Mai
05
2017

Professores reagem à suspensão do Passe Livre para estudantes da rede pública federal e municipal

De acordo com a Secretaria de Educação do Estado do RJ, decisão se deve à falta de recursos para manutenção da gratuidade escolar – o que afetará cerca de 27 mil alunos, inclusive os do Coluni/UFF

DA REDAÇÃO DA UFF
Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco/Aduff-SSind.

“A missão da Secretaria de Educação é assegurar uma educação que garanta o acesso, permanência e sucesso dos alunos dentro de sala de aula”. Assim tem início o segundo parágrafo do texto de apresentação da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro – Seeduc, em página institucional na Internet. A partir de segunda-feira (8), no entanto, a mesma secretaria que afirma ter como meta promover o acesso dos estudantes à Educação irá dificultá-lo ainda mais ao impedir que cerca de 27 mil jovens possam ir de graça à escola. Isso porque a pasta, que tem a frente o engenheiro Wagner Victer – ex-secretário de Energia do RJ, ex-presidente da Cedae e da Faetec – determinou a suspensão do passe livre dos estudantes da rede municipal e federal, alegando não ter mais recursos para manter o convênio.

Entre os estudantes afetados pela medida estão os do Colégio de Aplicação da UFF (Coluni), que estarão impedidos de usar ônibus intermunicipais, barca, trem ou metrô gratuitamente. A decisão do governo estadual, que sequer cumprirá aviso prévio de 30 dias, teria motivação na crise financeira que já se arrasta por mais de ano, atribuída por muitos à incompetência administrativa dos gestores ou à corrupção na política.

“Isso é uma grande perda para os filhos da classe trabalhadora”, disse a professora Maria Cecilia Sousa. Ela observa que a admissão no Colégio de Aplicação da UFF é por meio de sorteio, e que atende majoritariamente estudantes dos municípios de Niterói e de São Gonçalo. “Não sei precisar quantos usam o RioCard, qual será o impacto dessa medida”, considera, preocupada. “Penso ainda nas mães que têm a gratuidade para levar e trazer os filhos à escola”, diz a docente, conclamando a sociedade à resistência, à luta pela manutenção de direitos.

Para Arlene Pompeu, há duas décadas professora de Língua Portuguesa, os governantes reproduzem a lógica da exclusão que separa ricos e pobres desde os tempos mais remotos no país, dificultando o acesso dos jovens ao ensino. “Tenho alunos que não conseguem frequentar assiduamente a escola por não ter o RioCard. Existe uma burocracia que muitas vezes as famílias mais carentes não conseguem compreender”, afirma a docente, que atua na rede municipal do Rio de Janeiro e em uma escola estadual, em Niterói. “Pagamos caro pelo transporte e ainda revertemos parte do nosso salário em impostos – o que já seria o suficiente para custear o deslocamento dos estudantes para a escola”, avalia ao criticar a decisão da Seeduc, lembrando ainda a falta de regularidade no pagamento dos salários dos servidores e dos aposentados do Estado do RJ.

Também com longa experiência no magistério, a professora Sicleidi Valente afirma que suspender a gratuidade da passagem para alunos irem a escola é uma ação nefasta. “Muitos de nossos alunos não estudam em escolas próximas à sua residência. E sem a gratuidade do transporte não conseguirão ir à escola com a regularidade devida”, diz a docente, que leciona Matemática há 18 anos na rede estadual e municipal. “No início do ano letivo, enquanto os alunos não recebem o RioCard, a frequência é muito baixa. Como eles não têm dinheiro para pagar a passagem todos os dias, eles vão em dias alternados e avisam aos professores, justificando suas faltas”, conta.

“Um aluno excelente do 9º ano, que deixou a escola municipal em que trabalho, em Benfica, foi estudar perto de sua casa, em Mesquita. Entretanto, depois de feita sua transferência, ele pediu para retornar para a antiga escola. Durante todo o mês estudando em escola perto de casa, ele não teve professor de Matemática, Português, Geografia e História. Ele prefere acordar de madrugada e ter aula. Mas, sem a gratuidade da passagem ele terá que ‘frequentar’ a escola que não tem professores”, problematiza Sicleidi, evidenciando que o desmonte da educação pública no Rio de Janeiro tem raízes mais profundas do que o preço do transporte escolar.