Abr
17
2017

"Bonecas Quebradas" foi apresentada à comunidade da UFF

Atividade encerrou homenagens às lutas feministas; roda de samba garantiu confraternização entre espectadores

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Texto: Lara Abib
Fotos: Luiz Fernando Nabuco

Idealizada por Lígia Tourinho e Luciana Mitkiewicz, a peça "Bonecas Quebradas" foi exibida numa versão reduzida, na noite de quarta-feira (12) - véspera de feriado -, no auditório do Instituo de Matemática, na UFF. A atividade promovida pela Aduff-SSind encerrou as homenagens à luta feminista do mês de março. A peça tem como pano de fundo os assassinatos de mulheres (feminicídios) ocorridos desde a década de 1990 em Ciudad Juarez, no México. Em cena, estavam a atriz Lígia Tourinho e a responsável pela direção técnica do espetáculo, Tabatta Martins. Após a peça, aconteceu um bate-papo entre as artistas e o público. A noite terminou na sede do sindicato, com o lançamento do livro homônimo “Bonecas Quebradas – Ensaios de um processo criativo em teatro documental” e a apresentação do grupo “Flor do Samba”.

“Bonecas Quebradas é um projeto grande. Criamos um espetáculo de uma hora e meia, com três atrizes em cena, estrutura técnica enorme, três projetores, vídeo mapping, toda uma grande articulação que nem sempre consegue circular porque ele cria uma estrutura que demanda atenção e algumas especificidades. Começamos a entender que a gente não iria conseguir levar o espetáculo para todos os lugares, mas que a gente tinha o desejo de circular com esse trabalho. A partir dele, a gente começou a experimentar algumas sínteses. A apresentação de hoje é uma delas”, explicou Lígia Tourinho, que agradeceu o convite e a “insistência da Aduff” de trazer o trabalho para a UFF. “Para nós é super importante vir para a universidade. A universidade é um dos poucos lugares que está a serviço das pessoas e investe nelas, por isso é muito especial estar aqui e trazer esse trabalho pra vocês”, ressaltou Lígia, que também é professora da UFRJ nos cursos de Dança e Direção Teatral.

No debate, a professora da Faculdade de Educação, Eliane Arenas parabenizou a iniciativa da Aduff-SSind e as realizadoras da peça. “É um tema necessário e muito grave que, infelizmente, ainda é pouco discutido, em especial entre nós mesmas. Como o próprio espetáculo apresenta, se em Juarez uma mulher é assassinada a cada três horas, aqui no Brasil um feminicídio acontece a cada uma hora e meia. Já vivemos na Faculdade de Educação situações em que professoras problematizaram as roupas das estudantes, a forma como se sentam, como se comportam. É assustador como o machismo e o discurso de culpabilização das mulheres ainda está muito arraigado entre nós”, disse. A também professora da Faculdade de Educação e vice-presidente da Aduff-SSind, Gelta Xavier ressaltou o potencial da arte de fazer críticas e trazer reflexões sobre o mundo em que vivemos. “A emoção que a peça traz consigo me faz acreditar na importância da arte na crítica da nossa realidade. O espetáculo nos mostra como estamos longe da emancipação. É muito duro constatar isso, principalmente por ser uma pessoa mais velha. Me fez pensar quanta luta ainda temos para realizar”, ressaltou.

De acordo com Lígia Tourinho, antes de produzir a peça ela tinha uma compreensão muito restrita da violência contra a mulher, que, segundo ela, envolvia a dimensão da esfera doméstica, de como são criados homens e mulheres e como essas relações ‘ultrapassam a esfera microafetiva e vão parar na macro’. “No meio desse processo, me dei conta de que é muito pior que isso. O corpo de mulher é uma arma de guerra. E não é só essa arma de guerra óbvia, onde os soldados estupram as mulheres, as fecundam e dissolvem uma etnia. Existem anunciações nessas histórias de feminicídio e de como o corpo da mulher, das crianças e dos idosos são colocados como corpos mais frágeis e ali são depositados anúncios de violência, através do qual se estabelecem marcas de quem manda em determinado território. Quando uma menina é estuprada por não sei quantos homens na Zona Oeste do Rio de Janeiro e isso é publicado no twitter, aquilo ali é uma arma de guerra, é demonstração de força, é marcação de território”, finalizou.