre Carreira, criação do Funpresp (Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público da União), adoecimento docente, entre outros. Elizabeth ressalta que o 35° Congresso Nacional do ANDES-SN, realizado em Curitiba, em 2016, deliberou pela realização de uma Pesquisa Nacional da Saúde Docente, com coleta de dados em todas as seções sindicais.

“A precarização do trabalho, as políticas produtivistas dentro da universidade, as disputas internas pelo fomento de pesquisa e extensão, tudo isso faz com que a gente adoeça. A ideia é que a gente estude essa realidade para elaborar no Sindicato Nacional políticas de ação e enfrentamento ao adoecimento docente. Em novembro do ano passado, no VI Encontro Nacional de Saúde do Trabalhador Docente, o ANDES lançou uma cartilha com o intuito de instrumentalizar as seções sindicais na realização dessa pesquisa. Esse trabalho a gente precisa fazer até o segundo semestre desse ano. E ainda tem o debate do adoecimento dos nossos estudantes, que sofrem com a falta de políticas de assistência e permanência estudantil, com a precarização das universidades, o corte nas bolsas, o risco iminente de evasão. Tem a implementação da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) na UFF que a gente nem se deu conta ainda do que está acontecendo. São muitos os debates que precisamos enfrentar, discutir e dar conta.
Para isso, o GTSSA tem que funcionar”, conclui.
Integrante do Grupo de Trabalho local de Políticas de Classe, Etnia, Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS), a professora do Coluni Maria Cecília Castro conta que se interessou pelo ANDES-SN e pelo cotidiano do sindicato a partir da descoberta dos grupos de trabalho. "Minha relação com as questões de gênero e raça vem da minha formação e vivência. Me interessa muito pensar essas questões não só a partir da perspectiva acadêmica, mas a partir de um debate de políticas públicas que tem relação principalmente com a Educação. Por estar na educação básica, a gente vê o quanto é importante aliar o macro com as micropolíticas que a gente desenvolve na sala de aula. Tenho muita proximidade não só com as temáticas, mas com as pessoas que compõem o GT tanto a nível nacional quanto na Aduff-SSind. São professores que admiro pelo compromisso com a pauta, principalmente na insistência em atrelar as questões de classe às de gênero, raça e diversidade sexual", revela.

Nos dias 25, 26 e 27 de agosto, em Pelotas (RS), o GTPCEGDS nacional realiza - em conjunto com a seção sindical do ANDES-SN na Universidade Federal de Pelotas (AdufPel) - um grande seminário integrado para debater questões de diversidade sexual, feminismo, raça e etnia. "O GT local da Aduff-SSind está contribuindo com a construção desse seminário.
A ideia é pensar o racismo e o machismo no próprio sindicato e na universidade, num trabalho de sensibilização da importância da pauta de combate às opressões dentro do movimento docente", completa.

GTs na Aduff-SSind

Na Aduff-SSind estão ativos oito Grupos de Trabalho; de Política Educacional (GTPE), de Comunicação e Artes (GTCA), de Formação e Política Sindical (GTFPS), de Políticas de Classe, Etnia, Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS), de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (GTSSA), de Ciências e Tecnologia (GTCT), de História do Movimento Docente (GTHMD) e de Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA).

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Lara Abib (texto) e Luiz Fernando Nabuco (foto)