Abr
28
2017

Greve contra as reformas mobiliza o país e enfrenta governo, empresários e mídia

Na véspera, Jornal Nacional nem sequer mencionou a greve que mobilizou o país nesta sexta-feira (28); movimento expõe enorme impopularidade de Temer e os projetos que tenta aprovar

DA REDAÇÃO DA ADUFF

A greve geral mobilizou as ruas e as atenções do Brasil nesta sexta-feira, dia 28 de abril. Mas foi ignorada na véspera pelo jornal de maior audiência do país, o que pode ser um termômetro do possível impacto político do protesto.

A edição do “Jornal Nacional”, da TV Globo, na noite de quinta-feira (27), simplesmente não mencionou que uma greve geral estava sendo convocada por nove centrais sindicais para o dia seguinte. E que boa parte das capitais do país amanheceriam sem ônibus na manhã seguinte.

Vinte e oito anos após a última greve geral que parou o país, em 1989, os protestos desta sexta têm como marca o bloqueio de estradas e vias, a paralisação dos transportes em muitas cidades e uma ampla adesão de setores públicos – embora também tenha a participação expressiva de categorias da economia privada, cuja extensão ainda é prematuro para ser avaliada.

Mas talvez a característica mais marcante seja o fato de, como poucas vezes se viu na história nacional, a ideia de parar tudo contra os projetos que podem eliminar um volume inédito de direitos sociais e trabalhistas se alastrou, ganhou peso e apoio popular. Há uma tentativa do governo Michel Temer de rebaixar a importância das manifestações.

O titular da Justiça se apressou em declarar que o que viu foi muita bagunça e baderna. Mas o resultado imediato do pós-28 de abril, ainda em curso, tende a ser uma ação ainda mais intensa do governo em tentar acelerar as votações no Congresso – o que só pode fazer quando tiver segurança em vencê-las. O governo sabe que o tempo é inimigo das reformas. Com tamanha impopularidade, de Temer e dos projetos, será difícil aprovar as reformas se isso se estender por muitos meses e se aproximar das eleições de 2018.

Aos movimentos sindicais e sociais, provavelmente restará, após essa jornada nacional de protestos e de greve, conseguir articular um calendário que dê continuidade à campanha e que detenha a fúria do governo e dos empresários em busca do que talvez seja a maior retirada de direitos da história do país. Entra-se num momento decisivo e sabe-se que a unidade dos setores que se opõem às reformas é tênue, precisa ser regada e cuidada.

Por outro lado, a impopularidade gigantesca das reformas e do chefe da nação já são por demais evidentes. Tanto que o principal jornal da rede de televisão comercial aberta optou por negar a existência dos protestos. O problema é que eles existem, repercutem e entram nas casas das pessoas, mesmo que não sejam televisionados.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

Foto: Pela manhã, manifestantes interditaram o tráfego na Ponte Rio-Niterói, dando visibilidade às primeiras ações nesse dia nacional de Greve Geral