Fev
20
2017

Com Alerj cercada e sob protestos, Pezão e Temer aprovam privatizar água do Rio

A autorização para privatizar Cedae é parte do pacote de medidas que atacam os serviços públicos oferecidos à população negociado por Pezão com o presidente Temer. Protesto continua na av. Presidente Vargas.

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Não houve debate. A votação foi sumária. Nada que se refira à política que será adotada para a questão hídrica do estado foi analisado. A Assembleia Legislativa do Rio de janeiro aprovou, no início da tarde desta segunda-feira (20), a privatização da companhia de água e esgoto estatal (Cedae) por 41 votos a favor e frente a 28 contra.

O presidente da Alerj, Jorge Picciani, não permitiu o debate prévio em plenário, não aceitou emendas e levou a matéria da reunião de líderes direto para a votação sumária dos parlamentares, transcorrida logo após a indicação de voto das lideranças. O deputado estadual Flávio Serafini, do Psol, criticou o governo por não aceitar emendas e por votar a privatização sem sequer “dizer qual será o modelo” a ser adotado. “Nem parece que a água é um bem fundamental pra vida humana e nem parece que este governador era o vice de [Sérgio] Cabral, que responde a 184 denúncias por corrupção e lavagem de dinheiro”, postou nas redes sociais.

Do lado de fora, com a Alerj cercada por grades e tropas policiais federais (Força Nacional) e estaduais (PM), servidores e trabalhadores da Cedae fazem mais um protesto contra a medida e as demais propostas do pacote de projetos que integram o 'ajuste fiscal' negociado entre o governador Luiz Fernando Pezão e o presidente Michel Temer. Todos os dois, além de Picciani, envolvidos em denúncias de corrupção em processos em andamento no Ministério Público e na Justiça. "Não achava que tivessem tantos covardes aqui na Alerj. Infelizmente, a gente sai com um sentimento de perda, mas não de derrota", disse Jaime Henrique, diretor do sindicato da categoria (Sintsama), ao afirmar que a luta contra a concretização da venda da estatal vai continuar.

A Cedae é uma estatal que dá lucro. Trabalhadores da empresa afirmam que haverá aumentos substanciais nas contas de água caso a privatização seja concretizada. O que se votou na assembleia foi a autorização para que o governador ofereça a empresa como garantia para um empréstimo do governo federal – que fica livre para colocá-la à venda, o que a intenção e objetivo declarado de ambos os governos.

Entre os ativos da Cedae, está a Estação de Tratamento do Guandu, que produz 3,5 bilhões de litros por dia e é apontada como a maior estação de tratamento do mundo. O aumento nos preços das tarifas – assim como ocorreu com a luz elétrica quando das privatizações da Light e da Ampla – é considerado certo. O empréstimo prometido pelo governo federal, de R$ 3,5 bilhões, paga apenas um mês de folha do funcionalismo estadual.

O protesto iniciado em frente à Alerj, pela manhã, prosseguia às 13h30min desta segunda (20) na av. Presidente Vargas, em passeata que se dirigia à Cidade Nova, onde fica a sede da Cedae. Quatro faixas da pista no sentido Zona Norte estão interditadas. Novos atos devem ser convocados ao longo da semana.

fotos: Manifestação contra a privatização da Cedae e o pacote de 'ajuste' de Pezão e Temer - crédito: Luiz Fernando Nabuco