Mar
20
2017

Professora agredida por Guarda Municipal pede investigação do caso e denuncia situação de calamidade na saúde pública do Rio de Janeiro

Mônica Lima passou quatro dias em sala superlotada, no Hospital Souza Aguiar, antes de ser encaminhada para a enfermaria da Ortopedia, para realizar cirurgia na perna. Ela teve a fíbula e a tíbia fraturadas após ser agredida por guardas municipais, nas proximidades da Central do Brasil , em ato contra a reforma da Previdência, no dia 15 de março

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Na noite deste domingo (19), quatro dias após ser covardemente agredida por guardas municipais, na dispersão do ato contra a reforma da Previdência, realizado no dia 15 de março, no Rio de Janeiro, a professora da rede estadual e ativista da Aldeia Maracanã, Mônica Lima, utilizou as redes sociais para informar que finalmente havia sido encaminhada da sala amarela do Hospital Souza Aguiar (onde ficam os pacientes de média gravidade) para a e enfermaria da Ortopedia do hospital, onde se prepara para realizar cirurgia na perna. A agressão foi flagrada pelo fotógrafo da Aduff-SSind, Luiz Fernando Nabuco, que cobria o ato.

"Tudo está mais tranquilo, mas não esqueço a sala verde [onde os pacientes passam por triagem]. Ficou na alma, ficou o compromisso e a identidade com o sofrimento daquelas pessoas. Pois o sistema é cruel e os exclui... os mata", escreveu a professora em seu perfil pessoal. No dia 16, Mônica gravou um vídeo relatando as condições precárias e difíceis que testemunhara no Souza Aguiar, enquanto esperava pela realização da cirurgia.

"Estamos sendo tratados como se fôssemos cachorros. Aqui mesmo do lado tem um paciente no chão. Eu passei a noite [ do dia 15 para o dia 16] pelos corredores. Aqui nessa sala tem mais de 30 pessoas, deve estar próximo das 40 e só tem uma enfermeira. A noite foi bastante movimentada, aconteceram absurdos e uma única enfermeira sozinha trabalhando com esse número de pessoas precisando de assistência médica. Eu tô aqui até agora, na expectativa de realizar uma cirurgia séria (...), aguardando um ortopedista. Os que estão na Casa, a maioria está no centro cirúrgico, falta profissional fazendo outras cirurgias de emergência. Deveria estar tomando antibiótico e nem isso, nem o medicamento de hoje foi prescrito ainda porque não foi possível que nenhum médico ortopedista viesse me atender. Nós estamos nessa situação de abandono, essa é a nossa situação (...) da população do Rio de Janeiro e da saúde no Rio com as OS", disse em vídeo publicado na sexta-feira (17), nas redes sociais, pelo coletivo de mídia independente Rio na Rua.

Mônica também fez um relato da agressão sofrida no dia 15. "Estava indo embora do ato, estava doente com crise de asma e já me encaminhando para pegar o trem quando começaram as bombas da Guarda Municipal". Encurralada, ela conta que se escondeu atrás das árvores, nos arredores do Campo de Santana, no Centro do Rio, colocou o casaco e a máscara para se proteger da fumaça. "Peguei meu celular e comecei a filmar, que era o que eu estava fazendo antes na manifestação, junto com professores e amigos. Aí essa patrulha, esse guarda, esse monstro, esse homem veio me agredir, dizendo que eu estava com um cartaz símbolo do black bloc. Ele já chegou me batendo e eu nem esperava. Por isso não corri, não fiz nada", contou.

No vídeo e nas postagens em sua rede social, a professora denuncia a violência do Estado e exige que o caso seja "muito bem averiguado". "Além da violência desse estado assassino, eu queria denunciar também a situação de calamidade que a gente está vivendo num hospital público. Isso nao é humano, é desumano. Que eu possa me recuperar, voltar à minha luta, à minha vida. Vai levar um tempinho, mas a luta é maior. Tô firme, segurando a onda, forte, e em breve estarei boa novamente. Isso não pode ficar assim impune, até porque eu não sou a única agredida, todos nós estamos sendo agredidos por essa política de estado", finalizou.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Lara Abib/ Foto: Luiz Fernando Nabuco